Segue entrevista feita pelo meu amigo Victor Fontana com Brian McLaren que aconteceu no começo desse ano. Voce pode encontrar a entrevista na integra aqui: Saindo de Pauta. Ah, o blog anda desatualizado pois como ele me contou nesse sabado no Passion São Paulo, as próxima entrevistas além de terem que sairem de pauta também precisam sair do papel, rs.
Saindo da Pauta: Brian, quando se fala em igreja emergente, seu nome é um dos primeiros a aparecer na cabeça de muitos. Fale do seu papel na formação das conversas emergentes.
Brian McLaren: No começo dos anos 1990′s nos EUA, muitos líderes de igrejas começaram a reconhecer uma tendência: jovens adultos estavam abandonando a igreja – e não apenas aquelas “fora da moda” ou tradicionais, mas também as igrejas mais “contemporâneas” pautadas pelo movimento carismático e desenvolvimentos similares entre os anos 1960 e 1990. Num primeiro momento, identificaram o problema como uma questão de gerações: “A Geração X é diferente dos Baby Boomers”, alegavam. E houve uma série de conferências e livros escritos sobre o ministério com a Geração X. Mas as próprias pessoas da Geração X foram além: “Não, isto é mais profundo do que um conflito de gerações. Trata-se da transição de um mundo moderno para o pós-moderno, assim como a Reforma Protestante foi a transição de um cristianismo medieval para uma fé cristã moderna.”
Eu me sensibilizei com estas questões no final dos anos 1970, quando estava pesquisando para meu mestrado em literatura, porque a filosofia pós-moderna veio ao mundo intelectual norte-americano em grande parte por meio da crítica literária. Eu percebi que as pessoas estavam levantando um novo leque de questões e críticas, e o tipo de apologética que levara pessoas à fé nas décadas de 1960 e 1970 estava começando a criar nas pessoas aversão à fé. Eu ajudei a plantar uma igreja nos anos 1980 e, no início da década de 1990, já estava claro que o ethos pós-moderno que eu encontrara na universidade já havia descido às ruas. Então, fiquei maravilhado quando encontrei outros cristãos que entendiam a mudança profunda pela qual passávamos, e iniciamos o nosso diálogo.
SdP: No ápice disto, você lançou seu primeiro livro The Church on the Other Side: Doing Ministry in the Postmodern Matrix. Houve mudanças significativas na Igreja desde então? Os cristãos estão começando a pensar na pós-modernidade?
Brian: É difícil de acreditar que faz apenas 11 anos que este livro foi lançado. Eu nunca iria imaginar que uma década depois haveria tanta gente de tantas denominações cristãs dispostas a pensar o evangelho e a missão em novas perspectivas. Claro, o oposto era mais previsível. Ou seja, que mais pessoas teriam medo destes novos desafios e os veriam como pura ameaça e perigo, com poucas chances de aprender e crescer com eles. Essa, claro, é a maneira como a mudança sempre chegou à igreja e a qualquer comunidade: algumas pessoas a abraçam e promovem, algumas resistem e repudiam, enquanto muitas, talvez a maioria, nem percebem que a mudança está acontecendo.
SdP: No fundo, parte da resistência aconteceu porque a discussão extrapolou as questões de eclesiologia.
Brian: As conversas começaram basicamente falando de igreja – adoração e estilos de pregação, evangelismo, este tipo de coisa. Em pouco tempo percebemos que a coisa não era tão simples. Não era traduzir o evangelho que aprendemos para um contexto pós-moderno. Precisávamos encarar o fato de que o evangelho que herdamos já havia tomado a forma da cultura moderna – um contexto caracterizado pelo racionalismo, individualismo, consumo e, talvez mais do que tudo, colonialismo. Assim, ele já estava distorcido em algum nível. Assim, não tínhamos que pensar apenas em eclesiologia e missiologia. Tínhamos trabalho teológico e filosófico pela frente. Isto deu vazão a uma década inteira de conversações que ainda estão em fase embrionária, penso eu. Eu me empolgo e tenho esperanças hoje, ainda que no começo fosse intimidador e, às vezes até assustador.
