"Meus filhos, novamente estou sofrendo
dores de parto por sua causa, até que Cristo seja formado em vós..."
Gálatas 4:10
dores de parto por sua causa, até que Cristo seja formado em vós..."
Gálatas 4:10
Atualmente o mundo clama pelo crescimento espiritual de uma teologia que tem trabalhado na realidade cruel da vida diária. Infelizmente, muitos têm desistido da possibilidade de crescimento em relação à formação. Um vasto número de pessoas bem intencionadas tem se exaurido no trabalho da igreja e descoberto que isto não influencia suas vidas substancialmente. Eles descobriram que simplesmente eram impacientes, egocêntricos e medrosos quando começaram a carregar o fardo pesado do trabalho na igreja. Talvez até mais.
Outros têm submergido em múltiplos projetos de trabalhos de serviço social. Mas quando o ardor de ajudar aos outros esfriou por um tempo, eles perceberam que todos os seus esforços hercúleos deixaram poucas marcas duradouras em sua vida interior. De fato, isso os deixa mais doloridos: frustração, raiva e amargura.
Ainda existem os que possuem uma prática teológica que não permite um crescimento espiritual. De fato eles deveriam ver isto como uma coisa ruim. Havendo sido salvos pela Graça, essas pessoas têm ficado paralisadas nisso. A tentativa de qualquer progresso espiritual tem um sabor de “obras de retidão” para eles. Sua liturgia diz que eles pecam em palavras, pensamentos e atitudes diárias, então eles pensam ser esse seu destino até morrerem. O Céu é o seu único alívio nesse mundo de pecado e rebelião. Conseqüentemente, essas pessoas bem intencionadas vão sentar em seus bancos na igreja e, um ano depois vão perceber que nenhum avanço foi feito em suas vidas com Deus.
Enfim, um mal-estar geral nos toca a todos. Refiro-me ao modo como nos acostumamos completamente com a normalidade de disfunção. A constante exploração da mídia em relação aos escândalos, vidas partidas e mazelas de toda sorte nos deixa não muito mais do que simplesmente chateados. Temos que esperar um pouco mais do que isso, ao menos de nossos líderes religiosos – talvez, especialmente de nossos líderes. Esta disfunção é tão infiltrada em toda a parte que é quase impossível termos uma visão clara do progresso espiritual. Modelos exuberantes de santidade são raros hoje em dia. Ecoando através dos séculos até os dias de hoje, estão inúmeras testemunhas que nos contam sobre uma vida muito mais abundante, profunda e completa. Em qualquer posição social ou em qualquer situação da vida, eles encontraram uma vida de “retidão, paz e alegria no Espírito Santo” (Romanos 14:17). Eles descobriram que uma transformação real, sólida à imagem de Cristo, é possível.
Eles testemunham para a formação de um caráter quase espantoso. Eles têm visto suas paixões egocêntricas darem lugar a um coração abnegado e humilde, que assusta até a eles mesmos. Raiva ódio e malícia são substituídas por amor, compaixão e boa vontade total.
Há mais de 2.000 anos de registros das vidas de grandes pessoas – Agostinho, Francis, Teresa, Kempis e muitos outros que, após seguiram arduamente nos caminhos de Jesus, tornando-se pessoas com um caráter ilibado. Os registros estão aí para quem quiser ver.
Há trinta anos, quando a Celebration of Discipline (Celebração da Disciplina) foi escrita, nós enfrentamos duas grandes incumbências: a primeira é que foi preciso rever a grande discussão sobre a formação da alma; a segunda foi encarnar esta realidade nas experiências diárias na vida individual, congregacional e cultural. Francamente, nós temos tido sucesso com a primeira tarefa. Todos os tipos de cristãos agora sabem da necessidade de formação espiritual, e olha para santos católicos, ortodoxos e protestantes para guiá-los.
Mas é a segunda tarefa que precisa consumir a parte principal de nossa energia nos próximos 30 anos. Se nós não fizermos um progresso real nessas frentes, todos os nossos esforços vão evaporar e secar.
Um lembrete honesto antes de começar pra valer: a formação espiritual não é um kit de ferramentas para “consertar” a nossa cultura ou as nossas igrejas ou mesmo as vidas individualmente. Nós temos que trabalhar a formação espiritual porque este é o trabalho do Reino. Ele está bem no centro do mapa do Reino de Deus. Conseqüentemente, todos os demais problemas nós prazerosamente deixamos nas mãos de Deus.
Trabalhar o coração
Deus tem dado a cada um de nós a responsabilidade de “crescer em Graça” (II Pedro 3:18). Isto não é algo que possamos transferir para os outros. Nós temos que tomar as nossas cruzes individuais e seguir os passos do Cristo crucificado e ressurreto.
Todo trabalho de formação autêntico é “trabalhar o coração”. O coração é a fonte de toda ação humana. Todos os mestres religiosos constantemente nos chamam, quase de forma enfadonha, para que nos voltemos e purifiquemos os nossos corações. Os grandes sacerdotes Puritanos, por exemplo, mantiveram a atenção nisto. Em Mantendo o Coração, John Flavel, um puritano inglês do século 17 adverte que “a maior dificuldade na conversão é ganhar o coração para Deus; e a maior dificuldade após a conversão é manter o coração com Deus... Trabalhar o coração é um trabalho realmente difícil”.
