quinta-feira, 21 de maio de 2009

Um pouco mais de Agostinho

E como invocarei o meu Deus, ó meu Deus e meu Senhor? Pois, ao invocá-lo, eu o chamarei para dentro de mim. Que lugar haverá em mim, o Deus “que fez o céu e a terra”? Há, então, Senhor meu Deus, algo em mim que possa te conte? E o céu e a terra, os quais fizeste e nos quais me fizeste, eles são capazes de te conter? Ou então, visto quem sem ti nada existe daquilo que existe, será que tudo que existe te contem? Portanto, já que eu de fato existo, por que tenho de pedir tua vinda a mim, a mim que não existiria se não existisses em mim? Eu ainda não estive nas profundezas da terra e, no entanto, tu aí também estás. Pois, “mesmo que desça as profundezas da terra, aí estás”. Pois eu não existiria, meu Deus, eu de forma alguma existiria, se não estivesses em mim. Ou melhor, eu não existiria se não existisse em ti, “de quem tudo, por quem tudo, em que todas as coisas existem”? É assim, Senhor, é assim mesmo. Para onde te chamo, se já estou em ti? De onde virias para estares em mim? Para onde me afastaria, fora do céu e da terra, para que daí viesse a mim o meu Deus, que disse: “o céu e a terra estão cheios da minha presença”?


Santo Agostinho
Trecho do Livro I das Confissões, editora Paulos

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