sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Teologia e Espiritualidade

A contemplação, longe de opor-se à teologia, representa, na verdade, o resultado natural de seu processo de aperfeiçoamento. Não devemos separar o estudo da verdade revelada por Deus da experiência contemplativa dessa verdade, como se fossem dois fatos completamente distintos. Ao contrário, ambos representam simplesmente os dois lados da mesma moeda. A teologia dogmática e a mística, ou a teologia e a espiritualidade, não devem ser postas em duas categorias mutuamente excludentes, como se o misticismo fosse apenas para mulheres piedosas e o estudo teológico voltado somente para homens práticos, porém, lamentavelmente, carnais. Essa separação enganosa talvez seja a explicação para muito do que, na verdade, está faltando tanto à teologia quanto à espiritualidade. Ambas pertencem, contudo, uma à outra. A menos que estejam unidas, não há fervor, nem vida, nem valor espiritual na teologia; assim como não há conteúdo, nem sentido, nem um propósito seguro na vida contemplativa.


Thomas Merton

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Um tex... melhor um sermão de Zilda Arns

Agradeço o honroso convite que me foi feito. Quero manifestar minha grande alegria por estar aqui com todos vocês em Porto Príncipe, Haiti, para participar da assembleia de religiosos.

Como irmã de dois franciscanos e de três irmãs da Congregação das Irmãs Escolares de Nossa Senhora, estou muito feliz entre todos vocês. Dou graças a Deus por este momento.

Na realidade, todos nós estamos aqui, neste encontro, porque sentimos dentro de nós um forte chamado para difundir ao mundo a boa notícia de Jesus. A boa notícia, transformada em ações concretas, é luz e esperança na conquista da Paz nas famílias e nas nações. A construção da paz começa no coração das pessoas e tem seu fundamento no amor, que tem suas raízes na gestação e na primeira infância, e se transforma em fraternidade e responsabilidade social.

A paz é uma conquista coletiva. Tem lugar quando encorajamos as pessoas, quando promovemos os valores culturais e éticos, as atitudes e práticas da busca do bem comum, que aprendemos com nosso mestre Jesus: "Eu vim para que todos tenham vida e a tenha em abundância" (Jo 10.10).

Espera-se que os agentes sociais continuem, além das referências éticas e morais de nossa Igreja, ser como ela, mestres em orientar as famílias e comunidades, especialmente na área da saúde, educação e direitos humanos. Deste modo, podemos formar a massa crítica das comunidades cristãs e de outras religiões, em favor da proteção da criança desde a concepção, e mais excepcionalmente até os seis anos, e do adolescente. Devemos nos esforçar para que nossos legisladores elaborem leis e os governos executem políticas públicas que incentivem a qualidade da educação integral das crianças e saúde, como prioridade absoluta.

O povo seguiu Jesus porque ele tinha palavras de esperança. Assim, nós somos chamados para anunciar as experiências positivas e os caminhos que levam as comunidades, famílias e pais a serem mais justos e fraternos.

Como discípulos e missionários, convidados a evangelizar, sabemos que força propulsora da transformação social está na prática do maior de todos os mandamentos da Lei de Deus: o amor, expressado na solidariedade fraterna, capaz de mover montanhas: "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos" significa trabalhar pela inclusão social, fruto da Justiça; significa não ter preconceitos, aplicar nossos melhores talentos em favor da vida plena, prioritariamente daqueles que mais necessitam. Somar esforços para alcançar os objetivos, servir com humildade e misericórdia, sem perder a própria identidade. Todo esse caminho necessita de comunicação constante para iluminar, animar, fortalecer e democratizar nossa missão de fé e vida. Cremos que esta transformação social exige um investimento máximo de esforços para o desenvolvimento integral das crianças. Este desenvolvimento começa quanto a criança se encontra ainda no ventre sagrado da sua mãe. As crianças, quando estão bem cuidadas, são sementes de paz e esperança. Não existe ser humano mais perfeito, mais justo, mais solidário e sem preconceitos que as crianças.

Não é por nada que disse Jesus: "... se vocês não ficarem iguais a estas crianças, não entrará no Reino dos Céus" (MT 18,3). E "deixem que as crianças venham a mim, pois deles é o Reino dos Céus" (Lc 18, 16).

Hoje vou compartilhar com vocês uma verdadeira história de amor e inspiração divina, um sonho que se fez realidade. Como ocorreu com os discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35), "Jesus caminhava todo o tempo com eles. Ele foi reconhecido a partir do pão, símbolo da vida." Em outra passagem, quando o barco no Mar da Galileia estava prestes a afundar sob violentas ondas, ali estava Jesus com eles, para acalmar a tormenta. (Mc 4, 35-41).

Com alegria vou contar o que "eu vi e o que tenho testemunhado" a mais de 26 anos desde a fundação da Pastoral da Criança, em setembro de 1983.

Aquilo que era uma semente, que começou na cidade de Florestópolis, Estado do Paraná, no Brasil, se converteu no Organismo de Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, presente em 42 mil comunidades pobres e nas 7.000 paróquias de todas as Dioceses da Brasil.

Por força da solidariedade fraterna, uma rede de 260 mil voluntários, dos quais 141 mil são líderes que vivem em comunidades pobres, 92% são mulheres, e participam permanentemente da construção de um mundo melhor, mais justo e mais fraterno, em serviço da vida e da esperança. Cada voluntário dedica em média 24 horas ao mês a esta missão transformadora de educar as mães e famílias pobres, compartilhar o pão da fraternidade e gerar conhecimentos para a transformação social.

O objetivo da Pastoral da Criança é reduzir as causas da desnutrição e a mortalidade infantil, promover o desenvolvimento integral das crianças, desde sua concepção até o seis anos de idade. A primeira infância é uma etapa decisiva para a saúde, a educação, a consolidação dos valores culturais, o cultivo da fé e da cidadania com profundas repercussões por toda a vida.

Um pouco de história:

Sou a 12ª de 13 irmãos, cinco deles são religiosos. Três irmãs religiosas e dois sacerdotes franciscanos. Um deles é D. Paulo Evaristo, o Cardel Arns, Arcebispo emérito de São Paulo, conhecido por sua luta em favor dos direitos humanos, principalmente durante os vinte anos da ditadura militar do Brasil.

Em maio de 1982, ao voltar de uma reunião da Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra, D. Paulo me chamou pelo telefone a noite. Naquela reunião, James Grant, então diretor executivo da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), falou com insistência sobre o soro oral. Considerado como o maior avanço da medicina no século passado, esse soro era capaz de salvar da morte milhões de crianças que poderiam morrer por desidratação devido a diarreia, uma das principais causas da mortalidade infantil no Brasil e no mundo. James Grant conseguiu convencer a D. Paulo para que motivasse a Igreja Católica a ensinar as mães a preparar e administrar o soro oral. Isto podia salvar milhares de vidas.

Viúva fazia cinco anos, eu estava, naquela noite história, reunida com os cinco filhos, entre os nove e dezenove anos, quando recebi a chamada telefônica do meu irmão D. Paulo. Ele me contou o que havia passado e me pediu para refletir sobre ele. Como tornar realidade a proposta da Igreja de ajudar a reduzir a morte das crianças? Eu me senti feliz diante deste novo desafio. Era o que mais desejava: educar as mães e famílias para que soubessem cuidar melhor de seus filhos!

Creio que Deus, de certo modo, havia me preparado para esta missão. Baseada na minha experiência como médica pediatra e especialista em saúde pública e nos muitos anos de direção dos serviços públicos de saúde materna-infantil, compreendi que, além de melhorar a qualidade dos serviços públicos e facilitar às mães e crianças o acesso a eles, o que mais falta fazia às mães pobres era o conhecimento e a solidariedade fraterna, para que pudessem colocar em prática algumas medidas básicas simples e capazes de salvar seus filhos da desnutrição e da morte, como por exemplo a educação alimentar e nutricional para as grávidas e seus filhos, a amamentação materna, as vacinas, o soro caseiro, o controle nutricional, além dos conhecimentos sobre sinais e sintomas de algumas doenças respiratórias e como as prevenir.

Me vem a mente então a metodologia que utilizou Jesus para saciar a fome de 5.000 homens, sem contar as mulheres e as crianças. Era noite e tinham fome. Os discípulos disseram a Jesus que o melhor era que deixassem suas casa, mas Jesus ordenou: "Dai-lhes vós de comer". O apóstolo Felipe disse a Jesus que não tinham dinheiro para comprar comida para tanta gente. André, irmão de Simão, sinalou a uma criança que tinha dois peixes e cinco pães. E Jesus mandou que se sentassem em grupos de cinquenta a cem pessoas (em pequenas comunidades). Então pensei: Por que morrem milhões de crianças por motivos que podem facilmente ser prevenidos? O que faz com que eles se tornem criminosos e violentos na adolescência?