Quando estamos trabalhando o nosso coração, as atitudes externas nunca são o centro da nossa atenção. Atitudes visíveis são o resultado natural de algo profundo, bem mais profundo.
A máxima do patriarca Actio “as atitudes seguem a essência” nos lembra que a nossa atitude está sempre em acordo com a realidade interna do nosso coração. Isto, naturalmente, não reduz as boas obras à insignificância, mas as tornam questões secundárias; efeitos, não causas. O significado principal é a nossa união vital com Deus, nossa nova criação em Cristo, nossa imersão no Espírito Santo. É essa vida que purifica o coração. Quando o ramo é perfeitamente unido à videira e recebe a sua vida da videira, o fruto espiritual é natural.
Por isso é que os filósofos éticos podiam dizer “a virtude é fácil”. Quando o coração está purificado pela ação do Espírito a coisa mais natural do mundo é a virtude. Para o puro de coração o vício é o que é difícil.
Não é uma coisa vã para nós retornarmos ao primeiro amor. É um ato de fé para pedir a Deus que sonde o nosso coração e nos tire de todo caminho mal (Salmos 139: 23,24). É um aspecto vital da salvação do Senhor.
Somos todos, cada um e todos nós, uma massa de motivos emaranhados: esperança e medo, fé e dúvidas, simplicidade e duplicidade, honestidade e falsidade, sinceridade e falsidade. Deus é o único que pode separar o verdadeiro do falso, o único que pode purificar as motivações do coração.
Mas Deus não vem sem ser convidado. Se alguns compartimentos do nosso coração nunca experimentaram o toque de cura de Deus, talvez seja porque não temos recebido bem o minucioso exame divino.
O mais importante, mais real e mais duradouro acontece nas profundezas do nosso coração. Este é um trabalho solitário e interno. Não pode ser visto por pessoa alguma, a não ser por nós mesmos. É um trabalho que somente Deus conhece. É o trabalho de purificação do coração, a conversão da alma, da transformação interior, da formação da vida.
Começa primeiro com nosso retorno à luz de Jesus. Para alguns, este é um inescrutável e lento voltar-se... voltar-se... até que nos voltemos completamente. Para outros é instantâneo e glorioso. Em ambos os casos nós estamos começando a confiar em Jesus, para aceitá-Lo como sendo a nossa Vida. Assim lemos sobre isso em João 3, somos nascidos do Céu. Nascer espiritualmente é um começo – um maravilhoso e glorioso começo. E não um final.
O trabalho de formação mais intenso é necessário antes de nos colocarmos diante do brilho do Céu. É necessário muito treinamento para sermos o tipo de pessoa segura e reinar tranqüilamente com Deus.
Então, agora nós damos início a esse novo relacionamento. Como Pedro coloca em sua primeira carta, nós “temos nascido de novo, não de uma semente perecível, mas imperecível, vivendo e permanecendo na Palavra de Deus” (I Pedro 1: 23). Deus está vivo! Jesus é real e atuante em nossas pequenas vidas.
E então nós começamos a orar, para entrar numa comunicação interativa com Deus. No principio nossa oração é intranqüila e hesitante. É uma alternação da nossa ida e volta, de nossa preocupação com a glória divina e com as tarefas mundanas de casa e do trabalho. Para trás e para frente. Para trás e para frente. E, freqüentemente, a alternância é pior – muito pior – do que absolutamente não orar. Num momento nos são reveladas glorias divinas, no momento seguinte nossas mentes estão chafurdando na concupiscência da base dos nossos desejos.
Nossas vidas são fraturadas e fragmentadas. Como Thomas Keely coloca, nós estamos vivendo em “uma luta intolerável de agitação”. Nós sentimos a força de atração de muitas obrigações e tentamos cumpri-las todas. E estamos “infelizes, intranqüilos, extenuados, oprimidos e tememos fracassar”. Mas, através do tempo e da experiência – às vezes muito tempo e muita experiência - Deus começa a nos dar um sossego surpreendente no Centro Divino. Nas profundezas do nosso ser, a alternância nos dá uma vida coesa intacta, de humilde adoração diante da viva presença de Deus.
Não se trata de êxtase, mas de serenidade, sem abalos, e firmeza de orientação da vida. Nas palavras de George Fox, nós nos tornamos homens e mulheres “estáveis”.
Nós começamos a desenvolver um hábito de orientação divina. Agora, isto não é perfeccionismo, mas o progresso de nossa vida com Deus. O trabalho interior da oração torna-se muito mais simples agora. Lentamente descobrimos pequenos reflexos de proteção celeste e os sopros de submissão são tudo o que é preciso para nos atrair para uma orientação habitual de nossos corações voltados para Deus. Mesmo sem saber nós nos habituamos com a presença de Deus. Momentos formais de oração nos ligam e aumentam a tendência de estabilidade de adoração tranqüila, que é a base dos nossos dias.
