Quando os pioneiros do Protestantismo chegaram ao Brasil na segunda metade do século XIX a agenda política era muito clara: adquirir cidadania plena, pois sob a Constituição Imperial de 1824 apenas os homens brancos proprietários e católicos romanos detinham esse status. Não foi difícil para os protestantes defender a separação entre Igreja e Estado (Estado Laico), em uma “frente” com os liberais, os positivistas e os maçons, se envolver na defesa da Abolição da Escravatura e na implantação da República. Até porque eles aqui chegavam com uma ideologia de “destino manifesto”: trazer uma fé superior e o progresso, facilitada pela opção por uma escatologia pós-milenista ou a-milenista. Uma minoria com consciência de presença transformadora como “sal e luz”, o que se refletiu no papel pioneiro dos colégios (escola mista, escola profissionalizante, educação física, esportes), e o papel respeitável de nossos escassos parlamentares, tanto na Constituinte de 1934 e 1946, no movimento sindical (especialmente o rural no Nordeste) e em tantos outros episódios liderados por homens notáveis.
O Pentecostalismo “branco” optou por longos anos por um isolamento da esfera pública, apoiado pelo pessimismo histórico intrínseco à escatologia pré-milenista/pré-tribulacionista. O Golpe de 1964, a polarização da Guerra Fria, a presença do Fundamentalismo de origem norte-americana nos levou, nos anos 1970 ao terrível pensamento predominante: “Crente não se mete em política” ou “Política não é lugar para crente”. Todo o legado do passado foi esquecido, bem como o legado da história geral da Igreja, em termos de fatos e autores, fazendo surgir novas gerações desinformadas, sem conhecimento bíblico-teológico, histórico ou ético para o exercício de uma cidadania responsável e diferenciadora. A redemocratização do final dos anos 1980 trouxe os Pentecostais pela primeira vez para uma opção de participação, surgiram os neo-pentecostais, os históricos se retraíram e, sem nenhum conteúdo ou proposta diferenciadora os ex-alienados se “mundanizaram”, segundo as regras do jogo político brasileiro: corporativismo, clientelismo, o toma-lá-dá-cá, com o seu preço. Os resultados foram vergonhosos episódios de antitestemunho. Trocamos o “Crente não se mete em Política” pelo “Irmão Vota em Irmão” e as candidaturas oficiais.
Como corre solta a propina, o clientelismo, a troca de favores, a ética vai para o espaço, e o que importa é o “realismo” de quem pode trazer mais vantagens para as igrejas (canais de rádio e TV, terrenos, cargos), ao menosprezo dos partidos e com abertura para as alianças mais espúrias. Antes, matreiramente, se fazia o jogo do anticomunismo; hoje do perigo da perseguição religiosa, do secularismo, da agenda gay, etc. Uma coisa é travar uma batalha cultural com esses temas na academia, na imprensa, no aparelho de Estado (e temos que fazê-lo), outra coisa é cair de má fé em um maniqueísmo, e a opção por um candidato “salvador”, com quem se tem compromissos por debaixo dos panos, e instrumentalizar os crentes como massa de manobra.
Temos uma Constituição Federal, Constituições Estaduais e Leis Orgânicas Municipais que garantem o Estado Democrático de Direito; temos instituições cada vez mais sólidas, uma imprensa (empresa) relativamente livre, as candidaturas de coligação constroem programas que são um acordo sobre os pontos convergentes dos programas dos vários partidos que a compõem, os partidos têm correntes internas, enfim, o mundo político é algo bem complexo, que requer conhecimento para uma inserção competente e relevante. Não iremos muito longo na nossa influência sobre a sociedade, a cultura e o Estado brasileiro chutando santas ou demonizando (candidatas) pecadoras.