Recordei o inicio da minha carreira, quando me desafiei a querer diminuir a mortalidade infantil e a desnutrição. Vieram a minha mente milhares de mães que trocaram o leite materno pela mamadeira diluída em água suja. Outras mães que não vacinam seus filhos, quando não havia ainda cesta básica no Centro de Saúde. Outras mães que limpavam o nariz de todos os seus filhos com o mesmo pano, ou pegavam seus filhos e os humilhavam quando faziam xixi na cama. E ainda mais triste, quando o pai chegava em casa bêbado. Ao ouvir o grito de fome e carinho de seus filhos, os venciam mesmo quando eram muito pequenos. Sabe-se, segundo resultados de pesquisas da OMS (Organização Mundial da Saúde), cuja publicação acompanhei em 1994, que as crianças maltratadas antes de um ano de idade têm uma tendência significativa para violência, e com frequência fazem crimes antes dos 25 anos.

A Igreja, que somos todos nós, que devíamos fazer?

Tive a seguridade de seguir a metodologia de Jesus: organizara as pessoas em pequenas comunidades; identificar líderes, famílias com grávidas e crianças menores de seis anos. Os líderes que se dispusessem a trabalhar voluntariamente nessa missão de salvar vidas, seriam capacitados, no espírito da fé e vida, e preparados técnica e cientificamente, em ações básicas de saúde, nutrição, educação e cidadania. Seriam acompanhados em seu trabalho para que não se desanimassem. Teriam a missão de compartilhar com as famílias a solidariedade fraterna, o amor, os conhecimentos sobre os cuidados com as grávidas e as crianças, para que estes sejam saudáveis e felizes. Assim como Jesus ordenou que considerassem se todos estavam saciados, tínhamos que implantar um sistema de informações, com alguns indicadores de fácil compressão, inclusive para líderes analfabetos ou de baixa escolaridade. E vi diante de mim muitos gestos de sabedoria e amor apreendidos com o povo.

Senti que ali estava a metodologia comunitária, pois podia se desenvolver em grande escala pelas dioceses, paróquias e comunidades. Não somente para salvar vidas de crianças, mas também para construir um mundo mais justo e fraterno. Seria a missão do "Bom Pastor", que estão atentos a todas as ovelhas, mas dando prioridade àquelas que mais necessitam. Os pobres e os excluídos.

Naquela maravilhosa noite, desenhei no papel uma comunidade pobre, onde identifique famílias com grávidas e filhos menores de seis anos e lideres comunitários, tanto católicos como de outras confissões e culturas, para levar adiante ações de maneira ecumênica, pois Jesus veio par que "todos tenham Vida e Vida em abundância" (João 10,10). Isto é o que precisa ser feito aqui no Haiti: fazer um mapa das comunidades pobres, identificar as crianças menores de 6 anos e suas famílias e lideres comunitários que desejam trabalhar voluntariamente.

Desde a primeira experiência, a Pastoral da Criança cultivou a metodologia de Jesus, que é aplicada em grande escala. No Brasil, em mais de 40 mil comunidades, de 7.000 paróquias de todas as 272 diocese e preladias. Está se estendendo a 20 países. Estes são, na América Latina e no Caribe: Argentina, Bolívia, Colômbia, Paraguai, Uruguai, Peru, Venezuela, Guatemala, Panamá, República Dominicana, Haiti, Honduras, Costa Rica e México; na África: Angola, Guiné-Bissau, Guiné Conakry e Moçambique e na Ásia: Filipinas e Timor Leste.

Para organizar melhor e compartilhar as informações e a solidariedade fraterna entre as mães e famílias vizinhas, as ações se baseiam em três estratégias de educação e comunicação: individual, de grupo e de massas. A Pastoral da Criança utiliza simultaneamente as três formas de comunicação para reforçar a mensagem, motivar e promover mudanças de conduta, fortalecendo as famílias com informações sobre como cuidar dos filhos, promovendo a solidariedade fraterna.

A educação e comunicação individual se fazem através da 'Visita Domiciliar Mensal nas famílias' com grávidas e filhos. Os líderes acompanham as famílias vizinhas nas comunidades mais pobres, nas áreas urbanas e rurais, nas aldeias indígenas e nos quilombos, e nas áreas ribeirinhas do Amazonas. Atravessam rios e mares, sobem e descem montes de encostas íngremes, caminham léguas, para ouvir os clamores das mães e famílias, para educar e fortalecer a paz, a fé e os conhecimentos. Trocam ideias sobre saúde e educação das crianças e das grávidas; ensinam e aprendem.

Com muita confiança e ternura, fortalecem o tecido social das comunidade, o que leva a inclusão social.

Motivados pela Campanha Mundial patrocinadas pela ONU (Organização das Nações Unidas), em 1999, com o tema "Uma vida sem violência é um direito nosso", a Pastoral da Criança incorporou uma ação permanente de prevenção da violência com o lema "A Paz começa em casa". Utilizou como uma das estratégias de comunicação a distribuição de seis milhões de folhetos com "10 Mandamentos para alcançar a paz na família", debatíamos nas comunidades e nas escolas, do norte ao sul do país.

As visitas, entre tantas outras ações, servem para promover a amamentação materna, uma escola de dialogo e compartilhar, principalmente quando se dá como alimento exclusivo até os seis meses e se continua dando como alimento preferencial além do um ano, inclusive além dos dois anos, complementarmente com outros alimentos saudáveis. A sucção adapta os músculos e ossos para uma boa dicção, uma melhor respiração e uma arcada dentária mais saudável. O carinho da mãe acariciando a cabeça do bebe melhora a conexão dos neurônios. A psicomotricidade da criança que mama no peito é mais avançada. Tanto é assim que se senta, anda e fala mais rápido, aprende melhor na escola. É fator essencial para o desenvolvimento afetivo e proteção da saúde dos bebês, para toda a vida. A solidariedade desponta, promovida pelas horas de contato direto com a mãe. Durante a visita domiciliar, a educação das mulheres e de seus familiares eleva a autoestima, estimula os cuidados pessoais e os cuidados com as crianças. Com esta educação das famílias se promove a inclusão social.

A educação e a comunicação grupal têm lugar cada em cada mês em milhares de comunidades. Esse é o Dia da Celebração da Vida. Momento dedicado ao fortalecimento da fé e da amizade entre famílias. Além do controle nutricional, estão os brinquedos e as brincadeiras com as crianças e a orientação sobre a cidadania. Neste dia as mães compartilham práticas de aproveitamento adequado de alimentos da região de baixo custo e alto valor nutritivo. As frutas, folhas verdes, sementes e talos, que muitas vezes não são valorizados pelas famílias.

Outra oportunidade de formação de grupo é a Reunião Mensal de Reflexão e Evolução dos líderes da comunidade. O objetivo principal desta reunião é discutir e estabelecer soluções para os problemas encontrados.

Essas ações integram o sistema de informação da Pastoral da Criança para poder acompanhar os esforços realizados e seus resultados através de Indicadores. A desnutrição foi controlada. De mais de 50% de desnutridos no começo, hoje está em 3,1%. A mortalidade infantil foi drasticamente reduzida e hoje está em 13 mortos por mil nascidos vivos nas comunidades com Pastoral da Criança. O índice nacional é 2,33, mas se sabe que as mortes em comunidades pobres, onde estão a Pastoral da Criança, é maior que é na média geral. Em 1982, a mortalidade infantil no Brasil foi 82,8 mil nascidos vivos. Estes resultados têm servido de base para conquistar entidades, como o Ministério da Saúde, Unicef, Banco HSBC, e outras empresas. Elas nos apoiam nas capacitações e em todas as atividades básicas de saúde, nutrição, educação e cidadania. O custo criança/mês é de menos de US$ 1.

Em relação à educação e à comunicação de massas apresentará três experiências concretas de como a comunicação é um instrumento de defesa dos direitos da infância.

Materiais impressos

O material impresso foi concebido especificamente para ajudar a formação do líder da Pastoral da Criança. Os instrutores e os multiplicadores servem como ferramenta de trabalho na tarefa de guiar as famílias e comunidades sobre questões de saúde, nutrição, educação e cidadania. Além do Guia da Pastoral da Criança, se colocou em marcha publicações como o Manual do Facilitador, Brinquedos e Jogos, Comida e as Hortas Familiares, alfabetização de jovens e adultos e mobilização social.

O jornal da Pastoral da Criança, com tiragem mensal de cerca de 280 mil, ou seja 3 milhões e 300 mil exemplares por ano, chega a todos os líderes da Pastoral da Criança. É uma ferramenta para a formação continua.

O Boletim Dicas abarca questões relacionadas com a saúde e a educação para cidadania. Este especialmente concebido para os coordenadores e capacitadores da Pastoral da Criança. Cada publicação chega a 7.000 coordenadores.

Para ajudar na vigilância das mulheres grávidas, a Pastoral da Criança criou os laços de amor, cartões com conselhos sobre a gravidez e um partos saudável.