Por trás do primeiro plano da vida diária permanece a bagagem da orientação celestial. Esta é a formação de um coração diante de Deus. Para usar as palavras de Kelly, é “uma vida despreocupada de paz e poder. É simples. É sereno. É espantoso. É triunfante. É radiante. Não toma tempo algum, mas ocupa todo o nosso tempo”.
Como os novatos em Jesus estamos aprendendo, sempre aprendendo como viver bem; a amar a Deus bem; a amar nosso cônjuge bem; a criar nossos filhos bem; a amar nossos amigos e vizinhos – e até mesmo os nossos inimigos – bem. A estudar bem; a enfrentar as adversidades bem; a administrar nossos negócios e instituições financeiras bem; a formar uma vida em comunidade bem; a alcançar os marginalizados bem; e a morrer bem.
E, enquanto aprendemos como viver bem, compartilhamos com outros o que estamos aprendendo. Esta é a estrutura do amor para edificar o corpo de Cristo.
Nós não estamos sozinhos neste trabalho de reforma do coração. É imperativo que nos ajudemos uns aos outros de todas as maneiras que pudermos. E, em nossos dias, temos emergência de um exército espiritual sólido de guias espirituais treinados, que possam amorosamente estar lado a lado de pessoas preciosas, e ajudá-las a discernir como andar pela fé nas circunstâncias de suas próprias vidas.
Por favor, note que eu disse guias espirituais “treinados” e não guias espirituais “diplomados”.
Há uma idéia genuinamente ruim circulando nestes dias que, se nós tivermos um determinado numero de cursos e lermos um determinado numero de livros, estaremos prontos para sermos guias espirituais. Eu lamento; eu realmente gostaria que fosse tão simples assim. Mas não, nós estamos falando sobre treinamento de vida. E é apenas pelo treinamento da vida que veremos o desenvolvimento de um certo tipo de vida, uma vida de retidão, paz e alegria no Espírito Santo. Isto é qualidade de vida – a habilidade para perdoar quando se está machucado, o desejo de orar –, o que estamos procurando nos guias espirituais treinados.
Temos uma dificuldade real aqui porque cada um pensa em transformar o mundo, mas onde estão aqueles que pensam em transformar a si mesmos? As pessoas podem genuinamente querer serem boas, mas raramente estão preparadas para fazer o que é necessário para produzir uma vida de bondade que possa transformar a alma. A formação pessoal à imagem de Cristo é árdua e longa.
A comunhão agregando poder
Isto naturalmente leva à nossa segunda grande arena de trabalho para os anos vindouros: renovação congregacional. Se em nossas igrejas nós não trabalhamos arduamente pela formação espiritual, não conseguiremos pessoas espiritualmente formadas. Então esta é uma arena de trabalho vital, e eu estou falando de das congregações tradicionais e as recentes formas emergentes de nossa vida juntos.
No principio é importante que vejamos o contexto no qual trabalhamos.
Primeiro, nós temos em nossas igrejas a “doença da pressa”. Muitos do nosso povo são viciados em adrenalina e, em toda parte o espírito de nossos dias é de pular, de empurrar, de atropelar, de ruídos, de pressa e de multidões. Mas o trabalho de formação espiritual simplesmente não acontece com pressa. Ele nunca é um ‘assunto rápido’. Paciência e cuidado com o tempo consumido são sempre as marcas de qualidade do trabalho de formação espiritual.
Outra situação contextual que enfrentamos é o fato de que agora temos uma indústria de entretenimento cristão que é disfarçada como adoração. Como nós comparecemos em reverência e temor diante do Santo de Israel, quando muitos de nossos cultos são focados em diversão? Eu não sei a resposta, mas é claramente uma das realidades de nossa vida congregacional.
Um terceiro assunto: nós estamos lidando com uma mentalidade consumista em toda parte que, simplesmente, domina o cenário religioso, pelo menos o norte-americano. É uma mentalidade que mantém o individual à frente e no centro: “Eu quero o que quero, quando quero e quanto quero”. Naturalmente o trabalho de formação nos ensina a dar as costas para as nossas vontades e focar necessidades reais, como a de anular o ego, tomar a nossa cruz e seguir arduamente Jesus.
Todas estas e outras coisas mais, tornam o trabalho de formação espiritual em uma congregação realmente complicado. Estou certo de que não tenho as respostas para essas questões complicadas. Mas é maravilhoso saber que ter as respostas não é tarefa nossa. Nossa tarefa é realizar o trabalho de formação espiritual, e fazer isto em uma congregação já configurada.
Primeiro, isto significa que queremos experiências profundas de comunhão através do poder da formação espiritual. A igreja é reformada e sempre está se reformando. E, se meu coração, alma, mente e espírito estão sendo reformados – se anseio conhecer Jesus, seguir Jesus, servir Jesus, ser formado à semelhança de Jesus – então sou poderosamente atraído na direção de quem e de todo aquele que está buscando conhecer Jesus, seguir Jesus, servir a Jesus e ser formado à imagem de Jesus. Uma pessoa cheia da beleza de Jesus tem comunhão adicionada ao poder. Outros são irresistivelmente atraídos na direção desta pessoa.