SdP: Nos primeiros capítulos de Uma Ortodoxia Generosa (Editora Palavra), você apresenta diferentes entendimentos sobre Jesus. Entender Jesus e sua missão de maneira superficial ou equivocada implica em eclesiologia e missiologia incompletas ou equivocadas?
Brian: Eu penso que tudo começa com o nosso entendimento a respeito de Jesus. Se tentarmos colocar Jesus dentro de um ideário colonialista, ou consumista, ou religioso, ou racionalista, teremos um entendimento distorcido ou reducionista a respeito de Jesus. E se acreditamos que ele é a “plenitude de Deus encarnada” e “a imagem do Deus invisível”. Então um entendimento desequilibrado de Jesus distorcerá nosso entendimento de Deus, o que nos lançará ao mundo com um corpo de ideias perigosamente equivocado. Foi assim que, olhando para trás, cristãos europeus chegaram à América Latina como conquistadores, e como eles colonizaram a América do Norte como assassinos do povo nativo e opressores dos escravos africanos, tudo “em nome de Jesus.” É de dar medo pensar que coisas assim puderam acontecer, mas foi assim, e precisamos encarar os fatos se quisermos que não se repita no futuro.
SdP: Neste sentido, quais questões você sente que o cristianismo tem negligenciado e deveriam ser mais discutidos? O que está fora da pauta?
Brian: Bom, certamente isto varia de um lugar para outro. No meu país (EUA), são questões como: imperialismo, militarismo, racismo, distribuição de renda e cuidado com o meio ambiente. Ao redor do mundo, em diferentes níveis, cristãos precisam pensar na maneira como eles se relacionam com pessoas de outras religiões e que não querem se tornar cristãos. Eu nunca estive no Brasil, então fico inseguro em falar sobre o que precisa ser discutido, mas pelas minhas viagens para a América Latina, sei que os cristãos precisam de uma resposta mais robusta à pobreza do que a famosa teologia da prosperidade.
SdP: Você vê o movimento de Lausanne com olhos otimistas em relação a essas questões?
Brian: Sim, bastante. Eu não sei exatamente em que estágio o movimento de Lausanne se encontra hoje, mas lembro de ter ficado extático, nos anos 1970, em ouvir que alguns líderes evangélicos estavam discutindo justiça social. No meu próximo livro, que deve ser lançado ainda em 2010, sugiro que o que precisamos neste momento é menos uma lista de afirmações ou teses e mais uma lista de perguntas… Perguntas sobre as quais nós possamos nos comprometer a ter uma sábia, vagarosa e respeitosa conversa. Eu penso que o Pacto de Lausanne tocou em algumas dessas questões trinta anos atrás.
SdP: Um dos principais pontos no pensamento emergente é convidar mais pessoas para a conversa. Como fazemos isso com conceitos tão complexos, especialmente na América Latina, onde muitos nem sequer têm acesso a alfabetização? Você não teme que a conversa emergente se torne um diálogo de elites?
Brian: Penso que esta é uma excelente pergunta. A Igreja existe em muitos níveis diferentes. Existem acadêmicos e intelectuais brilhantes na igreja. Há pessoas desesperadamente necessitadas e iletradas na igreja. E há muitas pessoas em muitos níveis educacionais no meio destes extremos. Eu tive o privilégio de participar de conversas com os mais cultos e também os menos e, embora cada grupo interaja com diferentes vocabulários, diferentes ideias, e diferentes desafios, nós todos vivemos no mesmo mundo, e precisamos encarar os mesmos problemas. Obviamente, algumas dimensões deste diálogo aconteceram em meio e pessoas letradas, que têm acesso a livros e Internet, mas a conversa também está acontecendo em meio a pessoas menos educadas… Só que é o tipo de diálogo que acontece em pessoa, ao redor de um fogão, ou ao longo de uma estrada empoeirada, ou dentro de um ônibus, e então ficam escondidos do resto do mundo. Não são publicados num livro, postados num blog ou gravados em documentário – pelo menos não ainda.