Outros materiais impressos de grande impacto social é o folheto com os 10 mandamentos para a Paz na Família, 12 milhões de folhetos foram distribuídos nos últimos anos.

Além desses materiais impressos, se envia para as comunidades da Pastoral da Criança material para o trabalho de pesagem das crianças, objetos como balanças e também colheres de medir para a reidratarão oral e sacos de brinquedos para as crianças brincarem no dia da celebração da vida.

Material de som e vídeo

Outra área em que a Pastoral da Criança produz materiais é de som e a produção de filmes educativos. O Show ao vivo da Rádio da Vida, produzido e gravado no estúdio da Pastoral da Criança, chega a milhões de ouvintes em todo Brasil. Com os temas de saúde, de educação na primeira infância e a transformação social, o programa de rádio Viva a Vida se transmite semanalmente 3.740 vezes. Estamos "no ar", de 2.310 horas semanais em todo Brasil. Além disso, o Programa Viva a Vida também se executa em vários tipos de sistemas de som de CD e aparados nas reuniões de grupo.

A Pastoral da Criança também produz filmes educativos para melhorar e dar conhecimento de seu trabalho nas bases. Atualmente há 12 títulos produzidos que sem ocupam na prevenção da violência contra as crianças, comida saudável, na gravidez, e na participação dos Conselhos Municipais de Saúde, na preservação da AIDS e outros.

Campanhas

A Pastoral da Infância realiza e colabora em várias campanhas para melhorar a qualidade de vida das mulheres grávidas, famílias e crianças. Estes são alguns exemplos:

a. Campanhas de sais de reidratação oral

b. Campanha de Certidão de Nascimento: a falta de informação, a distância dos cartórios e a burocracia fazem com que as pessoas fiquem sem certidões de nascimentos.

b. Campanha de Certidão de Nascimento: a falta de informação, a distância dos escritórios e a burocracia fazem com que as pessoas fiquem sem uma certidão de nascimento. A mobilização nacional para o registro civil de nascimento, que une o Estado brasileiro e a sociedade, [busca] garantir a cada cidadão de pleno direito o nome e os direitos.

c. Campanha para promover o aleitamento materno: o leite materno é um alimento perfeito que Deus colocou à disposição nos primeiros anos de vida.
Permanentemente, a Pastoral da Criança promove o aleitamento materno exclusivo até os seis meses e, em seguida, continuar, com outros alimentos. Isso protege contra doenças, desenvolve melhor e fortalece a criança.

d. Campanha de prevenção da tuberculose, pneumonia e hanseníase: as três doenças continuam a afetar muitas crianças e adultos em nosso país. A Pastoral da Criança prepara materiais específicos de comunicação para educar o público sobre sintomas, tratamento e meios de prevenção destas doenças.

e. Campanha de Saneamento: o acesso à água potável e o tratamento de águas residuais contribuem para a redução da mortalidade infantil. A Pastoral da Criança, em colaboração com outros organismos, mobiliza a comunidade para a demanda por tais serviços a governos locais e usa os meios ao seu dispor para divulgar informações relacionadas ao saneamento.

f. Campanha de HIV/Aids e Sífilis: o teste do HIV/Aids e sífilis durante o pré-natal permite a redução de 25% para 1% do risco de transmissão para o bebê. A Pastoral da Criança apoia a campanha nacional para o diagnóstico precoce destas doenças.

g. Campanha para a Prevenção da morte súbita de bebês "Dormir de barriga para cima é mais seguro": Com a finalidade de alertar sobre os riscos e evitar até 70% das mortes súbitas na infância, a Pastoral da Criança lançou esta grande campanha dirigida às famílias para que coloquem seus bebês para dormir de barriga para cima.

h. Campanha de Prevenção do Abuso Infantil: Com esta campanha, a Pastoral da Criança esclarece as famílias e a sociedade sobre a importância da prevenção da violência, espancamentos e abuso sexual. Esta campanha inclui a distribuição de folheto com os dez mandamentos para a paz na família, como um incentivo para manter as crianças em uma atmosfera de paz e harmonia.

i. Campanha - 20 de novembro, dia de oração e de ação para as crianças: A Pastoral da Criança participa dos esforços globais para a assistência integral e proteção a crianças e adolescentes, em colaboração com a Rede Mundial de Religiões para a Infância (GNRC).

Em dezembro de 2009, completei 50 anos como médica e, antes de 2002, confesso que nunca tinha ouvido falar em qualquer programa da Unicef ou da Organização Mundial de Saúde (OMS), ou de outra agência da Organização das Nações Unidas (ONU), que estimulasse a espiritualidade como um componente do desenvolvimento pessoal. Como um dos membros da delegação do Brasil na Assembleia das Nações Unidas em 2002, que reuniu 186 países, em favor da infância, tive a satisfação de ouvir a definição final sobre o desenvolvimento da criança, que inclui o seu "desenvolvimento físico, social, mental, espiritual e cognitivo". Este foi um avanço, e vem ao encontro do processo de formação e comunicação que fazemos na Pastoral da Criança. Neste processo, vê-se a pessoa de maneira completa e integrada em sua relação pessoal com o próximo, com o ambiente e com Deus.

Estou convencida de que a solução da maioria dos problemas sociais está relacionada com a redução urgente das desigualdades sociais, com a eliminação da corrupção, a promoção da justiça social, o acesso à saúde e à educação de qualidade, ajuda mútua financeira e técnica entre as nações, para a preservação e restauração do meio ambiente. Como destaca o recente documento do papa Bento 16, "Caritas in veritate" (Caridade na verdade), "a natureza é um dom de Deus, e precisa ser usada com responsabilidade." O mundo está despertando para os sinais do aquecimento global, que se manifesta nos desastres naturais, mais intensos e frequentes. A grande crise econômica demonstrou a inter-relação entre os países.

Para não sucumbir, exige-se uma solidariedade entre as nações. É a solidariedade e a fraternidade aquilo de que o mundo precisa mais para sobreviver e encontrar o caminho da paz.


Dra. Zilda Arns Neumann
Médica pediatra e especialista em Saúde Pública
Fundadora e Coordenadora da Pastoral da Criança Internacional
Coordenadora Nacional da Pastoral da Pessoa Idosa
Falecida no dia 13 de janeiro de 2010, no terremoto que devastou o pais do Haiti

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O pronunciamento

E, apesar das suas diferenças doutrinárias, nos dias que seguiram os teólogos conseguiram redigir uma nota contendo sete pontos essenciais sobre os quais os quatro concordavam, a respeito da origem do mal e da posição divina diante das grandes calamidades. Deixaram o documento na caixa de sugestões do céu, que não tem fundo, juntamente com uma carta de apresentação e um abaixo-assinado com poucas assinaturas, mas de prestígio.

A resposta demorou meses a vir, e chegou endossada por um número impossivelmente abundante de selos, rubricas e carimbos, cada um atestando a passagem do processo por uma repartição celeste.

“O último pronunciamento oficial da divindade foi abraçar uma plena humanidade e morrer, e no intervalo entre uma coisa outra investir seus esforços em mitigar os sofrimentos dos homens e reparar as injustiças a que se submetem mutuamente, tendo deixado instrução para que seus seguidores vivessem e morressem dessa mesma forma. Não existe qualquer previsão para uma revisão deste pronunciamento, e a divindade não encontra-se disponível para esclarecimentos adicionais. A primeira vez em que foi visto publicamente Deus estava com as mãos sujas de barro, e na sua última aparição pública ostentava as cicatrizes de sua paixão pelos seres humanos. A administração do céu não reconhece outro lugar onde Deus possa ser encontrado, ou outra maneira pela qual possa ser reconhecido”. Leia +


Paulo Prabo

sábado, 16 de janeiro de 2010

A volta ao que poderia ter sido

Pedro mal acaba de falar, crentes e observadores não pararam de tremer, e dois mil anos de leitores não sabem exatamente o momento de virar a página. Não é coisa simples, e daí a necessidade de múltiplas abordagens e múltiplas metáforas, apreender o significado do que acaba de acontecer. A narrativa de Atos está amarrada ao redor de três ou quatro momentos-chave, cada um deles trazendo uma reviravolta e uma impensável revelação, e Pentecostes é apenas o primeiro deles.

O extraordinário no livro de Atos está na sua ousadia de procurar acrescentar singularidade àquela que é por si mesma a mais singular das narrativas, o fio tecido pelos evangelhos ao redor da figura de Jesus. O Jesus dos evangelhos abraça idéias e posturas de uma singularidade sem precedentes, mas Atos quer demonstrar que sua subversão e sua originalidade não morreram, por assim dizer, com a ascensão. Para competir com a prodigiosa esperteza do homem de Nazaré será preciso apresentar uma reviravolta após a outra, e trata-se de audácia que nenhum outro texto ou autor do Novo Testamento, nem mesmo Paulo, tentará superar.