Segundo, vamos fazer tudo o que podemos para desenvolver a ecclesiola na Eclésia – “a pequena igreja dentro da Igreja”. A ecclesiola na Eclésia é um compromisso profundo com a vida do povo de Deus e não uma maneira sectária. Nenhuma separação. Nenhuma exclusão. Nenhuma formação nova de denominação ou igreja. Nós ficamos dentro das estruturas de igreja dadas e desenvolvemos pequenos centros de luz dentro dessas estruturas. Então nós deixamos a nossa luz brilhar!
Particularmente três expressões históricas da ecclesiola na Eclésia, valem a pena ser estudadas:
Philipp Jakob Spener (1635–1705) no século XVII
A Alemanha e sua escola pietatis.
Considerado o pai do Pietismo, Spener passou seus dias praticando e ensinando sobre a conversão do coração e a santificação da vida. Aqueles que o ouviam eram tão tocados por suas pregações, que queriam mais instruções, e perguntavam se ele seria bondoso o suficiente para atendê-los. Spener começou a defender a escola pietatis com aquelas pessoas ávidas para seguir Jesus, primeiro em sua casa, depois em outras casas e, então em prédios públicos e assim por diante, com a intenção de instruir pessoas que estavam ansiosas para aprender a viver uma vida santa.
John Wesley (1703–1791) no século XVII
A Inglaterra e suas sociedades, encontros de classes e coligações.
Estes encontros eram uma maneira de dar ordem e disciplina aos novos convertidos. As sociedades tinham o propósito de comunhão, os encontros de classes eram para tratar de responsabilidades e as coligações tinham o propósito de amor e confissão mútua de pecados.
Hans Nielsen Hauge (1771–1824) no século XIX
A Noruega e a “missão interna”.
Houve um grande movimento de renovação na Noruega sob a liderança de Hauge, mas – e isto foi crucial – ele estimulava seus seguidores a permanecer na igreja Luterana da Noruega. Hauge os organizou em pequenas estruturas dentro daquelas igrejas e chamou seu trabalho de piedade e de formação de corações de “missão interna”.
Esta ecclesiola na Eclésia, este trabalho de formação espiritual, produz um certo tipo de comunhão, um certo tipo de comunidade. Isto produz uma unidade de coração, alma e mente, um vínculo que não pode ser quebrado – um milagre – abastecido de cuidado e compartilhamento da vida juntos que nos levará a enfrentar as circunstâncias mais difíceis.
E isto me leva à minha terceira sugestão para a formação espiritual da congregação: que nós aprendemos a sofrer juntos.
Eu creio que o nosso tempo de sofrimento está chegando. Muitos fatores levarão a isso. Por exemplo, a cultura geral de hostilidade para as coisas concernentes ao cristianismo está crescendo. Não devemos ficar surpresos ou mesmo tentar mudar isto. O que nós deveríamos estar fazendo é estar construindo uma vida comunitária sólida para que, quando o sofrimento chegar, nós não estejamos dispersos. Devemos ficar juntos, orar juntos e sofrer juntos independente do que vamos enfrentar. Sofrer juntos pode ser um bom modo que Deus usa para um novo ajuntamento do povo e Deus.
De volta ao mundo
Finalmente chegamos à discussão sobre a renovação cultural ou o que na teologia é chamado de “mandato cultural”. Posso apenas sugerir aqui com o que isto se parece.
Os mestres religiosos escreveram muito sobre o treinamento do coração em duas direções opostas: contemptus mundi, rápido desprendimento das ligações e ambições, e amor mundi, nosso ser arremessado para uma divina, porém dolorosa, compaixão pelo mundo.
No começo Deus arranca o mundo de nossos corações – comtemptus mundi. Aqui experimentamos um rompimento das correntes que nos atraem para posições proeminentes e de poder. Todos os nossos desejos de reconhecimento social, para ter nosso nome em evidência, começam a parecer fracos e superficiais. Aprendemos a deixar todo o controle, toda a administração. Nós vivemos livre e alegremente sem enganos.
E, então, quando nos libertamos de tudo isso, Deus lança o mundo de volta ao nosso coração – amor mundi – onde nós e Deus, juntos, tomamos o mundo em infinita ternura e amor. Nós aprofundamos a nossa compaixão pelos feridos, pelos arruinados, pelos despossuídos. Nós sofremos, oramos e trabalhamos por outros de uma maneira diferente, de uma forma abnegada, cheia de alegria. Nosso coração fica estendido em direção aos marginalizados. Nosso coração fica voltado para todas as pessoas, para toda a criação.
Foi o amor mundi que atirava Patrick de volta à Irlanda para responder à sua pobreza espiritual. Foi o amor mundi que impulsionou Francisco de Assis para o seu ministério mundial de compaixão por todas as pessoas, por todos os animais, por toda a criação. Foi o que levou Elizabeth Fry às portas do inferno da prisão de Newgate e induziu William Wilberforce a trabalhar a sua vida inteira pela abolição do comércio escravo. Isto enviou Padre Damião a viver, sofrer, e morrer entre os leprosos de Molokai e impulsionou Madre Teresa a ministrar entre os mais pobres entre os pobres da Índia e do mundo todo.
