segunda-feira, 6 de abril de 2009

Rubem Alves e Teologia

"Digo isto para sugerir que, para aqueles que a amam, a teologia é uma função natural como sonhar, ouvir música, beber um bom vinho, chorar, sofrer, protestar, esperar (...)
Talvez que a teologia nada mais seja que um jeito de falar sobre tais coisas, dando-lhes um nome e apenas distinguido-se da poesia porque a teologia é sempre feita como prece (...)
Não, ela não decorre do "cogito" , da mesma forma como poemas e preces. Ela simplesmente brota e se desdobra, como manifestação de uma maneira de ser: 'suspiro da criatura oprimida' - seria possível uma definição melhor?"

Rubem Ales sobre teologia em "Variações sobre a vida e a morte", Paulus


"MINHA teologia nada tem a ver com teologia.
É vício.
Há muito que deveria ter abandonado este nome.
E dizer só poesia, ficção.
Descansem os que têm certezas.
Não entro no seu mundo e nem desejo entrar.
Jardins de concreto me causam medo.
Prefiro a sombra dos bosques
e o fundo dos mares,
lugares onde se sonha....
Ali moram os mistérios
e o meu corpo fica fascinado."

Rubem Alves em "Sobre deuses e caquis", prefácio a "Da esperança", Papirus


"Hoje faria tudo diferente.
Começaria por informar meus leitores de que teologia é uma brincadeira, parecida com o jogo encantado das contas de vidro que Hermann Hesse descreveu, algo que se faz por puro prazer, sabendo que Deus está muito além de nossas tramas verbais.
Teologia não é rede que se teça para apanhar Deus em suas malhas, porque Deus não é peixe, mas Vento que não se pode segurar...
Teologia é rede que tecemos para nós mesmos, para nela deitar nosso corpo.
Ela não vale pela verdade que possa dizer sobre Deus (seria necessário que fôssemos deuses para verificar tal verdade); ela vale pelo bem que faz à nossa carne."

Rubem Alves

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