A fim de abarcar o peso deste momento, e na tentativa de rastrear o espírito que o possibilitou, é preciso lembrar que as coisas poderiam ter sido diferentes. Estamos habituados, pelo menos superficialmente, à noção da vertiginosa democracia do Espírito – homens e mulheres, jovens e velhos falando indiscriminadamente com profética lucidez. Esquecemos que, mesmo diante da singularidade da pessoa e do ensino de Jesus, essa prodigalidade era naquele momento da história – e permanece no nosso – extraordinária.

Esquecemos que poderia ter sido diferente, e devemos por isso retroceder um momento.

Enquanto aguardam o momento da manifestação do Espírito, e sem saber exatamente o que esperar dele, cento e vinte pessoas estão reunidas debaixo de um mesmo teto e de uma mesma perplexidade. Trata-se de gente comum, sem qualquer pendor para a eloquência ou para a revolução, que viu-se arrebatada numa aventura ao lado de um homem absolutamente extraordinário em palavras, idéias e atos. Esse seu herói fez justiça sem empunhar uma espada, propôs uma nova ordem sem apelar para hierarquias, mostrou-se homem de Deus condenando gente de bem e louvando repulsivos marginais. Esse sujeito original foi assassinado injustamente, ressuscitou com justiça, abraçou-os ternamente e por fim partiu, deixando-lhes nas mãos trementes a mais maravilhosa e terrível das heranças. Maravilhosa, porque ele chamou-os de amigos e convidou-os a partilhar da sua glória vivendo como ele viveu e para o mesmo fim; mas também terrível, porque quem seria capaz de viver à altura daquele homem? De que forma? Com que recursos?

Como continuar sendo seguidor de Jesus agora que ele tinha partido “para onde vocês não podem me seguir”?

Das soluções que poderiam ter prevalecido, consigo pensar em duas. A primeira seria solidificar o passado, prescrevendo que a vida de cada seguidor deveria ser cópia literal da vida de Jesus conforme descrita nos evangelhos. Ser cristão, dessa forma, seria viver como Jesus viveu no sentido mais obsessivo e rigoroso da coisa. Se essa solução tivesse prevalecido, todos os cristãos seriam carpinteiros e filhos de carpinteiros; todos saíriamos pelo mundo (sem viajar para muito longe de casa) repetindo sem adição e sem variação as mesmas parábolas que Jesus contou, tentanto repetir os mesmos milagres e procurando angariar seguidores entre cobradores de impostos, prostitutas e pescadores, mais ou menos ignorando qualquer outra categoria profissional. Todos seríamos celibatários, bem como nossos pais e nossos avós antes deles; todos, como cristãos, tentaríamos morrer crucificados, e apenas os que conseguissem mereceriam esse nome.

Outra solução seria manter Jesus presente na história através de aparições. Como uma fada madrinha ou um deus ex machina, o Filho do Homem poderia aparecer em pessoa para um ou mais de seus discípulos sempre que alguma exortação, ensino ou esclarecimento fossem necessários. Numa passagem preservada por Eusébio, Clemente de Alexandria fornece um vislumbre de como as coisas poderiam ter sido se essa solução tivesse prevalecido: “a Tiago, o Justo, bem como a João e a Pedro, o Senhor depois da sua ressurreição transmitiu conhecimento. Esse conhecimento eles transmitiram-no aos demais apóstolos, e esses por sua vez aos Setenta, do qual Barnabé era um”.

Neste mundo sem o Espírito, Jesus continuaria a agir e a falar, porém de modo pulverizado e através de pequenas e contínuas revelações de caráter didático, aditivo e corretivo.

O problema com essas duas soluções, a mumificação literal da vida de Cristo e a revelação continuada através de aparições, é que nenhuma das duas segue adequadamente o espírito – isto é, nenhuma delas “tem a cara” – do subversivo rabi de Nazaré. A primeira representaria afronta ao invés de consagração; especialmente no caso de Jesus, seguir literalmente é muitas vezes o mesmo que recusar-se a entender. A segunda, como demonstra a passagem de Clemente, representaria a legitimação final da hierarquia. Os iluminados seriam aqueles aos quais Jesus se dignaria a aparecer em pessoa; cristãos plebeus e ordinários, todos abaixo desses no organograma.

A solução que irá brotar e prevalecer é muito mais revolucionária e exigente (e portanto mais digna de Jesus) do que essas duas, mas os cristãos permanecem continuamente tentados a reverter a elas. Ainda brincamos com a idéia de que ser seguidor de Jesus é papagaiá-lo em palavras e filigranas, e fazendo isso engolimos o mosquito e coamos o camelo. Ainda patinamos no lamaçal das revelações e das aparições, e trememos de deleite ou inveja quando alguém oferece um “o Senhor me disse”, ou “o Senhor me revelou”.

Perceber e abraçar individualmente a responsabilidade do Espírito é coisa muito mais severa e arrojada, mas os primeiros discípulos intuíram com acerto que a herança de Jesus não exigiria menos. Leia +


Paulo Brabo

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Quando o evangelho da graça toma conta de nós

Quando o evangelho da graça toma conta de nós, algo passa a estar muito certo. Vivemos na verdade e na realidade. Quando sou honesto, admito que sou um amontoado de paradoxos. Creio e duvido, tenho esperança e sinto-me desencorajado, amo e odeio, sinto-me mal quando me sinto bem, sinto-me culpado por não me sentir culpado. Sou confiante e desconfiado. Honesto e ainda assim insincero. Aristóteles diz que sou um animal racional; eu diria que sou um anjo com um incrível potencial para cerveja.

Viver pela graça significa reconhecer toda a história da minha vida, o lado bom e ruim. Ao admitir o meu lado escuro, aprendo quem sou e o que a graça de Deus significa. Como colocou Thomas Merton: “Um santo não é alguém bom, mas alguém que experimenta a bondade de Deus”.

O evangelho da graça nulifica a nossa adulação aos tele-evangelistas, superastros carismáticos e heróis da igreja local. Pois a graça proclama a assombrosa verdade de que tudo é de presente. Tudo de bom é nosso não por direito, mas meramente pela liberalidade de um Deus gracioso. A nós foram-nos dados Deus em nossa alma e Cristo na nossa carne. Temos poder de crer quando outros negam; de ter esperança quando outros desesperam; de amar quando outros ferem. Isso e muito mais é pura e simplesmente de presente; não é recompensa a nossa fidelidade, a nossa disposição generosa, a nossa vida heróica de oração. Até mesmo nossa fidelidade é um presente. “Se nos voltarmos para Deus”, disse Agostinho, “até mesmo isso é um presente de Deus”.

Em Lucas 18 um jovem rico vem até Jesus perguntando o que ele deve fazer para herdar a vida eterna. Ele quer ser colocado no centro das atenções. O ponto central de Jesus é o seguinte: não há coisa alguma que qualquer um de nós possa fazer para herdar o Reino. Devemos simplesmente recebê-lo como criancinhas.


Brennan Manning, em "O Evangelho Maltrapilho" da editora Mundo Cristão

Fé no amor de Deus

Ai vai um pouco de Brennan Manning.



A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A Paz, por Jean-Yves Leloup

Paz, em hebraico, é Shalom, e, literalmente, Shalom quer dizer: “estar inteiro”, “estar em repouso”... É então conveniente que perguntemos: o que nos impede de estarmos inteiros? O que nos impede de experimentarmos o repouso, isto é, de estarmos em paz?

As respostas são múltiplas; destaco apenas as que me parecem essenciais;

- O que nos impede de estarmos inteiros, de estarmos inteiramente presentes na integridade do que somos, é o medo.

- O que nos permite estarmos inteiros, estarmos inteiramente presentes na integridade do que somos, é o amor.

O contrário do amor, e portanto da realização do que somos, não é fundamentalmente o ódio, e sim o medo.

Medo de quem? Medo de que?

Medo de amar, melhor dizendo, de se perder, pois amar antes de se encontrar é perder-se.

Certamente, existe toda sorte de medo: do desconhecido, do sofrimento, do abandono, da morte... Todos esses medos podem resumir-se num só: medo de ser “nada”.

Este medo nos leva a esforços inimagináveis, para provarmos a nós mesmos e aos outros que somos alguma coisa e que “vale a pena” sermos amados, que o merecemos... Ser amado seria, portanto, um direito do homem?

Infelizmente, este é um segredo muito bem guardado: aquele que procura ou solicita o amor jamais o encontrará... Só o encontramos no momento em que o damos... Unicamente quem ama, quem se torna amável e é capaz desse dom “gracioso” recebe o amor gratuitamente. O Amor jamais se manifesta àquele que o pede, mas se revela sem cessar a quem o doa. Aquele que compreendeu e viveu isto sente-se em paz. E também inteiro, porque só o amor nos realiza (e é o cumprimento da lei).

O medo nos “castra”, torna-nos enfermos e impede a livre circulação da vida em todos os nossos membros. E no Amor não há “membros impuros”: “Tudo é puro para aquele que é puro”; é o Amor que purifica.

