terça-feira, 9 de setembro de 2008

O Evangelho da Graça

Passava das 23h30 quando entrei naquele táxi forrado de adesivos com mensagens bíblicas. Após orientar a respeito do meu destino, perguntei: “Onde o irmão congrega?” Feitos os esclarecimentos iniciais, logo percebi que estava sendo evangelizado pelo motorista, entusiasmado com sua doutrina. Sua declaração de fé era muito simples e, aliás, muito bem articulada em três frases curtas: “Deus abençoa quem se sacrifica; Deus honra quem persevera; e Deus abomina quem retrocede”.

Fiquei impressionado, e logo me aventurei a perguntar como aquilo funcionava no dia-a-dia. As respostas estavam na ponta da língua: “Quando o ser quer receber uma graça de Deus tem de dar alguma coisa em troca”. Imaginei que isso explica a primeira parte, Deus abençoa quem se sacrifica. Fui esclarecido de que o tamanho da benção depende do tamanho do sacrifício. Onde aparece “sacrifício”, leia-se “oferta financeira na corrente de fé”, que dura quarenta noites, o mesmo tempo que Jesus passou no deserto.

“Agora, se o senhor não receber a graça durante o tempo da corrente, não deve desanimar”. Está é a aplicação da segunda parte, Deus honra quem persevera, pensei. “Mas, olha, o senhor não pode faltar nenhuma noite, nem desistir no meio da corrente, senão tem de começar tudo de novo.” Isso completa a declaração de fé: Deus abomina quem retrocede.

Antes de descer do táxi, convicto de que o Espírito de Deus é o único capaz de guiar a toda a verdade (João 16.13), resumi o Evangelho da Graça de Deus em duas noticias, uma boa e outra ruim. Contei primeiro a pior das noticias: o pecado faz separação entre Deus e os homens, e ninguém pode fazer nada para conquistar o favor de Deus, Em seguida apresentei a boa noticia, a melhor delas: o sacrifício de Jesus na cruz é suficiente para que Deus nos abençoe com todas as bênçãos espirituais, pois se Deus não poupou nem mesmo seu próprio Filho, como não nos dará também com eles todas a coisas? (Romanos 8.31, 32).

Fiquei olhando o táxi sumir na escuridão da noite, imaginando o que a Palavra Viva faria no coração e na mente daquele homem durante a madrugada. Naquele noite me lembrei da história de Simão, um mágico muito respeitado que vivia na cidade de Samaria na época em que Filipe passou por lá pregando o Evangelho do Reino de Deus. Simão ficou impressionado, abraçou a fé e “foi batizado, e seguia por toda parte, observando maravilhado com os grandes sinais e milagres que eram realizados” (Atos 8.9 -13).

Simão podia facilmente ser confundido com um cristão: creu, foi batizado, foi discipulado e conviveu no ambiente das manifestações poderosas de Deus. Aliais, para quem olha de relance, Simão é cristão. Mas a história não termina aí. Lucas, o evangelista, conta que, quando Pedro e João chegaram a Samaria para verificar se o Evangelho pregado por Filipe era o mesmo que os apóstolos pregavam em Jerusalém, impuseram as mãos sobre os convertidos e todos receberam o Espírito Santo (Atos 8.14 -17).

Simão que já estava impressionado com Filipe, foi ao delírio com a demonstração de poder pelas mãos de Pedro e João. Imediatamente ofereceu dinheiro para que Pedro e João lhe dessem daquele poder extraordinário. Naquela hora, o apóstolo Pedro foi enfático: “O teu dinheiro seja contigo para a perdição, pois julgaste adquirir por meio dele o dom de Deus” (Atos 8.18 -20). Simão não entenderá o fundamental: as bênçãos divinas são concedidas em razão da graça de Deus, e jamais pela conquista humana, pois não há nada que o homem possa fazer para merecer o favor de Deus.

A Bíblia conta a história de outros homens que também creram em Jesus, mas nem por isso se tornaram cristãos. Quando Jesus estava “em Jerusalém, na festa da Páscoa, muitos viram os sinais miraculosos que ele estava realizando e creram em seu nome. Mas Jesus não se confiava a eles, pois conhecia a todos” (João 2.23, 24). Em outras palavras, crer no poder e na autoridade do nome de Jesus não faz de ninguém cristão.

Receio que este mesmo fenômeno esteja acontecendo hoje na cristandade. As pessoas estão descobrindo que Jesus é maior do que os exus, tranca-ruas e outros bichos, e saem por aí declarando, com toda razão, que Jesus Cristo é Senhor. Mas acontece que querem se relacionar com Jesus como se relacionavam com os demônios ou santos de devoção, isto é, pela via das promessas, penitências, sacrifícios e ofertas. Acreditam que Deus abençoa a quem sacrifica, honra quem persevera e abomina quem retrocede. Julgam que poder comprar o dom de Deus e caminha para a perdição, a exemplo do pseudocrístão chamado Simão.

Seja sobre nós o Espírito de toda a verdade, e faça triunfar no Brasil o Evangelho da Graça de Deus.


Ed Rene Kivitz

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