Então, no ultimo mês de janeiro eu estava numa pequena vila nas montanhas na Costa Rica onde a espetacular “La Red del Camino” trazia pastores para o diálogo, muitos deles pobres, com pouca educação quando comparados a nós e sem acesso a uma editora que os publicasse. Fiquei muito impressionado com a inteligência e sabedoria presente naquelas conversas. Eu vi o mesmo acontecer no Burundi, Ruanda, Quênia, África do Sul, na República Dominicana e em muitos outros lugares. Será muito importante para aqueles de nós com muita educação parar para ouvir e aprender do outro lado das conversações ao redor do mundo, porque embora os muito educados tenham muito a oferecer para aqueles que vivem em pobreza, aqueles que vivem na miséria têm ainda mais, eu acredito, que podemos aprender se tivermos ouvidos para ouvir e olhos para ver. Riqueza traz muitas desvantagens… Como Jesus disse com tanta frequência.
SdP: Em todas estas conversas, quais têm sido os desafios que você tem identificado para comunicar o Evangelho numa cultura pós-moderna?
Brian: O primeiro e maior desafio não está propriamente ligado ao mundo pós-moderno, mas com a modernidade: nós que somos comissionados a carregar o Evangelho com frequência não temos uma visão clara sobre o que ele é! Como resultado, nem nossas palavras, nem nossos atos levam o evangelho que Jesus ensinou da maneira como Jesus ensinou. Ao invés do radical evangelho do Reino que transforma o mundo, proposto por Cristo – e que Jesus disse que está disponível agora, e que nos chama a um arrependimento profundo e a uma necessidade de sermos crianças para aprender de uma nova maneira – ensinamos um evangelho de escapismo, ou de mística e prosperidade, ou de realização pessoal, ou de medo, ou de bênçãos exclusivas para uma pequena elite. Esse é o problema mais significativo na minha cabeça: que antes de chegarmos ao momento pós-moderno, nós já cortamos e editamos o evangelho para que ele coubesse em moldes medievais e depois modernos e coloniais.
Mas num contexto pós-moderno nós temos, de fato, desafios adicionais. Para a maioria das pessoas pós-modernas, a fé cristã parece ser uma religião falida. Eles enxergam os cristãos como pessoas sem respostas para os próprios problemas e que se preocupam em jogar a culpa disto nos outros. Então precisamos estar no mundo a divulgar as boas novas – não o cristianismo, mas Jesus. E precisamos fazer isso não aos berros e nervosos, mas humildemente, sabedores das nossas falhas como cristãos.
SdP: Para acabar, quais pensadores cristão mais te influenciaram?
Brian: Curiosamente, um dos teólogos, que mais me influenciou nos últimos anos é brasileiro. Leonardo Boff. Seu livro Grito da Terra, Grito dos Pobres é, na minha opinião, uma obra-prima, e me ajudou a escrever o meu livro “Everything Must Change”. Também fui profundamente influenciado por outro teólogo latino-americano, Rene Padilla. Os missiólogos David Bosch, Lesslie Newbigin, e Vincent Donovan também me influenciaram nos últimos 20 anos. Na minha juventude, Francis Schaeffer e C. S. Lewis foram tremendos, além do católico Walker Percy. Hoje, Eu percebo que Schaeffer, especificamente, trabalhava num contexto muito limitado, mas estava comprometido com grandes questões, e eu serei sempre grato por isso. Indo mais longe na história, fui muito influenciado pelos poetas do romantismo, Martinho Lutero, por São Francisco, pelos Celtas, por Gregório de Nissa. Claro, muitos outros também, porque adoro ler e fico mais curioso conforme estou ficando mais velho. É só por isso que espero ter uma longa vida – porque o mundo criado por Deus é tão fascinante e há tanta coisa para aprender e para pensar, procurar, descobrir. Todo dia é uma grande nova oportunidade para abrirmos nossos olhos e corações para a verdade que o Espírito de Deus pode nos ensinar.