Amar com todo o seu ser, este é o mandamento (mitzvah), ou, mais exatamente, o “exercício” que nos é proposto: “Amarás com todo o teu coração, com todo o teu espírito, com todas as tuas forças”; isto traz também uma esperança.

Um dia amarei inteiramente, não somente com o meu corpo, minha cabeça ou meu coração, mas “inteiramente”; um dia, se almejo isto sem perder a esperança, estarei em paz. Pois é suficiente desejar amar, querer amar, mesmo que ainda não seja amar... Bem sabemos que o inferno não está nos outros; o inferno é não amar, é não se amar inteiramente, até em nossa dificuldade e algumas vezes em nossa incapacidade de amar...

Nesse caso, talvez seja bastante não mais querer, não mais ter medo deste medo sutil, menos grosseiro, que é o medo de não ser amado, o medo de não amar... Aquele que perdeu o medo de ser “nada” não tem mais medo de tudo; paradoxalmente, é o medo de ser nada que nos impede de ser tudo. Se aceitássemos, por um instante, este “nada” que somos, este “nada a mais e nada a menos” do que somos, então, nesse mesmo momento, não haveria mais obstáculos à revelação e ao desdobramento do Ser que ama, em nós e através de nós.

Se, supostamente, ser amado é um direito do homem, ser capaz de doar é uma realização, uma graça divina concedida ao homem; a alegria de participar da Dádiva e da Vida do Ser que faz “girar a Terra, o coração humano e as demais estrelas”, generosamente...

Porém, não fosse pelo fato de nos “sentirmos mal”, como seria possível aceitarmos “ser nada” quando nos sentimos ser alguma coisa? O termo “nada” pode parecer negativo; talvez fosse preciso dizer simplesmente “ser”, sem acrescentar qualquer palavra, para podermos pressentir que o que se soma ao “ser” é algo de “mental” e compreendermos melhor a palavra do Cristo, precedida pela de Buda (seis séculos antes): “O que é, é, o que não é, não é”. Tudo o que é dito a mais vem do mental ou do “mau”, ou ainda, em algumas traduções, do “mentiroso”.

Sentir-se em paz é estar num corpo relaxado, com o coração livre e a mente serena. E conhecendo melhor, hoje, as funções coordenadoras do cérebro, é sem dúvida pelo mental que devemos começar. Ser nada a mais (e nada a menos) do que somos – estar em paz – pressupõe uma mente pacificada, em repouso, e é o segundo sentido da palavra shalom.

Por que não estamos em repouso?

Não somente há o medo de ser “nada” (ser mais ou ser menos do que somos), mas existem as lembranças, com as quais nos identificamos e que tomamos por nosso verdadeiro ser. O caminho para a paz é aquele que nos faz passar das nossas identidades provisórias, irrisórias, transitórias, para a nossa identidade essencial (eu sou o que eu sou).

Os Padres do Deserto falavam de oito logismos, ou pacotes de memórias, com os quais nos identificamos e que nos impedem de estar em paz. São eles:

1. Gastrimargia, ou a identificação com nossas fomes, sedes e apetites, o resultado de todas as nossas necessidades, que e somatizam, na maior parte do tempo, oralmente (bulimia, anorexia);
2. Philarguria, ou o medo de nos faltar algo, que se manifesta pela acumulação de bens inúteis; identificamo-nos e buscamos a segurança, pelo que temos e pelo que possuímos;
3. Pornéia, ou a identificação com a nossa vida pulsional, com o medo de nos faltar vitalidade e desejo;
4. Orgé, ou a dominação do irascível e do emocional, a cólera de não ser reconhecido como “centro do mundo”, “digno de reconhecimento e respeito”;
5. Lupé, ou a tristeza de não sermos amados como gostaríamos de ser;
6. Acedia, ou a tristeza de não sermos amados de forma alguma, o desespero diante da evidência de que nunca fomos e nunca seremos amados (a menos que cessemos de pedir e nos tornemos capazes de doar);
7. Kenodoxia, ou a vaidade e a presunção que nos identificam com a imagem que fazemos de nós mesmos, independentemente do que somos na verdade; isto só acontece com angústia, e esta é proporcional à diferença que existe entre o que somos e o que pretendemos ser;
8. Uperephania, sem dúvida, a patologia mais grave: trata-se de colocar nossa identidade ilusória como se fosse a única realidade, e tomarmos a nós mesmos por única referência e juizes do que é bom ou mau; considerar todas as coisas em relação ao prazer ou desprazer que elas nos proporcionam e fazer delas uma lei válida para todos.

Aos oito logismos, ou pensamentos, poderíamos acrescentar muitos outros, como o ciúme, a inveja... e todas as projeções que nos impedem de ver e de aproveitar o que está no presente. Não por acaso, mais tarde, os Padres do Deserto chamaram estes pensamentos ou expressões da mente, que constituem obstáculos à apreensão simples e pacífica do que existe e do que somos, de “demônios” (shatan, que, em hebraico, quer dizer: “obstáculo”).

Em resumo, o principal obstáculo à paz, o maior dos demônios é a nossa própria mente, este reservatório de emoções passadas, que se derrama sem parar sobre o presente; este “pacote de memórias” que denominamos ego, ou eu. Quem sofre ou é infeliz é sempre o eu e nossa identificação com o que não somos realmente.

Que só o presente existe é um segredo bem guardado; o que era, não é mais; o que será, ainda não é; se vivermos eternamente em nossos arrependimentos e projetos, teremos que sofrer e passaremos ao largo do “segredo”... “Ora ao teu Pai que está aí, dentro do segredo”, na presença do que é presente. São palavras do Evangelho e também palavras de cura...

A morte não existe ainda, ela não é. Só permanece este “Eu Sou”, que existe desde sempre e para sempre. Não podemos ir para outro lugar, senão onde estamos; e onde nos encontramos aqui já estamos. Por que procurar, em outra parte, a vida e a paz que nós somos, se a paz é nossa verdadeira natureza, não está por fazer? Trata-se, primeiramente, de conferir menos importância àquilo que nos “impede” de estar em paz; depois, não lhe dar importância alguma, se quisermos; e isto significa aderir, instante após instante, ao que é, com um espírito silencioso, uma mente serena, ou melhor, não identificados com as memórias e com as emoções que essas memórias provocam.

Lembrar-se de que nossa verdadeira natureza está em paz é uma forma universal de oração. Essa rememoração de nosso ser verdadeiro encontra-se, efetivamente, na base das práticas de meditação de várias culturas ou religiões (dhikr – prática islâmica; japa – modalidade de ioga; hesicasmo – seita antiga de místicos cristãos orientais, etc.).

Temos medo de que? De perdermos a cabeça, perdermos a alma, de não sermos o que nossas memórias nos dizem que somos, não sermos coisa alguma do que pensamos ser? Perdem-se as ilusões, os pensamentos, e fica somente o medo de morrer. Se eu paro de me identificar com o que deve morrer, permaneço já naquilo que sou desde sempre.

Não pode haver outro artesão da paz que não seja aquele cujo corpo está relaxado, que tem o coração livre e a mente pacificada. Mesmo o nosso desejo de paz pode tornar-se uma tensão, um nervosismo, um obstáculo à paz, uma obrigação, um dever que se somará à infelicidade e à inquietação do mundo.

Afirmar que estamos em paz não é negar nossos medos, nossas memórias, nossos sofrimentos... é colocá-los em seus devidos lugares, na corrente insensata e tranqüila da verdadeira Vida...


Jean-Yves Leloup

Um pouco Jean-Yves Leloup

" O cristão não é alguém que "tem" a verdade, alguém mais inteligente, mais amante do que os outros. O cristão não é melhor do que um outro homem, mas tem alguém em sua vida. Tem o Cristo, aquele que sopra no sopro de cada um dos seus dias.

Mas, mesmo que o receba como um beijo, como uma presença, não é por isso que o cristão é melhor... Ele poderá ser melhor somente porque alguém de melhor marcha com ele, está nele! "


" Na cruz, o Cristo encontra-se no ápice do poder... exactamente porque Ele se encontra no auge do amor! Ele mostra, então, que o verdadeiro poder é o amor e que nada é possível contra o amor.

Não é possível impedir o Cristo de amar: "Perdoai-lhes porque eles não sabem o que fazem..."
Até ao último instante, Ele é o mais forte. E Ele é o mais forte, na extrema fraqueza! "


Jean-Yves Leloup, em "Amar... apesar de tudo"

Por que ir à igreja é o menor dos seus problemas

Estou inteiramente convicto (e já devo ter deixado suficientemente clara essa posição) de que a fidelidade de uma pessoa ao ensino, à herança e às expectativas de Jesus não tem nenhuma relação com a assiduidade da participação dessa pessoa nas atividades de uma agremiação religiosa de sua escolha. Sou ao mesmo tempo obrigado a apontar constantemente, através de citações e circunlóquios, que nada há de novo ou de original nessa idéia aparentemente revolucionária. Seria especialmente inexato chamá-la de revelação recente, visto que essa mesma noção tende a voltar periodicamente à tona ao longo dos séculos, e já esteve presente, por exemplo, na boca coletiva de Erasmo, de Tolstói, de Dostoiévski, de H. G. Wells, de Harnack, de Feuerbach, de Kierkegaard, de Simone Weil, de Bonhoeffer e – ainda mais tremendo e prenhe de consequências – do próprio Jesus, de seus primeiros seguidores e de seus primeiros biógrafos.

