segunda-feira, 30 de março de 2009

Falando do Sol

A alegria e contagiante; exatamente como o é a tristeza. Eu tenho um amigo que irradia alegria, não porque sua vida seja fácil, mas porque habitualmente ele reconhece a presença de Deus no meio de todos os sofrimentos humanos, o seu e dos outros. Onde quer que vá, seja quem for que encontre, ele é sempre capaz de ver e ouvir algo de belo, algo de que dar graças. Ele não nega a grande tristeza que o envolve, nem é cego ou surdo aos sinais e sons de agonia dos seus companheiros de existência, mas o seu espírito gravita em direção à luz no meio da escuridão e das preces, em meios dos gritos de desespero. O seu olhar é gentil, a sua voz é calma. Não se trata de sentimentalismo. È uma pessoa realista, mas a sua fé profunda permiti-lhe descobrir que a esperança é mais real que o desespero, a fé mais real que a descrença e o amor mais real que o medo. É este realismo espiritual que faz dele um homem tão alegre.

Sempre que me encontro com ele, não resisto à tentação de lhe chamar a atenção para as guerras entre as nações, para a fome de milhares de crianças, para a corrupção na política e a falsidade entre as pessoas procurando impressiona-lo com os últimos fracassos do gênero humano. Mas, sempre que experimento fazer uma coisa destas, ele olha para mim com o seu olhar gentil e cheio de compaixão e diz: “Eu vi duas crianças partilharem o seu pão uma com a outra e ouvi uma mulher dizer ‘obrigada’ e sorrir quando alguém lhe ofereceu um cobertor. Essas pessoas simples e pobres deram-me nova coragem para continuar a viver”.

A alegria do meu amigo e contagiante. Quanto mais estou com ele tanto mais consigo captar raios de Sol a brilhar por entre as nuvens. Sim, eu sei que o Sol existe, mesmo quando os céus estão cobertos com nuvens. Enquanto meu amigo fala sempre do Sol, eu continuava a falar das nuvens; até que um dia cheguei a conclusão que era por causa do Sol que conseguia ver as nuvens.

Os que continuam a falar do Sol enquanto caminham sob o céu cheio de nuvens são mensageiros de esperança, os verdadeiros santos dos dias de hoje.


Henri Nouwen
Trecho do Livro "Mosaicos do Presente" da Editora Paulinas

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