quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O deserto florescerá

Quanto menor o seu mundo, maiores os seus problemas, mais intenso seu sofrimento, e menor o seu Deus. Nos últimos dias os horizontes do meu mundo foram estendidos. Alcançaram Casablanca e Marrakech, no Marrocos, e Dakar, no Senegal. Tudo agora tem outra densidade e outro tamanho. A vida é uma questão de proporções, e as proporções, evidentemente, dependem dos termos de comparações. O que vi e ouvi me obriga a reorganizar valores e medidas.

O Marrocos é um país com 36 milhões de habitantes, mas com apenas pouco mais de 1.000 cristãos, congregados em aproximadamente 50 igrejas que se reúnem nas casas e grupos não maiores de 20 pessoas. Conversei com um dos principais líderes cristãos do país e percebi que ele não sabe muito bem quem foram Agostinho, Lutero, Tomás de Aquino. Perguntei quais eram suas referências pastorais e ministeriais, onde ele se baseava para liderar sua igreja e a resposta foi "Atos 2". Ao final de nossa conversa disse-me que a igreja em seu país é uma semente que carece de cuidados para que não morra antes de se tornar uma árvore frondosa capaz de oferecer sua sombra aos cansados.

No Senegal existem Marabus, mestres do Alcorão que escravizam, abusam sexualmente e torturam milhares de meninos, os talibês, que lhes são entregues por pais que acreditam que seus filhos estarão servindo o Islã. Na chamada África Negra aproximadamente 20% das mulheres são submetidas à excisão e ou infibulação, a mutilação da vagina, feita sem anestesia, por instrumentos como uma lâmina de barbear, uma faca de lâmina flexível ou mesmo tesouras. A excisão mínima é a retirada do capuz do clitóris. A infibulação, também chamada de excisão faraônica, consiste na amputação do clitóris e dos pequenos lábios, seguido do corte dos grandes lábios, que depois são aproximados e suturados, sendo deixada uma minúscula abertura necessária ao escoamento da urina e da menstruação. Esse orifício é mantido aberto por um filete de madeira, que é, em geral, um palito de fósforo.

O primeiro ímpeto é pedir a Deus que me faça esquecer rápido o que vi e ouvi. A vontade que dá é de balançar a cabeça para que as imagens se dissolvam e sejam substituídas. Mas considero a possibilidade de pedir a Deus exatamente o contrário: que jamais me deixe esquecer as imagens da barbárie, explícita na violência praticada contra mulheres e crianças, a pobreza mais extrema das ruas de Dakar, e a escassez quase absoluta da Igreja no Marrocos. A melhor solução é pedir a Deus que me ajude a lembrar o que pode trazer esperança: a face de cada um dos missionários que dedicam suas vidas a servir o povo da África Ocidental, a serenidade valente do pastor marroquino, a energia alegre e o futuro possível da centena de meninos da escola de futebol, o potencial do centro médico e a espontaneidade da adoração dos poucos africanos na igreja de Dakar.

O deserto florescerá, disse o profeta. Os desertos do Marrocos e do Senegal me ajudam a colocar em perspectiva minhas terras secas. A promessa de Deus me enche de esperança e renova as minhas forças para continuar a semear. O mundo voltará a ser um jardim.


Ed Rene Kivitz

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