sábado, 28 de março de 2009

Abraçando a Dor

No mundo a nossa volta, faz-se uma distinção radical entre alegria e tristeza. As pessoas têm a tendência a dizer: "Quando estamos alegres, não podemos estar tristes e, quando estamos tristes, não podemos estar alegres". De fato, a sociedade contemporânea faz todo o possível para separar a tristeza da alegria. Por isso, a tristeza e a dor devem ser evitadas a todo custo, porque são o oposto da alegria e do contentamento que desejamos.

A morte, a doença, as franquezas humanas, tudo deve ser escondido do nosso olhar, porque são coisas que nos afastam da alegria por que anelamos. São obstáculos no caminho de nossa meta de vida.

A perspectiva oferecida por Jesus está em contraste evidente com está visão mundana. Jesus demonstra, tanto nos seus ensinamentos quanto na sua vida, que a verdadeira alegria é freqüentemente encoberta pela nossa tristeza e que a dança da vida tem o seu início quando nos tocam as desgraças. Diz ele: "Se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas se morrer, produz muito fruto. Quem tem apego à sua vida, vai perdê-la, quem despreza sua vida nesse mundo, vai conservá-la para a vida eterna" (João 12.24). A dois de seus discípulos desiludidos depois da sua paixão e morte, Jesus diz: "Como vocês custam para entender, e como demoram para acreditar em tudo em que os profetas falaram! Será que o Messias não devia sofrer tudo isso, para entrar na sua glória?" (Lucas 24.25 e 26).

É-nos revelada aqui uma maneira completamente nova de se viver. É uma maneira segundo a qual a dor pode ser abraçada, não pelo desejo de sofrer, mas por saber que algo de novo nascerá da dor. Jesus chamas às nossas dores "dores de parto". Diz assim: "Quando à mulher está para dar a luz, sente angústia, porque chegou a sua hora. Mas quando a criança nasce, ele nem se lembra mais da aflição, porque fica alegre por ter posto um homem no mundo" (João 16.21).

A cruz tornou-se o mais poderoso símbolo desta nova visão. A cruz é um símbolo de morte e vida, de sofrimento e de alegria, de derrota e de vitória. É a cruz que nos indica o caminho.


Henri Nouwen
Trecho do Livro "Mosaicos do Presente" da Editora Paulinas

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