Enquanto os eleitores protestantes (a despeito da tentativa de controle e manipulação de alguns dos seus líderes) estarão pulverizados nos vários candidatos, refletindo a sociedade onde estão inseridos. E a conversa de “Irmão Vota em Irmão” não tem funcionado no caso de Marina Silva, membro da maior denominação evangélica do Brasil, com a sua estatura internacional, mas com ética de mais e possibilidade de troca de favores de menos, não tem recebido o apoio dos aguerridos pastores…
Que esse seja um tempo de reflexão e amadurecimento para o crescente contingente de eleitores evangélicos brasileiros, sem picaretagem, sem ingenuidade e sem paranoia.
Que Deus nos ajude!
Recife (PE), 10 de setembro de 2010,
Robinson Cavalcanti
O Pentecostalismo “branco” optou por longos anos por um isolamento da esfera pública, apoiado pelo pessimismo histórico intrínseco à escatologia pré-milenista/pré-tribulacionista. O Golpe de 1964, a polarização da Guerra Fria, a presença do Fundamentalismo de origem norte-americana nos levou, nos anos 1970 ao terrível pensamento predominante: “Crente não se mete em política” ou “Política não é lugar para crente”. Todo o legado do passado foi esquecido, bem como o legado da história geral da Igreja, em termos de fatos e autores, fazendo surgir novas gerações desinformadas, sem conhecimento bíblico-teológico, histórico ou ético para o exercício de uma cidadania responsável e diferenciadora. A redemocratização do final dos anos 1980 trouxe os Pentecostais pela primeira vez para uma opção de participação, surgiram os neo-pentecostais, os históricos se retraíram e, sem nenhum conteúdo ou proposta diferenciadora os ex-alienados se “mundanizaram”, segundo as regras do jogo político brasileiro: corporativismo, clientelismo, o toma-lá-dá-cá, com o seu preço. Os resultados foram vergonhosos episódios de antitestemunho. Trocamos o “Crente não se mete em Política” pelo “Irmão Vota em Irmão” e as candidaturas oficiais.
Como corre solta a propina, o clientelismo, a troca de favores, a ética vai para o espaço, e o que importa é o “realismo” de quem pode trazer mais vantagens para as igrejas (canais de rádio e TV, terrenos, cargos), ao menosprezo dos partidos e com abertura para as alianças mais espúrias. Antes, matreiramente, se fazia o jogo do anticomunismo; hoje do perigo da perseguição religiosa, do secularismo, da agenda gay, etc. Uma coisa é travar uma batalha cultural com esses temas na academia, na imprensa, no aparelho de Estado (e temos que fazê-lo), outra coisa é cair de má fé em um maniqueísmo, e a opção por um candidato “salvador”, com quem se tem compromissos por debaixo dos panos, e instrumentalizar os crentes como massa de manobra.
Temos uma Constituição Federal, Constituições Estaduais e Leis Orgânicas Municipais que garantem o Estado Democrático de Direito; temos instituições cada vez mais sólidas, uma imprensa (empresa) relativamente livre, as candidaturas de coligação constroem programas que são um acordo sobre os pontos convergentes dos programas dos vários partidos que a compõem, os partidos têm correntes internas, enfim, o mundo político é algo bem complexo, que requer conhecimento para uma inserção competente e relevante. Não iremos muito longo na nossa influência sobre a sociedade, a cultura e o Estado brasileiro chutando santas ou demonizando (candidatas) pecadoras.
Enquanto os eleitores protestantes (a despeito da tentativa de controle e manipulação de alguns dos seus líderes) estarão pulverizados nos vários candidatos, refletindo a sociedade onde estão inseridos. E a conversa de “Irmão Vota em Irmão” não tem funcionado no caso de Marina Silva, membro da maior denominação evangélica do Brasil, com a sua estatura internacional, mas com ética de mais e possibilidade de troca de favores de menos, não tem recebido o apoio dos aguerridos pastores…
Que esse seja um tempo de reflexão e amadurecimento para o crescente contingente de eleitores evangélicos brasileiros, sem picaretagem, sem ingenuidade e sem paranoia.
Que Deus nos ajude!
Recife (PE), 10 de setembro de 2010,
Robinson Cavalcanti
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