Por outro lado, é inteiramente natural que a idéia soe inédita e subversiva a cada vez que é articulada. Porque, se for verdade (como vejo que é), e se for cada vez mais aceita como verdade (como penso que está sendo, e por inúmeros motivos), haverá portentosas consequências para todo mundo.

Haverá, por exemplo, graves consequências para as próprias agremiações de que estamos falando. Outro dia alguém me escreveu, em tom de jocosa provocação, perguntando o que deveriam fazer os pastores evangélicos se todas as suas ovelhas seguissem os passos do Paulo Brabo e deixassem sumariamente de frequentar suas próprias igrejas. A resposta, que mandei imediatamente, não poderia ter sido mais enfática: “deveriam, evidentemente, tomar por concluída a sua tarefa!”

Se essa noção for sendo aceita como verdadeira, haverá ainda toda uma gama de consequências para os próprios frequentadores e ex-frequentadores de igreja, bem como para os candidatos a uma coisa e outra. Em especial, o que persiste no ar neste momento (em que um número cada vez maior de cristãos parece estar inteiramente pronto a debandar sensatamente do jugo da formalidade eclesiástica e abraçar a vertiginosa vocação do cristianismo secular) é a tentação de pensar que o ato escrupuloso e heróico de deixar de ir à igreja representa o atingimento de uma nova e notável estirpe de maturidade espiritual, um nirvana ao qual a massa dos igrejeiros, em sua cegueira e obtusidade, parece estar tão distante de alcançar.

É hora, evidentemente, de tratar deste assunto, e esta é a justificativa destas reflexões. Porque pode ser que você sinta-se finalmente pronto para dar o definitivo e corajoso passo na direção de Deus e para longe da religião; talvez você sinta-se enfaticamente chamado a participar da esclarecida elite dos que entenderam a mensagem secreta de Jesus e estão prontos a abraçar as consequências rigorosíssimas desta gnose; talvez você sinta-se inequivocamente desafiado a abandonar os confortos da igreja institucional em favor do cristianismo puro e simples daquele que não tinha, não tem e não terá onde reclinar a cabeça.

Pois se você se encaixa neste perfil, jovem candidato, o que você precisa ouvir é que a motivação legítima para abandonar a instituição deve ser a custosa consciência de não ser melhor do que ninguém, e não a gostosa conclusão de ter alcançado maior compreensão do que alguns; deve ser a insana disposição de abraçar a comunhão com todos, não a elite com uns poucos; deve nascer de uma nova capacidade de encontrar sensatez em todas as tradições religiosas, e não de uma velha habilidade de apontar adequadamente os defeitos da sua. Deve estar relacionada à vontade de abrir todas as portas, e não ao alívio de ver fechada uma. Antes de decidir deixar de fazê-lo, é preciso sacar que frequentar uma igreja é provavelmente o menor dos seus problemas.

A verdade, incrivelmente, é que Jesus não veio libertar você ou quem quer que seja daquilo que costumo chamar de igreja formal ou institucional.

Ele deixou claro, e disso não deve haver dúvida, que cada seguidor seu deve ser capaz de abraçar simultaneamente o peso da liberdade e a graça da responsabilidade. Ele chegou a dizer que este seria um caminho estreito, adotado por poucos ou com muito custo, mas não chegou a dizer onde o caminho levaria ou o que exigiria – provavelmente porque cada um teria de encontrar sua própria resposta, e no final haveria uma resposta para cada pessoa. Ele sem qualquer dúvida denunciou espetacularmente as armadilhas e tentações da religiosidade formal e mostrou-se invariavelmente pronto a criticar os religiosos profissionais em sua missão autoimposta e diabólica de semear a culpa e endossar a opressão. Por outro lado, e deve ser a hora de enfatizarmos isso, Jesus não chegou a convidar uma única pessoa, fosse um judeu trêmulo ou um carola romano pagão, a abandonar ou rejeitar sua própria tradição religiosa.

A tremenda singularidade dos evangelhos não está na revelação de que Deus não exige os sacrifícios da religiosidade e não encontra prazer neles; isso os profetas haviam deixado suficientemente claro quatrocentas páginas antes. A reviravolta trazida pelo exemplo, pela palavra e pela pessoa de Jesus é, como em tudo que diz respeito a ele, ao mesmo tempo mais exigente e mais sutil; é ao mesmo tempo mais pessoal e mais universal. Jesus não veio libertar o homem religioso das instituições religiosas, veio libertar a humanidade inteira de um paradigma ainda mais debilitante e infantilizante, de uma visão de mundo que chamarei, em regime temporário e na falta de melhor termo, de espiritualidade devocional.

Em tudo que faz e diz Jesus ao longo dos evangelhos promove a demolição dessa estirpe devocional de espiritualidade, propondo em seu lugar uma nova e revolucionária alternativa – uma espiritualidade, por assim dizer, existencial. Ao longo desta série de artigos quero deixar claro esta distinção e este método.

O fato é que a espiritualidade devocional é de tal modo insidiosa que você pode abandonar a igreja formal e ainda permanecer inteiramente aleijado pela espiritualidade devocional; em contraste, há os que permanecem voluntariamente debaixo das disciplinas (sempre arbitrárias) da instituição mas já foram inteiramente salvos das cadeias e escamas da espiritualidade devocional, e estes de nada mais precisam ser libertos. É por isso que é preciso ficar claro que deixar de ir à igreja não resolve nenhum problema e não envolve mérito algum. Frequentar a igreja é nada, e deixar de fazê-lo nada é; pelo contrário, sete demônios novos podem estar prontos para assumir o lugar daquele que você pensa que expulsou.

Aquilo de que precisamos ser salvos é da espiritualidade devocional – em favor de uma espiritualidade essencial e existencial, e isso pela exposição ao espírito subversivo de Jesus. É verdade que, em termos estritos, nenhuma manifestação exclusivista e proselitista de religião formal sobreviverá (e estou agora esperando que tudo dê certo) à vitória final da espiritualidade existencial. O que teremos na conclusão será uma forma inegociavelmente generosa e inclusiva de ortodoxia, mas esta é outra história. A missão de Jesus não é acabar com a religião. Embora a capitulação da religiosidade seja o resultado inevitável da assimilação universal da sua mensagem, seu cerne pulsante reside em outro lugar: no convite, no anúncio e na iminência do reino de Deus.

O que posso adiantar é que a espiritualidade devocional, que Jesus veio abolir, procura se expressar e se manter inteligível e relevante através de palavras e conceitos, e a espiritualidade existencial só sabe fazê-lo através de pessoas. A espiritualidade devocional procura encontrar Deus em todo lugar; a espiritualidade existencial procurar fornecer Deus a todos. A espiritualidade devocional tem sonhos e escrúpulos, a existencial não tem ilusões; a espiritualidade devocional pede confortos para si, a existencial provê conforto para os outros; a espiritualidade devocional submete-se à ilusão da vontade do grupo, a existencial exige o preço do autoconhecimento; a espiritualidade devocional busca sinais de que Deus esteja ouvindo, a existencial busca fornecê-los. A espiritualidade devocional almeja a intervenção de Deus e o controle do homem, a espiritualidade existencial quer a intervenção do homem e o reino de Deus. Leia +


Paulo Brabo

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Feridas e cura

Ninguém escapa de ser ferido. Somos todos pessoas feridas, física, emocional, mental ou espiritualmente. A questão principal não é "como podemos esconder nossas feridas", assim não temos de nos sentir envergonhados, mas "como podemos colocá-las a serviço de outros".

Quando nossas feridas deixam de ser uma fonte de vergonha e passam a uma fonte de cura, tornamo-nos pessoas feridas que curam.

Jesus é o enviado de Deus que, mesmo ferido, cura. Por meio de suas feridas somos curados. O sofrimento e a morte de Jesus trouxeram alegria e vida. Sua humilhação trouxe glória; sua rejeição, uma comunidade de amor.

Como seguidores de Jesus, também podemos permitir que nossa feridas tragam a cura aos outros.


Henri Nouwen, em "Pão para o caminho"

Mistério, Amor e Deus

O mistério do amor de Deus consiste em que os nossos corações ardentes e os nossos ouvidos e olhos receptivos possam descobrir que Aquele que encontrámos na intimidade do nosso ser continue a revelar-se a nós entre os pobres, os doentes, os famintos, os prisioneiros, os refugiados e todas as pessoas que vivem no medo.

