Acredito que o amanhã continuará com semelhante tempestade.
No vai e vem da vida tudo continuará se esvaindo em vaidade.
A lágrima continuará a escorrer na valeta do desdém.
O uivo dolorido da criança que se desmancha em diarreia,
continuará abafado no imenso sono da noite sem folia.
A muralha que isola o esfarrapado continuará sólida.
A estrela do general, lustrosa, brilhará em cada estreia.
O fadista continuará ébrio, preso à força do além.
Insisto em não desistir da sorte, fonte de agonia.
Não sei explicar a força que me assalta.
Sem noção, retomo à minha sina,
minha vocação, mesmo por padecer falta
volto ao vício, sandice de minha alma menina.
Ressinto aceitar o preço de ser parceiro
do padecer e nem sei se resisto ao aceno celeste.
Se desisto do sucesso, da sagração que a tantos fascina
confesso, sofro ao morrer para a ambição corriqueira.
Abandono a conquista do sonho já vencido.
Assim, sigo em assumir, assimilar, encarnar
a singela façanha de perseverar na Esperança.
Ricardo Gondim
retirado de www.ricardogondim.com.br
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