É o amor mundi que compele milhões de pessoas comuns como você e eu a ministrar vida no nome bom de Cristo aos nossos vizinhos.
Richard J. Foster
Outros têm submergido em múltiplos projetos de trabalhos de serviço social. Mas quando o ardor de ajudar aos outros esfriou por um tempo, eles perceberam que todos os seus esforços hercúleos deixaram poucas marcas duradouras em sua vida interior. De fato, isso os deixa mais doloridos: frustração, raiva e amargura.
Ainda existem os que possuem uma prática teológica que não permite um crescimento espiritual. De fato eles deveriam ver isto como uma coisa ruim. Havendo sido salvos pela Graça, essas pessoas têm ficado paralisadas nisso. A tentativa de qualquer progresso espiritual tem um sabor de “obras de retidão” para eles. Sua liturgia diz que eles pecam em palavras, pensamentos e atitudes diárias, então eles pensam ser esse seu destino até morrerem. O Céu é o seu único alívio nesse mundo de pecado e rebelião. Conseqüentemente, essas pessoas bem intencionadas vão sentar em seus bancos na igreja e, um ano depois vão perceber que nenhum avanço foi feito em suas vidas com Deus.
Enfim, um mal-estar geral nos toca a todos. Refiro-me ao modo como nos acostumamos completamente com a normalidade de disfunção. A constante exploração da mídia em relação aos escândalos, vidas partidas e mazelas de toda sorte nos deixa não muito mais do que simplesmente chateados. Temos que esperar um pouco mais do que isso, ao menos de nossos líderes religiosos – talvez, especialmente de nossos líderes. Esta disfunção é tão infiltrada em toda a parte que é quase impossível termos uma visão clara do progresso espiritual. Modelos exuberantes de santidade são raros hoje em dia. Ecoando através dos séculos até os dias de hoje, estão inúmeras testemunhas que nos contam sobre uma vida muito mais abundante, profunda e completa. Em qualquer posição social ou em qualquer situação da vida, eles encontraram uma vida de “retidão, paz e alegria no Espírito Santo” (Romanos 14:17). Eles descobriram que uma transformação real, sólida à imagem de Cristo, é possível.
Eles testemunham para a formação de um caráter quase espantoso. Eles têm visto suas paixões egocêntricas darem lugar a um coração abnegado e humilde, que assusta até a eles mesmos. Raiva ódio e malícia são substituídas por amor, compaixão e boa vontade total.
Há mais de 2.000 anos de registros das vidas de grandes pessoas – Agostinho, Francis, Teresa, Kempis e muitos outros que, após seguiram arduamente nos caminhos de Jesus, tornando-se pessoas com um caráter ilibado. Os registros estão aí para quem quiser ver.
Há trinta anos, quando a Celebration of Discipline (Celebração da Disciplina) foi escrita, nós enfrentamos duas grandes incumbências: a primeira é que foi preciso rever a grande discussão sobre a formação da alma; a segunda foi encarnar esta realidade nas experiências diárias na vida individual, congregacional e cultural. Francamente, nós temos tido sucesso com a primeira tarefa. Todos os tipos de cristãos agora sabem da necessidade de formação espiritual, e olha para santos católicos, ortodoxos e protestantes para guiá-los.
Mas é a segunda tarefa que precisa consumir a parte principal de nossa energia nos próximos 30 anos. Se nós não fizermos um progresso real nessas frentes, todos os nossos esforços vão evaporar e secar.
Um lembrete honesto antes de começar pra valer: a formação espiritual não é um kit de ferramentas para “consertar” a nossa cultura ou as nossas igrejas ou mesmo as vidas individualmente. Nós temos que trabalhar a formação espiritual porque este é o trabalho do Reino. Ele está bem no centro do mapa do Reino de Deus. Conseqüentemente, todos os demais problemas nós prazerosamente deixamos nas mãos de Deus.
Trabalhar o coração
Deus tem dado a cada um de nós a responsabilidade de “crescer em Graça” (II Pedro 3:18). Isto não é algo que possamos transferir para os outros. Nós temos que tomar as nossas cruzes individuais e seguir os passos do Cristo crucificado e ressurreto.
Todo trabalho de formação autêntico é “trabalhar o coração”. O coração é a fonte de toda ação humana. Todos os mestres religiosos constantemente nos chamam, quase de forma enfadonha, para que nos voltemos e purifiquemos os nossos corações. Os grandes sacerdotes Puritanos, por exemplo, mantiveram a atenção nisto. Em Mantendo o Coração, John Flavel, um puritano inglês do século 17 adverte que “a maior dificuldade na conversão é ganhar o coração para Deus; e a maior dificuldade após a conversão é manter o coração com Deus... Trabalhar o coração é um trabalho realmente difícil”.
Quando estamos trabalhando o nosso coração, as atitudes externas nunca são o centro da nossa atenção. Atitudes visíveis são o resultado natural de algo profundo, bem mais profundo.