Assim percebemos finalmente que a nossa missão não consiste apenas em ir falar do Senhor ressuscitado aos outros, mas também em receber esse testemunho daqueles a quem somos enviados.

Muitas vezes, a missão é vista exclusivamente em termos de dar, mas a verdadeira missão também é receber. Se é verdade que o Espírito de Jesus sopra onde quer, não há ninguém que não possa transmitir esse mesmo Espírito. A longo prazo, a missão só é possível na medida em que for tanto receber como dar, tanto ser amado como amar. Nós somos enviados aos doentes, aos moribundos, aos deficientes, aos prisioneiros e aos refugiados para lhes levar a boa nova da ressurreição do Senhor. Em breve, porém, ficaremos queimados, se não conseguirmos receber o Espírito do Senhor daqueles a quem somos enviados.

Esse Espírito, o Espírito de amor, está escondido na sua pobreza, fragilidade e dor. Foi por isso que Jesus disse: «Bem aventurados os pobres, os perseguidos, os que choram.» De cada vez que lhes estendermos a mão, eles, por sua vez – quer tenham consciência disso quer não – abençoar-nos-ão com o Espírito de Jesus, tornando-se assim nossos ministros.

Sem esta troca mútua de dar e receber, missão e ministério tornam-se facilmente manipuladores ou violentos. Quando só um é que dá e o outro recebe, quem dá, em breve, torna-se opressor e quem recebe torna-se vítima. No entanto, quando o que dá recebe e o que recebe dá, o círculo de amor, iniciado na comunidade dos discípulos, pode crescer até abarcar o mundo.


Henri Nouwen, em “Não nos ardia o coração?”

Mais uma boa música

Eu gosto, rs.




A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A dificuldade de perdoar

"Tenho dificuldade em perdoar quem me ofendeu verdadeiramente, principalmente quando acontece mais que uma vez. Começo a duvidar daquele que pede perdão pela segunda, terceira ou quarta vez. Mas Deus não faz contas. Deus aguarda simplesmente o nosso regresso, sem ressentimento ou desejo de vingança. Deus quer que regressemos a casa. 'O Amor do Senhor é para sempre.'

Talvez o motivo porque eu tenho tanta dificuldade em perdoar aos outros seja o de não acreditar ser inteiramente perdoado. Se eu fosse capaz de aceitar como verdade que sou perdoado e não tivesse que viver com culpa e vergonha, seria verdadeiramente livre. A minha liberdade permitir-me-ia perdoar aos outros setenta vezes sete.

Não perdoando, eu próprio me acorrento ao desejo de vingança, perdendo assim a liberdade. Quem é perdoado perdoa. É isto que proclamamos quando rezamos 'perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.'

Esta luta duma vida inteira é o centro da vida cristã."


Henri Nouwen, em "A Caminho de Daybreak"

Ressurgência, ai vai uma boa dica

Galera, em outubro se é comemorado o mês da reforma protestante, mas exatamente o dia 31, o dia de Martinho Lutero e suas 95 teses, e nesse mês no ano passado na igreja Presbiteriana Chacará Primavera (visite o site clicando aqui) o Pr Ricardo Agreste pregou uma série de mensagens sobre o tema, e essa é a dica da vez, confira as mensagens clicando aqui.


A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Ano novo sem resoluções

“Por mais que insistisse com Deus sobre a necessidade de avaliar e planejar, ele me convidava a simplesmente estar e descansar em sua presença”

Era sexta-feira, 2 de janeiro de 2009, a segunda manhã de um novo ano. Em casa, todos ainda estavam dormindo. O silêncio se contrastava com a intensidade dos últimos dois dias. Parentes e amigos haviam nos presenteado com a oportunidade de tê-los em nossa nova casa nas celebrações da passagem de mais um ano. Com isso, meu tempo havia sido consumido nos preparativos, na recepção e no esforço de prover a todos o tempo mais agradável possível. Somente naquela manhã, passadas as comemorações da véspera, consegui entrar no escritório para aquietar-me diante de Deus e refletir sobre os desafios do ano novo.

Enquanto minha alma se silenciava na presença de Deus, os rumores das muitas vozes que nos últimos dois dias haviam demandado minha atenção iam gradativamente se dissipando. Seria impossível ouvir ao Senhor sem primeiramente aquietar minha alma. Pouco a pouco, fui tomado por um sentimento de profundo prazer sem que qualquer palavra fosse pronunciada por mim. Em absoluto silêncio, senti-me acolhido por Deus e convidado a descansar em seus braços. Contudo, permanecia preocupado – eu ainda não fizera os costumeiros planos de boas intenções e necessárias ações para com a vida pessoal, familiar e profissional. Afinal, pensava, ninguém pode iniciar um ano sem boas metas a serem alcançadas e sem determinar caminhos a serem percorridos.

Enquanto insistia em “refletir”, sem muito sucesso nos resultados, fui sendo convencido que aquela inquietação não era fruto de qualquer demanda de Deus, mas sim da minha própria alma. Da parte do Senhor, parecia mais do que suficiente o simples fato de eu estar silenciosa e intencionalmente em sua presença. Fui sendo convencido de que os oito anos anteriores, tendo iniciado uma nova igreja e vendo-a crescer de maneira um tanto surpreendente, haviam gerado em mim um grande cansaço e, consequentente, a necessidade de um tempo de descanso no amor de Deus.

Não considero errado ou pecaminoso aproveitar o início de um novo ano para avaliação da vida no passado recente e definição de prioridades para os doze meses seguintes. Além disso, concordo plenamente com aqueles que afirmam não existir um momento mais propício para tanto do que as tradicionais viradas de ano. Só que este tipo de exercício se tornou, ao longo dos anos, uma espécie de ritual para mim. Passei a fazê-lo como parte integrante de meu exercício de devoção a Deus, desejoso de ouvi-lo e obedecê-lo, constantemente alinhando meu foco à sua vontade.

No entanto, naquele exato momento deparei-me com um cenário completamente diferente. Por mais que insistisse com Deus sobre a necessidade de avaliar e planejar, ele me convidava a simplesmente estar e descansar. Lembrei-se então das palavras do Salmo 62.1-2, que fala sobre esse descanso na presença do Eterno. Sim, quando permanecemos em Deus, estamos numa rocha alta e firme. Os braços do Senhor nos são uma torre segura. Logo, posso não saber o que emergirá diante de mim no futuro, mas o que importa é onde me encontro no presente. Eu não preciso saber para onde estou indo, se quem está no controle é o próprio Deus. Neste caso, minha tarefa é apenas estar com Ele e descansar no seu cuidado para comigo.

Foi assim que, para o escândalo de muitos, iniciei o ano de 2009 como um dos anos mais “sem propósito” e “por acaso” de minha vida. Não tenho claro em minha mente se existem grandes mudanças que devo efetuar, muito menos se existem novos projetos nos quais devo me envolver; tampouco estabeleci grandes metas pessoais, familiares ou profissionais. Envolvido pelos braços fortes e amorosos de Deus, fui convidado a simplesmente estar e descansar. Entendi que este era o projeto de Deus para minha vida no ano que se iniciava.

Mas, para não deixar por demais desesperados os superativos como eu, ou gerar um espanto demasiado àqueles que me cercam e bem me conhecem, preciso concluir dizendo que estar em Deus e descansar em seu amor não torna nossas vidas vazias, sem trabalhos ou demandas. Se assim o fosse, a vida de Jesus, descrita nos evangelhos, teria sido bem diferente. O que muda é a fonte de onde emanam as forças para os desafios que emergem e as adversidades que nos assaltam.

Para mim, entrar em um novo ano com o desafio de estar em Deus e descansar no seu amor significa viver intensamente, deixando que a graça e o amor do Pai sejam tão presentes em minha vida que transbordem, envolvendo tudo o que faço e todos que me cercam. E fazendo minha uma das orações de Bernardo Clairveaux: “Pai, faça-me represa do teu amor. Não peço para ser canal, pois passa por períodos de seca; mas que eu seja represa do teu amor que alaga e inunda a todos ao meu redor, a partir do meu coração.”


Ricardo Agreste

Os benefícios de estar destroçado

Ao ouvir os discursos neste período de eleições, alguém pode sugerir que a nova leva de políticos em Washington resolverá os problemas que essa nação tem enfrentado, ou até mesmo os problemas do mundo. Uma vez eleito o candidato X, ele ou ela resolverá os problemas do aquecimento global, a crise na saúde, eliminará a pobreza, ajustará a economia e unirá um país dividido.

Para dois problemas, entretanto, nenhum político ousa apresentar soluções: morte e maldade. Endêmicos à condição humana, esses dois problemas nos acompanharão por toda nossa vida. São exatamente esses os problemas que o evangelho de Cristo promete solucionar – não através da política ou ciência, mas através de um projeto que se iniciou no Gólgota.

