sábado, 23 de abril de 2011

Pedro

Eu acho engraçado ver religiosos quererem posar de pessoas incrivelmente perfeitas, que não tem sombras, somente luzes. Todos nós somos feitos de sombras e luzes. Acho uma grande tolice insistir que a santidade consiste em nunca errar, nunca ser incoerente. Quem é absolutamente coerente?

Essa empáfia é desmascarada quando Jesus desafia aquele que não tem nenhum pecado a atirar a primeira pedra na mulher adúltera. Fico feliz que tenha sido naquele contexto, porque se Jesus fizesse a mesma pergunta hoje, em muitos lugares, tanto a mulher, quanto ele (Jesus) iriam levar muitas pedradas, porque o que não falta é gente achando que não tem pecado algum.

A Bíblia é um conjunto de livros que mostra o lado bom e o lado ruim de seus personagens. O que só traz mais autoridade a ela, porque não faz de seus personagens heróis sobre-humanos, ou super-humanos, mas mostra-os na plenitude de sua humanidade.

Pedro é um dos personagens mais interessantes dos Evangelhos, porque ele tem essa inconstância tão humana, essa incoerência que nos é muito próxima. Pedro tinha grandes virtudes, entretanto tinha também sérios desvios de caráter. Mas, no fim das contas, Pedro era um grande amigo de Jesus. E Jesus gostava dele mesmo sabendo quem ele era.

Pedro era um simples pescador com um desprendimento enorme, tanto que largou tudo e seguiu a Jesus assim que foi chamado. Tinha uma coragem incomum, do tipo que o fez caminhar sobre as águas ao comando do Mestre. Sua percepção sobre Jesus era clara, pois o reconhecia como o Cristo. Por outro lado, mostrou-se medroso várias vezes, intempestivo outras e, no pior momento de sua vida, de maneira covarde, negou que conhecesse Jesus.

Quem pode condenar Pedro? Também negamos a Jesus toda vez que nos recusamos a viver do modo como ele propôs. A negação acontece quando somos egoístas em vez de altruístas, avarentos em vez de generosos, quando mentidos em vez de dizer e viver a verdade. Nós O negamos quando nos recusamos a fazer algo para mudar esse mundo para melhor, quando em vez de amarmos as pessoas, usamo-las como coisas descartáveis. Negamos a Jesus quando deixamos de ser um vislumbre do Seu amor e do Seu Reino, quando não amamos as pessoas como a nós mesmos.

Pedro, mesmo depois de tudo o que viveu com Jesus, tinha seus problemas. Mesmo depois da experiência do pentecostes, ainda se viu envolto com sua dubiedade de caráter, sendo repreendido por Paulo por conta disso. Não houve uma transformação radical e repentina. A mudança é sempre gradual e fruto de uma caminhada, nunca algo que acontece com num passe de mágica.

Depois de tudo, ao redor de uma fogueira Jesus queria saber tão-somente do amor de Pedro, a santidade viria com o tempo. Jesus sabia das contradições de seu discípulo e de sua humanidade e mesmo assim o amava.

Se houve esperança para Pedro, também para mim, humano que sou, haverá.


Márcio Rosa da Silva

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