A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva
Saindo da Pauta: Brian, quando se fala em igreja emergente, seu nome é um dos primeiros a aparecer na cabeça de muitos. Fale do seu papel na formação das conversas emergentes.
Brian McLaren: No começo dos anos 1990′s nos EUA, muitos líderes de igrejas começaram a reconhecer uma tendência: jovens adultos estavam abandonando a igreja – e não apenas aquelas “fora da moda” ou tradicionais, mas também as igrejas mais “contemporâneas” pautadas pelo movimento carismático e desenvolvimentos similares entre os anos 1960 e 1990. Num primeiro momento, identificaram o problema como uma questão de gerações: “A Geração X é diferente dos Baby Boomers”, alegavam. E houve uma série de conferências e livros escritos sobre o ministério com a Geração X. Mas as próprias pessoas da Geração X foram além: “Não, isto é mais profundo do que um conflito de gerações. Trata-se da transição de um mundo moderno para o pós-moderno, assim como a Reforma Protestante foi a transição de um cristianismo medieval para uma fé cristã moderna.”
Eu me sensibilizei com estas questões no final dos anos 1970, quando estava pesquisando para meu mestrado em literatura, porque a filosofia pós-moderna veio ao mundo intelectual norte-americano em grande parte por meio da crítica literária. Eu percebi que as pessoas estavam levantando um novo leque de questões e críticas, e o tipo de apologética que levara pessoas à fé nas décadas de 1960 e 1970 estava começando a criar nas pessoas aversão à fé. Eu ajudei a plantar uma igreja nos anos 1980 e, no início da década de 1990, já estava claro que o ethos pós-moderno que eu encontrara na universidade já havia descido às ruas. Então, fiquei maravilhado quando encontrei outros cristãos que entendiam a mudança profunda pela qual passávamos, e iniciamos o nosso diálogo.
SdP: No ápice disto, você lançou seu primeiro livro The Church on the Other Side: Doing Ministry in the Postmodern Matrix. Houve mudanças significativas na Igreja desde então? Os cristãos estão começando a pensar na pós-modernidade?
Brian: É difícil de acreditar que faz apenas 11 anos que este livro foi lançado. Eu nunca iria imaginar que uma década depois haveria tanta gente de tantas denominações cristãs dispostas a pensar o evangelho e a missão em novas perspectivas. Claro, o oposto era mais previsível. Ou seja, que mais pessoas teriam medo destes novos desafios e os veriam como pura ameaça e perigo, com poucas chances de aprender e crescer com eles. Essa, claro, é a maneira como a mudança sempre chegou à igreja e a qualquer comunidade: algumas pessoas a abraçam e promovem, algumas resistem e repudiam, enquanto muitas, talvez a maioria, nem percebem que a mudança está acontecendo.
SdP: No fundo, parte da resistência aconteceu porque a discussão extrapolou as questões de eclesiologia.
Brian: As conversas começaram basicamente falando de igreja – adoração e estilos de pregação, evangelismo, este tipo de coisa. Em pouco tempo percebemos que a coisa não era tão simples. Não era traduzir o evangelho que aprendemos para um contexto pós-moderno. Precisávamos encarar o fato de que o evangelho que herdamos já havia tomado a forma da cultura moderna – um contexto caracterizado pelo racionalismo, individualismo, consumo e, talvez mais do que tudo, colonialismo. Assim, ele já estava distorcido em algum nível. Assim, não tínhamos que pensar apenas em eclesiologia e missiologia. Tínhamos trabalho teológico e filosófico pela frente. Isto deu vazão a uma década inteira de conversações que ainda estão em fase embrionária, penso eu. Eu me empolgo e tenho esperanças hoje, ainda que no começo fosse intimidador e, às vezes até assustador.
