Mais um Natal se
aproxima, a tradicional recordação do nascimento do menino Jesus,
Deus encarnado em um ser infante. História de milagre, de humildade,
de pobreza e de esperança. Talvez estejamos muito longe de
considerar todos estes aspectos simbólicos trazidos com a celebração
do Natal. Em grande parte, provavelmente, devido à secularização e
mercantilização não apenas desta data, como também de outros
feriados religiosos, como a Páscoa.
Mas para mim o Natal
sempre traz a lembrança do Advento: tempo de reflexão,
arrependimento e nutrição da esperança. Resgata à mente a
importância de meus queridos, amigos e, especialmente, familiares,
com os quais já não compartilho minha rotina, mas com os quais
tenho podido compartilhar deste momento especial.
Mas mais do que isto, o
Natal traz também à mente o pensamento de um desejo, um futuro
novo.
E o futuro é uma
criança.
É engraçado como uma
ideia como esta pode soar estranha, mesmo que hoje vivamos em uma
civilização cujos símbolos e referências culturais e valorativas
se pautem por esta matriz milenar que é o cristianismo. Nos
acostumamos a pensar Deus como Pai, Senhor, Ser supremo. Obviamente
não se nega isto (entre os cristãos, é claro). Mas ressalto que
mesmo no dias mais comuns, pouco lembramos deste aspecto infantil da
vida de Cristo (e do próprio Deus). Fala-se sempre, com bons juízos
ou preceitos equivocados, do aspecto grandioso e universal,
gigantesco e atemorizador, dominante e indestrutível que seria
constituinte da figura de Yahweh. Mas pouco se diz da figura frágil
representada pela criança chorosa, carente e dependente, deitada
naquela manjedoura – a não ser, é claro, no período do Advento.
O aspecto humano pelo qual Jesus foi apresentado ao mundo não podia
ser mais confuso. Poderia dizer também: não podia ser mais genial.
A história daquela
criança me conduz a um olhar sobre as nossas crianças. Jesus, já
em sua fase adulta, demonstrava um carinho especial para com os
pequeninos. Exortava seus pares de que aqueles que recebessem uma
destas crianças, estariam O recebendo. E dizia: “Cuidado para não
desprezarem nem um só destes pequeninos! Pois eu lhes digo que os
anjos deles nos céus estão sempre vendo a face de meu Pai celeste”
(Mt. 18: 5, 10). Se estamos falando do nascimento de uma criança, o
Natal nos permite falar dela, mas também de outras crianças como
ela, e do futuro delas. E o tempo que vem, será que tempo para
nossas crianças?
Há
pouco tempo assisti ao vídeo, até então desconhecido para mim, de
Happy Xmas, composta por John Lennon e Yoko Ono. A música tem
um subtítulo: War is over. O vídeo em questão é recheado
de duras e tenebrosas imagens, que atestam uma realidade à qual não
damos a devida importância: crianças sem futuro. Crianças em zonas
de guerra, passando fome, abandonadas, machucadas, doentes, sem
sequer saberem o que pode significar a palavra esperança.
Nossa
lembrança deve se voltar a elas. Mais do que celebrar o nascimento
de nosso Salvador, creio que o desejo presente no coração de Deus
se coloca a nós com este propósito: não despreze nenhum destes
pequeninos. A frágil criança naquela manjedoura deve nos trazer a
lembrança daquelas meninas e meninos que padecem onde se ausenta o
amor, a igualdade e a justiça. Mais do que recordar aquilo que a
Palavra nos diz sobre o nascimento do menino Deus, eu desejo
profundamente que você possa encontrar Deus no olhar destas
crianças. E que você possa compreender o sofrimento presente no
coração de Deus a partir da observação da angústia destas
crianças. E, principalmente, que você possa ansiar o futuro. Sonhar
com o novo, com as mesmas cores desafiadoras que constituem o sonho
das crianças. Para que elas não deixem de ser o futuro.
Feliz Natal.
Feliz Natal.
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Sydnei Melo
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