A máxima do patriarca Actio “as atitudes seguem a essência” nos lembra que a nossa atitude está sempre em acordo com a realidade interna do nosso coração. Isto, naturalmente, não reduz as boas obras à insignificância, mas as tornam questões secundárias; efeitos, não causas. O significado principal é a nossa união vital com Deus, nossa nova criação em Cristo, nossa imersão no Espírito Santo. É essa vida que purifica o coração. Quando o ramo é perfeitamente unido à videira e recebe a sua vida da videira, o fruto espiritual é natural.
Por isso é que os filósofos éticos podiam dizer “a virtude é fácil”. Quando o coração está purificado pela ação do Espírito a coisa mais natural do mundo é a virtude. Para o puro de coração o vício é o que é difícil.
Não é uma coisa vã para nós retornarmos ao primeiro amor. É um ato de fé para pedir a Deus que sonde o nosso coração e nos tire de todo caminho mal (Salmos 139: 23,24). É um aspecto vital da salvação do Senhor.
Somos todos, cada um e todos nós, uma massa de motivos emaranhados: esperança e medo, fé e dúvidas, simplicidade e duplicidade, honestidade e falsidade, sinceridade e falsidade. Deus é o único que pode separar o verdadeiro do falso, o único que pode purificar as motivações do coração.
Mas Deus não vem sem ser convidado. Se alguns compartimentos do nosso coração nunca experimentaram o toque de cura de Deus, talvez seja porque não temos recebido bem o minucioso exame divino.
O mais importante, mais real e mais duradouro acontece nas profundezas do nosso coração. Este é um trabalho solitário e interno. Não pode ser visto por pessoa alguma, a não ser por nós mesmos. É um trabalho que somente Deus conhece. É o trabalho de purificação do coração, a conversão da alma, da transformação interior, da formação da vida.
Começa primeiro com nosso retorno à luz de Jesus. Para alguns, este é um inescrutável e lento voltar-se... voltar-se... até que nos voltemos completamente. Para outros é instantâneo e glorioso. Em ambos os casos nós estamos começando a confiar em Jesus, para aceitá-Lo como sendo a nossa Vida. Assim lemos sobre isso em João 3, somos nascidos do Céu. Nascer espiritualmente é um começo – um maravilhoso e glorioso começo. E não um final.
O trabalho de formação mais intenso é necessário antes de nos colocarmos diante do brilho do Céu. É necessário muito treinamento para sermos o tipo de pessoa segura e reinar tranqüilamente com Deus.
Então, agora nós damos início a esse novo relacionamento. Como Pedro coloca em sua primeira carta, nós “temos nascido de novo, não de uma semente perecível, mas imperecível, vivendo e permanecendo na Palavra de Deus” (I Pedro 1: 23). Deus está vivo! Jesus é real e atuante em nossas pequenas vidas.
E então nós começamos a orar, para entrar numa comunicação interativa com Deus. No principio nossa oração é intranqüila e hesitante. É uma alternação da nossa ida e volta, de nossa preocupação com a glória divina e com as tarefas mundanas de casa e do trabalho. Para trás e para frente. Para trás e para frente. E, freqüentemente, a alternância é pior – muito pior – do que absolutamente não orar. Num momento nos são reveladas glorias divinas, no momento seguinte nossas mentes estão chafurdando na concupiscência da base dos nossos desejos.
Nossas vidas são fraturadas e fragmentadas. Como Thomas Keely coloca, nós estamos vivendo em “uma luta intolerável de agitação”. Nós sentimos a força de atração de muitas obrigações e tentamos cumpri-las todas. E estamos “infelizes, intranqüilos, extenuados, oprimidos e tememos fracassar”. Mas, através do tempo e da experiência – às vezes muito tempo e muita experiência - Deus começa a nos dar um sossego surpreendente no Centro Divino. Nas profundezas do nosso ser, a alternância nos dá uma vida coesa intacta, de humilde adoração diante da viva presença de Deus.
Não se trata de êxtase, mas de serenidade, sem abalos, e firmeza de orientação da vida. Nas palavras de George Fox, nós nos tornamos homens e mulheres “estáveis”.
Nós começamos a desenvolver um hábito de orientação divina. Agora, isto não é perfeccionismo, mas o progresso de nossa vida com Deus. O trabalho interior da oração torna-se muito mais simples agora. Lentamente descobrimos pequenos reflexos de proteção celeste e os sopros de submissão são tudo o que é preciso para nos atrair para uma orientação habitual de nossos corações voltados para Deus. Mesmo sem saber nós nos habituamos com a presença de Deus. Momentos formais de oração nos ligam e aumentam a tendência de estabilidade de adoração tranqüila, que é a base dos nossos dias.
Por trás do primeiro plano da vida diária permanece a bagagem da orientação celestial. Esta é a formação de um coração diante de Deus. Para usar as palavras de Kelly, é “uma vida despreocupada de paz e poder. É simples. É sereno. É espantoso. É triunfante. É radiante. Não toma tempo algum, mas ocupa todo o nosso tempo”.