Estudiosos da Bíblia mostram que o capítulo 3 de Romanos é a mais compacta exposição das boas novas. Antes de revelar a cura para aqueles dois males, Paulo detalha a impotência da humanidade em achar solução por conta própria. Como um médico, ele precisa impressionar seus pacientes com a gravidade da doença antes de apresentar sua cura.

Sou confrontado com as três categorias de pecadores apresentadas por Paulo em Romanos 1 e 2. Ele começa descrevendo infratores flagrantes: depravados, assassinos e inimigos de Deus (embora, curiosamente, ele também mencione os pecados “de todo dia”, como ganância, fofoca, inveja e desobediência aos pais).

Como seus leitores eram cidadãos conscientes, presunçosos por sua superioridade moral ante àqueles depravados, Paulo vira a mesa do jogo no capítulo 2: “Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas”.

Posso nunca ter roubado um banco, mas será que eu já soneguei meus impostos? Ou será que eu fiz alguma obra em minha casa sem que tivesse licença para fazê-la? Será que já ignorei uma necessidade por causa de preguiça? Paulo segue a lógica de Jesus apresentada no Sermão do Monte: Homicídio e adultério diferem de ódio e luxúria apenas por uma questão de grau. Na verdade, a pessoa que comete um mal flagrante tem uma vantagem peculiar: um giroscópio interno na consciência que registra a sensação de estar fora de curso.

Certa vez, aceitei participar de um programa de cristãos chamado de os 12 passos, como os alcoólicos anônimos. Enquanto falava com os que ali estavam e ponderava acerca do que ia dizer, eu finalmente decidi pelo irônico título: “porque às vezes eu desejaria ser um alcoólatra”. Ocorreu-me que aquilo que levava os alcoólatras a confessarem-se todos os dias – falhas pessoais, a necessidade diária de graça e ajuda de amigos e de um poder maior – representa altos obstáculos para aqueles de nós que se orgulham de sua independência e auto-suficiência.

Paulo reservou seus comentários mais contundentes para uma terceira categoria de homens, os portadores de justiça própria, que em seus dias eram, majoritariamente, judeus que se orgulhavam por guardar estritamente a lei. Fariseu dos fariseus; Paulo conhecia muito bem esse título, como atesta em uma de suas cartas. Ele se refere aos depravados como “eles”, e aos bons cidadãos como “vocês”. Entretanto, quando ele discursa sobre a justiça própria, ele usa a primeira pessoa do plural. “Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma!”.

Nos seus piores dias concernentes à justiça própria, Paulo perseguiu cristãos e esteve presente no apedrejamento de Estêvão. Ele sabia dos perigos que acompanhavam aqueles que se achavam moralmente superiores. Assim como a negação pode fazer com que pessoas não procurem médicos por cause de um nódulo ou uma lesão cutânea, pondo, assim, vidas em risco, a negação do pecado pode conduzir a conseqüências ainda maiores. A menos que aceitemos esse desolador diagnóstico, não encontraremos cura.

A descrição da confissão de Paulo sobre sua justiça própria me faz lembrar um incomum esforço de M. Scott Peck para identificar uma nova desordem psíquica chamada mal. Em seu livro “Povo da mentira” Pack analisa os tipos de maldade e conclui, como Paulo, que os piores deles são os mais sutis. Todos condenamos abusos infantis – mas o que dizer sobre pais controladores e manipuladores que trazem conseqüências devastadoras sobre suas crianças. Pack menciona uma surpreendente característica da maldade: atitude de se esquivar; intolerância com críticas; preocupação pública para com sua imagem e com sua respeitabilidade; fraqueza intelectual.

Paulo conclui: “Não há um justo; nem um sequer”. Talvez na passagem mais sombria de toda a Bíblia, ele fez uma conjunta descrição anatômica deste problema, ao dizer que eles têm: línguas enganadoras, gargantas como um sepulcro aberto, lábios venenosos, pés violentos e olhos arrogantes (Rm 3.10-18). Todas essas coisas estabelecem a magnífica apresentação do evangelho que começa em Romanos 3.21, a explicação da justificação pela fé somente que desencadeou a Reforma Protestante.

A graça de Deus, única solução para a morte e a maldade, vem sem custos, livre da lei, livre dos esforços humanos para obtê-la. Para essa livre oferta, nós só precisamos manter abertas as nossas pobres e necessitadas mãos – o gesto mais difícil para alguém cheio de justiça própria.


Philip Yancey

E Deus sabia

Deus sabia que o ser humano iria cair. Por que, então, o criou?

Era uma vez quando nada tinha se passado e nem se passaria porque era a eternidade, e a eternidade é sempre e sempre é. O Deus eterno decidiu criar e tudo se fez da melhor maneira que podia se fazer. E o tempo começou.

Como falar da eternidade?

Deus criou-nos, apesar de saber de nossa escolha porque não há outro jeito de criar um ser livre.

Deus criou uma raça que iria escolher contra Ele porque o seu amor não pode ser atingido pela frustração.

Deus criou porque assumiu sofrer o ônus cobrado pela justiça. A justiça cobrou o sacrifício de Deus. Foi aqui, no sacrifício, que a história começou.

Começou a história, cujo início é fruto da convulsão na eternidade. Deus teve, por decisão própria, de se sacrificar! A paz da eternidade foi quebrada na criação e restaurada no sacrifício. O que, na Eternidade, é imperceptível,

Essa dimensão da história, em que vivemos, nasce no sacrifício porque sem ele nada do que foi feito se fez.


Ariovaldo Ramos

domingo, 3 de janeiro de 2010

Espero que essa seja profética

Agora sim, em clima de ano novo!!!



Novo Tempo
Composição: Ivan Lins / Vitor Martins

No novo tempo, apesar dos castigos
Estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer

No novo tempo, apesar dos perigos
Da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta
Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver
Pra que nossa esperança seja mais que a vingança
Seja sempre um caminho que se deixa de herança

No novo tempo, apesar dos castigos
De toda fadiga, de toda injustiça, estamos na briga
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer

No novo tempo, apesar dos perigos
De todos os pecados, de todos enganos, estamos marcados
Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver

No novo tempo, apesar dos castigos
Estamos em cena, estamos nas ruas, quebrando as algemas
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer

No novo tempo, apesar dos perigos
A gente se encontra cantando na praça, fazendo pirraça


A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva

O lugar onde quero viver

Você sabe qual é a condição básica para a formação de uma nova família?

Você pode dizer: que as pessoas se amem, que sejam dedicados, que se tratem bem, que sejam carinhosos, etc.

Pois eu quero dizer-lhe que é possível pessoas que se amam, que se tratam bem, que são carinhosos entre si, não conseguirem formar uma nova família. Sabe o porquê? Porque não conseguiram abandonar a família antiga.

A Bíblia diz: Por essa razão o homem deixará pai e mãe e se unirá a sua mulher e eles serão, ambos, uma só carne (Gênesis 2:24).

O amor é essencial para que as pessoas se aproximem, e se encontrem, e desejem ficar juntas. O carinho, o tratar-se bem, é essencial para que elas mantenham o amor, mas, para formar uma nova família é preciso que elas tenham se libertado da relação anterior; que elas tenham amadurecido a ponto de deixar pai e mãe.

Quantos e quantos casais que se amam, e que se tratam com carinho, e que se querem bem, não conseguem sustentar a sua vida familiar, pelo simples fato de que não conseguiram romper com a casa paterna. E é preciso romper.

Romper, não significa passar para um situação de desrespeito, ou e desprezo em relação aos pais, mas significa assumir a autonomia em relação a sua vida. Deus, um dia, chama um casal para formar um outro clã, um outro núcleo familiar: e isso significa abandonar o núcleo anterior.

Se antes você, moço, estava submisso ao chefe da casa, que era seu pai, agora você é o chefe de uma nova casa, e essa casa agora é a sua prioridade. Se antes você moça, devia obediência ao seu pai, agora você se relaciona com o seu marido. É com ele agora que você discute a vida e é com ele que você a decide. Tem de haver o rompimento.

Quando o marido ou a mulher está sempre voltando para a casa paterna para avaliar o seu casamento, seja como for: reclamando ou simplesmente relatando o que acontece de forma indiscriminada, está condenando a sua casa a desabar.

A nova família tem de nascer de um alicerce próprio. Os pais certamente terão legado aos filhos: estrutura, princípios, valores, fé; mas, quando os filhos são convocados, pela vida e por Deus, a formarem uma nova família, eles têm de levar dos pais os princípios, os valores e a fé que receberam, mas têm de construir a sua casa a partir de um alicerce novo, um alicerce construído a dois. É uma nova história que se está escrevendo, uma nova página que se está lendo, uma nova estrutura que se está construindo. Há lugar para amor aos pais, lugar para a saudade, mas não há mais lugar para dependência. É assim que a Bíblia diz.


Ariovaldo Ramos

Um odio em comum

Começando a postar algumas coisas do Mark Drsicoll, ae vai mais uma breve mensagem dele, que se falando nela, concordo plenamente com ele.




A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva
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