domingo, 12 de agosto de 2012

Uai! Existe gripe espiritual? *


Tenho que admitir uma coisa pra vocês: gosto de falar de coisas difíceis. Adoro discutir sobre temas complexos e tenho certo prazer quando vejo o desencadear lógico e formal dos argumentos.

Mas... sempre que leio os evangelhos fico um pouco em crise. Pois nele vejo Deus manifestado em carne - Jesus - fazendo justamente o contrário. Ao invés de partir das coisas complexas para chegar às simples, ele tem uma tendência interessante em falar de coisas super complexas e profundas com uma linguagem simples e acessível, utilizando-se de exemplos do cotidiano, da natureza, da vida.

Pois bem, acordei hoje com uma baita gripe. Minha cabeça dói, está difícil respirar e o ânimo para fazer qualquer coisa está lá em baixo. Todos os meus sentidos estão prejudicados; sinto como se estivesse meio lerdo pra fazer qualquer coisa.

Foi justamente neste contexto, que percebi que havia um tema que estava incomodando meu coração. E entendi que Deus estava me incentivando a compartilhar: será que não estamos “gripados espiritualmente”? O que seria, afinal de contas, “gripe espiritual”? Será que é quando nós não estamos animados a ir ao louvorzão ou estamos com preguiça de acordar para a Escola Dominical? Acredito que pode até ser; mas, hoje, gostaria de abordar outra dimensão da nossa “gripe espiritual”.

Para tal, vamos ler o texto de Tiago 1.27 que nos ajuda a pensarmos sobre este tema: “A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.

Lendo este texto bíblico fico a pensar em quantos momentos vejo a injustiça e o sofrimento ao meu redor e nada faço para, pelo menos, tentar transformar ou amenizar aquela situação. Muitas vezes, estou tão confortável no culto de que participo, tão agradado pelas belas músicas e pregações interessantes que ouço, que nem me preocupado em ver quem está jogado nas ruas no meu caminho para a igreja. Às vezes, estou tão ocupado com minhas próprias preocupações e demandas que mal dá pra olhar quem está ao meu redor. Meus sentidos ficam prejudicados pela “gripe espiritual”.

Então lhe pergunto: será que você também não está sofrendo de alguma espécie de “gripe espiritual”?

Alguns sintomas podem te ajudar a percebê-la e vou abordar apenas um deles. Você ainda consegue perceber que as questões que envolvem a resolução e superação de injustiças fazem parte integrante do DNA de nossa fé? Logicamente, existem muitas outras coisas que poderiam ser citadas como reflexos de nosso estado de letargia. Mas gostaria de enfatizar esse tema porque observo que esta é uma das primeiras, se não a primeira mesmo, áreas que nós esquecemos na vivência de nossa fé cristã.

Precisamos restaurar em nossos “sentidos espirituais” a imagem de um Deus de amor, compaixão e justiça, que se importa com os detalhes da vida de toda a sua criação e não apenas com parte dela, que se reúne semanalmente nos templos.

Por fim, lembro-me de outro texto bíblico que me ajuda a pensar neste tema: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Romanos 12.1,2).

Que Deus nos ajude a vivermos uma vida na qual sejamos livres da “gripe espiritual”, para que possamos entender qual seja a vontade de Deus, buscando ajudar nosso próximo e vivendo de forma que o evangelho de Cristo Jesus seja personificado por meio de nossas ações, que são fruto da nossa fé em movimento.

Adoremos e busquemos a Deus por meio dos mais diversos momentos que a vida na igreja nos possibilita ter, vivamos de forma que a nossa fé leve outras pessoas a conhecerem a mensagem transformadora que há na cruz de Cristo, mensagem de salvação e libertação. Mas... nunca nos deixemos dominar pela “gripe espiritual” que não nos deixa mais perceber as situações e pessoas que estão ao nosso redor, clamando por ajuda e justiça.

Que Deus esteja conosco sempre! Amém.

Sou Lucas Andrade Ribeiro, natural de Ipatinga/MG. Formado em Filosofia pela Unicamp e atualmente estudo Teologia na Fateo/Metodista.

* Texto publicado originalmente em http://www.juvemetodista.com.br 

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