Como os novatos em Jesus estamos aprendendo, sempre aprendendo como viver bem; a amar a Deus bem; a amar nosso cônjuge bem; a criar nossos filhos bem; a amar nossos amigos e vizinhos – e até mesmo os nossos inimigos – bem. A estudar bem; a enfrentar as adversidades bem; a administrar nossos negócios e instituições financeiras bem; a formar uma vida em comunidade bem; a alcançar os marginalizados bem; e a morrer bem.
E, enquanto aprendemos como viver bem, compartilhamos com outros o que estamos aprendendo. Esta é a estrutura do amor para edificar o corpo de Cristo.
Nós não estamos sozinhos neste trabalho de reforma do coração. É imperativo que nos ajudemos uns aos outros de todas as maneiras que pudermos. E, em nossos dias, temos emergência de um exército espiritual sólido de guias espirituais treinados, que possam amorosamente estar lado a lado de pessoas preciosas, e ajudá-las a discernir como andar pela fé nas circunstâncias de suas próprias vidas.
Por favor, note que eu disse guias espirituais “treinados” e não guias espirituais “diplomados”.
Há uma idéia genuinamente ruim circulando nestes dias que, se nós tivermos um determinado numero de cursos e lermos um determinado numero de livros, estaremos prontos para sermos guias espirituais. Eu lamento; eu realmente gostaria que fosse tão simples assim. Mas não, nós estamos falando sobre treinamento de vida. E é apenas pelo treinamento da vida que veremos o desenvolvimento de um certo tipo de vida, uma vida de retidão, paz e alegria no Espírito Santo. Isto é qualidade de vida – a habilidade para perdoar quando se está machucado, o desejo de orar –, o que estamos procurando nos guias espirituais treinados.
Temos uma dificuldade real aqui porque cada um pensa em transformar o mundo, mas onde estão aqueles que pensam em transformar a si mesmos? As pessoas podem genuinamente querer serem boas, mas raramente estão preparadas para fazer o que é necessário para produzir uma vida de bondade que possa transformar a alma. A formação pessoal à imagem de Cristo é árdua e longa.
A comunhão agregando poder
Isto naturalmente leva à nossa segunda grande arena de trabalho para os anos vindouros: renovação congregacional. Se em nossas igrejas nós não trabalhamos arduamente pela formação espiritual, não conseguiremos pessoas espiritualmente formadas. Então esta é uma arena de trabalho vital, e eu estou falando de das congregações tradicionais e as recentes formas emergentes de nossa vida juntos.
No principio é importante que vejamos o contexto no qual trabalhamos.
Primeiro, nós temos em nossas igrejas a “doença da pressa”. Muitos do nosso povo são viciados em adrenalina e, em toda parte o espírito de nossos dias é de pular, de empurrar, de atropelar, de ruídos, de pressa e de multidões. Mas o trabalho de formação espiritual simplesmente não acontece com pressa. Ele nunca é um ‘assunto rápido’. Paciência e cuidado com o tempo consumido são sempre as marcas de qualidade do trabalho de formação espiritual.
Outra situação contextual que enfrentamos é o fato de que agora temos uma indústria de entretenimento cristão que é disfarçada como adoração. Como nós comparecemos em reverência e temor diante do Santo de Israel, quando muitos de nossos cultos são focados em diversão? Eu não sei a resposta, mas é claramente uma das realidades de nossa vida congregacional.
Um terceiro assunto: nós estamos lidando com uma mentalidade consumista em toda parte que, simplesmente, domina o cenário religioso, pelo menos o norte-americano. É uma mentalidade que mantém o individual à frente e no centro: “Eu quero o que quero, quando quero e quanto quero”. Naturalmente o trabalho de formação nos ensina a dar as costas para as nossas vontades e focar necessidades reais, como a de anular o ego, tomar a nossa cruz e seguir arduamente Jesus.
Todas estas e outras coisas mais, tornam o trabalho de formação espiritual em uma congregação realmente complicado. Estou certo de que não tenho as respostas para essas questões complicadas. Mas é maravilhoso saber que ter as respostas não é tarefa nossa. Nossa tarefa é realizar o trabalho de formação espiritual, e fazer isto em uma congregação já configurada.
Primeiro, isto significa que queremos experiências profundas de comunhão através do poder da formação espiritual. A igreja é reformada e sempre está se reformando. E, se meu coração, alma, mente e espírito estão sendo reformados – se anseio conhecer Jesus, seguir Jesus, servir Jesus, ser formado à semelhança de Jesus – então sou poderosamente atraído na direção de quem e de todo aquele que está buscando conhecer Jesus, seguir Jesus, servir a Jesus e ser formado à imagem de Jesus. Uma pessoa cheia da beleza de Jesus tem comunhão adicionada ao poder. Outros são irresistivelmente atraídos na direção desta pessoa.
