domingo, 1 de março de 2009

Formação espiritual: a explosão necessária

A primeira vez que ouvi o pastor e conferencista Bill Hybels foi em um programa de rádio, cerca de dez anos atrás. Era uma mensagem dirigida à sua igreja sobre a importância da solitude, do silêncio e de outras disciplinas espirituais para a espiritualidade dos nossos dias. Os anos se passaram e o ouvi novamente – desta vez, em uma conferência para plantadores de igrejas. Era um auditório com quase duas mil pessoas, muitas das quais sonhando iniciar uma nova comunidade cristã. Quando Hybels foi anunciado e se dirigiu ao púlpito, toda a multidão ficou de pé para aplaudi-lo. Aquela reação de respeito era a visível demonstração da enorme influência do seu ministério, na medida em que representa uma inspiração consciente para as novas igrejas e um modelo de “sucesso” inconsciente para as igrejas já estabelecidas. Afinal de contas, do ponto de vista dos recursos humanos e financeiros que foram atraídos pela igreja sob sua liderança – e que estão à disposição do seu ministério –, Bill Hybels não experimentou os resultados tão sonhados por muitos?

É exatamente neste ponto que reside a vital importância de suas recentes declarações feitas na famosa conferência de liderança realizada anualmente na Willow Creek, igreja da qual é pastor, retransmitida para várias partes do mundo. As conclusões a que chegou após uma pesquisa feita no âmbito do seu ministério local e em outras igrejas ligadas à sua rede ministerial, sobre o crescimento e a maturidade espiritual das pessoas que afluíam atraídas pelos excelentes programas oferecidos, o levaram a fazer as seguintes afirmações, conforme reportagem da segunda edição de CRISTIANISMO HOJE: “Algumas das coisas em que investimos milhões de dólares, pensando que auxiliariam as pessoas a crescer e se desenvolver espiritualmente, não estavam ajudando tanto”. Segundo Hybles, os estudos mostraram que outros aspectos mais convencionais da vida cristã – e que não requerem tantos recursos financeiros e humanos – são justamente “as coisas pelas quais as pessoas estão clamando”. E confessa, de forma literal e taxativa: “Nós cometemos um erro. O que deveríamos ter dito e ensinado às pessoas quando elas atravessaram a linha da fé e se tornaram cristãs é que devem tomar responsabilidade para se nutrirem. Nós deveríamos ter cuidado das pessoas, ensinado-as a ler suas Bíblias entre os cultos, bem como a praticar suas disciplinas espirituais mais agressivamente, de forma individual”.

Considerada a influência do ministério de Bill Hybels – hoje, ele é espelho para muitos outros líderes –, estas declarações não poderiam passar despercebidas. Ao contrário, devem ser tomadas e unidas a outras vozes que já vinham denunciando o fato de que a igreja deixou de ser uma comunidade de discípulos e se tornou um encontro de consumidores sem compromisso com qualquer transformação pessoal. Neste cenário, compreende-se então a urgente necessidade de colocarmos como eixo central de nossa eclesiologia, missão e espiritualidade o chamado de Jesus na Grande Comissão à formação espiritual. O velho “Ide e fazei discípulos” raramente praticado, é a ênfase da qual nunca deveríamos ter nos afastado. É acerca disso mesmo que Dallas Willard, em seu livro O espírito das disciplinas, nos adverte: “O fato é que nossas igrejas e denominações não têm perseguido construir planos intencionais, bem feitos, para discipular seus membros. Você não encontrará nenhuma liderança largamente influente da igreja que tenha um plano – não um vago desejo ou sonho, mas um plano – para implementar todas as fases da Grande Comissão”. É a esta ausência que Willard chama de “a grande omissão”.

Dado nosso afastamento do chamado primordial, hoje não sabemos como formar espiritualmente as pessoas. Não temos pais, mestres, mentores espirituais ou discípulos habilitados para executar esta tarefa. É claro que isso se explica pelo círculo vicioso que temos colocado em ação, dentro do qual, líderes despreparados e sem interesse na formação espiritual de seus seguidores alimentam uma geração de consumidores. Nossa espiritualidade está diante de uma encruzilhada: ou continuamos no caminho do impacto ou retornamos à explosão iniciada por Jesus. Para impactar o público, precisamos apenas de líderes carismáticos capazes de gerir grandes projetos que atraem pela qualidade dos programas oferecidos; já para causar a explosão que o Evangelho propõe, é necessário que tenhamos homens e mulheres crescidos e maduros espiritualmente, que tenham iniciado a interminável, porém fascinante, jornada da formação espiritual.

Para esta explosão acontecer na vida cotidiana da nossa igreja, basta que cada um de nós tenha coragem de viver a velha lição que já sabemos de cor: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”.


Eduardo Rosa

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