SdP: Nos primeiros capítulos de Uma Ortodoxia Generosa (Editora Palavra), você apresenta diferentes entendimentos sobre Jesus. Entender Jesus e sua missão de maneira superficial ou equivocada implica em eclesiologia e missiologia incompletas ou equivocadas?
Brian: Eu penso que tudo começa com o nosso entendimento a respeito de Jesus. Se tentarmos colocar Jesus dentro de um ideário colonialista, ou consumista, ou religioso, ou racionalista, teremos um entendimento distorcido ou reducionista a respeito de Jesus. E se acreditamos que ele é a “plenitude de Deus encarnada” e “a imagem do Deus invisível”. Então um entendimento desequilibrado de Jesus distorcerá nosso entendimento de Deus, o que nos lançará ao mundo com um corpo de ideias perigosamente equivocado. Foi assim que, olhando para trás, cristãos europeus chegaram à América Latina como conquistadores, e como eles colonizaram a América do Norte como assassinos do povo nativo e opressores dos escravos africanos, tudo “em nome de Jesus.” É de dar medo pensar que coisas assim puderam acontecer, mas foi assim, e precisamos encarar os fatos se quisermos que não se repita no futuro.
SdP: Neste sentido, quais questões você sente que o cristianismo tem negligenciado e deveriam ser mais discutidos? O que está fora da pauta?
Brian: Bom, certamente isto varia de um lugar para outro. No meu país (EUA), são questões como: imperialismo, militarismo, racismo, distribuição de renda e cuidado com o meio ambiente. Ao redor do mundo, em diferentes níveis, cristãos precisam pensar na maneira como eles se relacionam com pessoas de outras religiões e que não querem se tornar cristãos. Eu nunca estive no Brasil, então fico inseguro em falar sobre o que precisa ser discutido, mas pelas minhas viagens para a América Latina, sei que os cristãos precisam de uma resposta mais robusta à pobreza do que a famosa teologia da prosperidade.
SdP: Você vê o movimento de Lausanne com olhos otimistas em relação a essas questões?
Brian: Sim, bastante. Eu não sei exatamente em que estágio o movimento de Lausanne se encontra hoje, mas lembro de ter ficado extático, nos anos 1970, em ouvir que alguns líderes evangélicos estavam discutindo justiça social. No meu próximo livro, que deve ser lançado ainda em 2010, sugiro que o que precisamos neste momento é menos uma lista de afirmações ou teses e mais uma lista de perguntas… Perguntas sobre as quais nós possamos nos comprometer a ter uma sábia, vagarosa e respeitosa conversa. Eu penso que o Pacto de Lausanne tocou em algumas dessas questões trinta anos atrás.
SdP: Um dos principais pontos no pensamento emergente é convidar mais pessoas para a conversa. Como fazemos isso com conceitos tão complexos, especialmente na América Latina, onde muitos nem sequer têm acesso a alfabetização? Você não teme que a conversa emergente se torne um diálogo de elites?
Brian: Penso que esta é uma excelente pergunta. A Igreja existe em muitos níveis diferentes. Existem acadêmicos e intelectuais brilhantes na igreja. Há pessoas desesperadamente necessitadas e iletradas na igreja. E há muitas pessoas em muitos níveis educacionais no meio destes extremos. Eu tive o privilégio de participar de conversas com os mais cultos e também os menos e, embora cada grupo interaja com diferentes vocabulários, diferentes ideias, e diferentes desafios, nós todos vivemos no mesmo mundo, e precisamos encarar os mesmos problemas. Obviamente, algumas dimensões deste diálogo aconteceram em meio e pessoas letradas, que têm acesso a livros e Internet, mas a conversa também está acontecendo em meio a pessoas menos educadas… Só que é o tipo de diálogo que acontece em pessoa, ao redor de um fogão, ou ao longo de uma estrada empoeirada, ou dentro de um ônibus, e então ficam escondidos do resto do mundo. Não são publicados num livro, postados num blog ou gravados em documentário – pelo menos não ainda.