Segundo, vamos fazer tudo o que podemos para desenvolver a ecclesiola na Eclésia – “a pequena igreja dentro da Igreja”. A ecclesiola na Eclésia é um compromisso profundo com a vida do povo de Deus e não uma maneira sectária. Nenhuma separação. Nenhuma exclusão. Nenhuma formação nova de denominação ou igreja. Nós ficamos dentro das estruturas de igreja dadas e desenvolvemos pequenos centros de luz dentro dessas estruturas. Então nós deixamos a nossa luz brilhar!
Particularmente três expressões históricas da ecclesiola na Eclésia, valem a pena ser estudadas:
Philipp Jakob Spener (1635–1705) no século XVII
A Alemanha e sua escola pietatis.
Considerado o pai do Pietismo, Spener passou seus dias praticando e ensinando sobre a conversão do coração e a santificação da vida. Aqueles que o ouviam eram tão tocados por suas pregações, que queriam mais instruções, e perguntavam se ele seria bondoso o suficiente para atendê-los. Spener começou a defender a escola pietatis com aquelas pessoas ávidas para seguir Jesus, primeiro em sua casa, depois em outras casas e, então em prédios públicos e assim por diante, com a intenção de instruir pessoas que estavam ansiosas para aprender a viver uma vida santa.
John Wesley (1703–1791) no século XVII
A Inglaterra e suas sociedades, encontros de classes e coligações.
Estes encontros eram uma maneira de dar ordem e disciplina aos novos convertidos. As sociedades tinham o propósito de comunhão, os encontros de classes eram para tratar de responsabilidades e as coligações tinham o propósito de amor e confissão mútua de pecados.
Hans Nielsen Hauge (1771–1824) no século XIX
A Noruega e a “missão interna”.
Houve um grande movimento de renovação na Noruega sob a liderança de Hauge, mas – e isto foi crucial – ele estimulava seus seguidores a permanecer na igreja Luterana da Noruega. Hauge os organizou em pequenas estruturas dentro daquelas igrejas e chamou seu trabalho de piedade e de formação de corações de “missão interna”.
Esta ecclesiola na Eclésia, este trabalho de formação espiritual, produz um certo tipo de comunhão, um certo tipo de comunidade. Isto produz uma unidade de coração, alma e mente, um vínculo que não pode ser quebrado – um milagre – abastecido de cuidado e compartilhamento da vida juntos que nos levará a enfrentar as circunstâncias mais difíceis.
E isto me leva à minha terceira sugestão para a formação espiritual da congregação: que nós aprendemos a sofrer juntos.
Eu creio que o nosso tempo de sofrimento está chegando. Muitos fatores levarão a isso. Por exemplo, a cultura geral de hostilidade para as coisas concernentes ao cristianismo está crescendo. Não devemos ficar surpresos ou mesmo tentar mudar isto. O que nós deveríamos estar fazendo é estar construindo uma vida comunitária sólida para que, quando o sofrimento chegar, nós não estejamos dispersos. Devemos ficar juntos, orar juntos e sofrer juntos independente do que vamos enfrentar. Sofrer juntos pode ser um bom modo que Deus usa para um novo ajuntamento do povo e Deus.
De volta ao mundo
Finalmente chegamos à discussão sobre a renovação cultural ou o que na teologia é chamado de “mandato cultural”. Posso apenas sugerir aqui com o que isto se parece.
Os mestres religiosos escreveram muito sobre o treinamento do coração em duas direções opostas: contemptus mundi, rápido desprendimento das ligações e ambições, e amor mundi, nosso ser arremessado para uma divina, porém dolorosa, compaixão pelo mundo.
No começo Deus arranca o mundo de nossos corações – comtemptus mundi. Aqui experimentamos um rompimento das correntes que nos atraem para posições proeminentes e de poder. Todos os nossos desejos de reconhecimento social, para ter nosso nome em evidência, começam a parecer fracos e superficiais. Aprendemos a deixar todo o controle, toda a administração. Nós vivemos livre e alegremente sem enganos.
E, então, quando nos libertamos de tudo isso, Deus lança o mundo de volta ao nosso coração – amor mundi – onde nós e Deus, juntos, tomamos o mundo em infinita ternura e amor. Nós aprofundamos a nossa compaixão pelos feridos, pelos arruinados, pelos despossuídos. Nós sofremos, oramos e trabalhamos por outros de uma maneira diferente, de uma forma abnegada, cheia de alegria. Nosso coração fica estendido em direção aos marginalizados. Nosso coração fica voltado para todas as pessoas, para toda a criação.
Foi o amor mundi que atirava Patrick de volta à Irlanda para responder à sua pobreza espiritual. Foi o amor mundi que impulsionou Francisco de Assis para o seu ministério mundial de compaixão por todas as pessoas, por todos os animais, por toda a criação. Foi o que levou Elizabeth Fry às portas do inferno da prisão de Newgate e induziu William Wilberforce a trabalhar a sua vida inteira pela abolição do comércio escravo. Isto enviou Padre Damião a viver, sofrer, e morrer entre os leprosos de Molokai e impulsionou Madre Teresa a ministrar entre os mais pobres entre os pobres da Índia e do mundo todo.
É o amor mundi que compele milhões de pessoas comuns como você e eu a ministrar vida no nome bom de Cristo aos nossos vizinhos.
Richard J. Foster
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