segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Para que atuemos cada vez menos...

Prezado Gunnar,

Então seus amigos acham que eu sou contraditório. O problema é que eles são muito racionalistas, querem tudo numa ordem precisamente anotada. A vida não é assim, principalmente a vida de santidade, que é a vida elevada à sétima potência. É difícil anotar essas coisas sequencialmente, pois elas não acontecem desse modo. Não acho que esteja contradizendo-me, mas certamente reconheço um paradoxo, e uma considerável falta de clareza.

Vou tentar outra vez. O crescimento cristão (formação espiritual), na verdade, é a coisa mais fácil do mundo. É a obra de Deus em Cristo por meio do Espírito em nossa vida. É graça. Não precisamos fazer absolutamente nada. Na verdade, tudo que fazemos de nossa cabeça é sempre a decisão errada, começamos a assumir o controle e a dirigir o negócio, como deuses para nos mesmos e para os outros.

É, porém, a coisa mais difícil do mundo, pois constantemente temos de sair do caminho que “aconteça comigo conforme a tua palavra” (Lucas 1.38). O retorno diário e fiel à condição de uma criança que recebe e obedece, nenhuma dessas atitudes por iniciativa nossa, é a vida cristã.

O problema com tanta instrução-cristã-para-vender, hoje em dia, está em quem esta é só um pouco mais que psicologia de auto-ajuda aspergida com água benta ou o velho sonho empreendedor norte-americano fortalecido com alguns textos desafiadores de líder torcida.

Muito melhor que procurar encurtar etapas do desenvolvimento cristão é tentar aprofundar-se nas grandes narrativas das Escrituras, Abraão, Jeremias, Davi, Jesus. Quando entramos imaginariamente na vida dessas personagens, começamos a entender o significado da vida singular no Espírito, vida em que fazemos cada vez menos a fim de que o Espírito faça cada vez mais.

O paradoxo está em que, embora atuemos cada vez menos, na realidade cada vez mais se realizam obras por meio de nossas mãos, nossos pés e nossa palavra. Mais vigor, menos culpa; mais de Deus menos de nós. Como aperfeiçoar isso?


A paz de nosso Senhor,
Eugene Peterson
Trecho retirado do livro "Diálagos de Sabedoria" da editora Vida, escrito por Eugene Peterson. Grifos meus.

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