Então, no ultimo mês de janeiro eu estava numa pequena vila nas montanhas na Costa Rica onde a espetacular “La Red del Camino” trazia pastores para o diálogo, muitos deles pobres, com pouca educação quando comparados a nós e sem acesso a uma editora que os publicasse. Fiquei muito impressionado com a inteligência e sabedoria presente naquelas conversas. Eu vi o mesmo acontecer no Burundi, Ruanda, Quênia, África do Sul, na República Dominicana e em muitos outros lugares. Será muito importante para aqueles de nós com muita educação parar para ouvir e aprender do outro lado das conversações ao redor do mundo, porque embora os muito educados tenham muito a oferecer para aqueles que vivem em pobreza, aqueles que vivem na miséria têm ainda mais, eu acredito, que podemos aprender se tivermos ouvidos para ouvir e olhos para ver. Riqueza traz muitas desvantagens… Como Jesus disse com tanta frequência.
SdP: Em todas estas conversas, quais têm sido os desafios que você tem identificado para comunicar o Evangelho numa cultura pós-moderna?
Brian: O primeiro e maior desafio não está propriamente ligado ao mundo pós-moderno, mas com a modernidade: nós que somos comissionados a carregar o Evangelho com frequência não temos uma visão clara sobre o que ele é! Como resultado, nem nossas palavras, nem nossos atos levam o evangelho que Jesus ensinou da maneira como Jesus ensinou. Ao invés do radical evangelho do Reino que transforma o mundo, proposto por Cristo – e que Jesus disse que está disponível agora, e que nos chama a um arrependimento profundo e a uma necessidade de sermos crianças para aprender de uma nova maneira – ensinamos um evangelho de escapismo, ou de mística e prosperidade, ou de realização pessoal, ou de medo, ou de bênçãos exclusivas para uma pequena elite. Esse é o problema mais significativo na minha cabeça: que antes de chegarmos ao momento pós-moderno, nós já cortamos e editamos o evangelho para que ele coubesse em moldes medievais e depois modernos e coloniais.
Mas num contexto pós-moderno nós temos, de fato, desafios adicionais. Para a maioria das pessoas pós-modernas, a fé cristã parece ser uma religião falida. Eles enxergam os cristãos como pessoas sem respostas para os próprios problemas e que se preocupam em jogar a culpa disto nos outros. Então precisamos estar no mundo a divulgar as boas novas – não o cristianismo, mas Jesus. E precisamos fazer isso não aos berros e nervosos, mas humildemente, sabedores das nossas falhas como cristãos.
SdP: Para acabar, quais pensadores cristão mais te influenciaram?
Brian: Curiosamente, um dos teólogos, que mais me influenciou nos últimos anos é brasileiro. Leonardo Boff. Seu livro Grito da Terra, Grito dos Pobres é, na minha opinião, uma obra-prima, e me ajudou a escrever o meu livro “Everything Must Change”. Também fui profundamente influenciado por outro teólogo latino-americano, Rene Padilla. Os missiólogos David Bosch, Lesslie Newbigin, e Vincent Donovan também me influenciaram nos últimos 20 anos. Na minha juventude, Francis Schaeffer e C. S. Lewis foram tremendos, além do católico Walker Percy. Hoje, Eu percebo que Schaeffer, especificamente, trabalhava num contexto muito limitado, mas estava comprometido com grandes questões, e eu serei sempre grato por isso. Indo mais longe na história, fui muito influenciado pelos poetas do romantismo, Martinho Lutero, por São Francisco, pelos Celtas, por Gregório de Nissa. Claro, muitos outros também, porque adoro ler e fico mais curioso conforme estou ficando mais velho. É só por isso que espero ter uma longa vida – porque o mundo criado por Deus é tão fascinante e há tanta coisa para aprender e para pensar, procurar, descobrir. Todo dia é uma grande nova oportunidade para abrirmos nossos olhos e corações para a verdade que o Espírito de Deus pode nos ensinar.
A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva
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