terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Desejos Amigos

Desejo-te que em tuas tristezas, bem como em tuas alegrias, encontres o ombro displicente do amigo, o ouvido discreto do irmão, o olhar afirmador do Pai.

Desejo-te que em tuas ansiedades, diante da insegurança do porvir, aprendas a resignar-te. Quando te faltarem forças para lutar e coragem para retroceder diante do impossível, que o teu sorriso expresse a paz dos que se reconhecem impotentes.

Desejo-te que desaprendas a arte de dissimular, o ofício de negacear e a obrigação de suplantar. Que a tua caminhada seja serena como o ribeiro que se espreme entre as rochas. Deixa-te evaporar como o hálito que manchou o espelho. Sê como o sal que temperou a carne. Sê como a luz que azuleja o céu.

Desejo-te que as tuas decepções sejam férteis. Transforma-te em poeta que converte a dor em verso. Que o teu cantarolar desafogue a tua indignação com beleza. Deixa-te ferir com o sofrimento mais distante. Considera a miséria um demônio, a injustiça, uma deusa sanguinária e a indiferença, um inferno.

Desejo-te que sigas incógnito em tua busca por sentido. Não te inquietes com os cenhos amedrontadores. Não te intimides com a tua insignificância. Não existem expectativas a priori, destinos predestinados, formas idealizadas ou projetos pré-concebidos. Desobriga-te de impressionar qualquer platéia. O aplauso da multidão não deve lisonjear – poderás ser apedrejado amanhã.

Desejo-te que as tuas insônias sejam intermitentes. Que aprendas a bordar na escuridão para que as tuas ações se propaguem na luz. Que os teus sonhos nunca se repitam para que conheças a imensidão de teu inconsciente. Transita pelas sombras com altivez. Marcha na avenida com discrição. Constrói-te em segredo.


Ricardo Gondim

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