sábado, 31 de dezembro de 2011

Dona Maria José

Pensava no que dizer como mensagem de final de ano para meus queridos amigos e leitores. Normalmente, a tendência é rememorarmos os momentos bons que vivemos no ano que se passou, e repensar aqueles que de alguma forma nos mostraram a necessidade de rever posturas e opiniões. Nada mais tradicional e batido, mas não menos importante. E, francamente, posso dar graças a Deus por um ano de muitas batalhas enfrentadas, muitos sonos perdidos, muitas preocupações, mas que coroou-se de maneira vitoriosa. E muitos de vocês, que leem estas palavras, que me acompanharam pessoalmente, ou pela internet, sabem bem que tortuosa e surpreendente foi esta estrada percorrida ao longo de 2011.

Porém, ao invés de fazer uma retrospectiva, resolvi contar uma história. Uma história que aconteceu comigo há alguns dias atrás.

Alguns amigos acompanharam o périplo que fiz para chegar a Aracaju a fim de comemorar as festividades de final de ano com minha família. Havia perdido meu voo, e após passar a madrugada no aeroporto de Guarulhos, consegui finalmente embarcar em um voo rumo a Salvador, onde me dirigi a rodoviária local para comprar uma passagem de ônibus que chegaria à capital sergipana. Só sairia no início da tarde. Então fui ao shopping Iguatemi, que ficava nas proximidades, almocei, descansei, e me dirigi por volta das 12:45 à rodoviária, para esperar o ônibus, que sairia às 14. Aproveitei todo esse tempo para finalmente concluir uma tarefa que há alguns anos procurava fazê-lo: concluir a leitura integral da bíblia sagrada.

Era isto que eu fazia quando uma senhora, por volta dos seus sessenta anos, se aproximou de onde eu estava sentado. Porém, logo em seguida, precisou voltar ao guichê da empresa de ônibus onde havia comprado sua passagem. Não queria carregar suas coisas até lá, e então solicitou que eu observasse suas coisas e guardasse sua cadeira no setor de espera, para que finalmente resolvesse seus problemas. O que, tranquilamente, não objetei.

Passaram-se cerca de 30 minutos até ela retornar. Tempo bastante demorado, por sinal. E eu, naturalmente, estava preocupado: "Ela vai retornar?"; "e se der meu horário, o que que eu faço?". Preocupações desfeitas com seu regresso...

Após se sentar, a senhora aguardou um tempo, observou-me, e resolveu perguntar-me a respeito do capítulo de Apocalipse, que eu estava lendo. Começamos, desta forma, uma conversa agradável, conde falávamos sobre nossa fé, o que entendíamos a respeito das traduções da bíblia, qual era melhor, qual era pior, sobre como agir na vida, sobre agradecimento, etc.

Neste tempo, aquela senhora, cujo nome eu ainda não sabia, resolveu me fazer uma confissão.

Ela contou pra mim que estava muito preocupada pelo problema com a passagem. E como precisava acertar aquilo, mas não sabia o que fazer com suas coisas, acabou confiando a mim, um garoto qualquer com o qual ela nunca tinha conversado, seus pertences. Disse que confiou no fato de eu estar com uma bíblia no colo, lendo-a. Confiou em uma ética e retidão de caráter que ela associou ao fato de eu estar com minha bíblia em mãos. Acho que não preciso dizer que, mesmo em uma circunstância como essa, tal procedimento não costuma ser o adotado por qualquer pessoa. Pra ser sincero, eu mesmo não agiria assim...

Quando ela resolveu o problema, ela se dirigiu equivocadamente ao setor de desembarque da rodoviária de Salvador, que é bastante parecido com o setor de embarque, onde eu me encontrava. Daí sua demora. Ficou procurando aquele garoto com a bíblia na mão, pensando onde, afinal, ele estaria. "Escafedeu-se? Sumiu com minhas coisas?", ela pensou. Depois de um tempo me procurando, finalmente descobriu que estava no lugar errado, e aliviou-se ao me encontrar sentado na mesma cadeira de espera de antes.

Depois deste relato, ela olhou pra mim e disse que falava aquilo em tom de confissão, pedindo perdão a mim e a Deus por ter pensado qualquer coisa que desconfiasse da minha moral, daquele garoto que podia colocar a perder sua imagem de um rapaz de fé por ter feito qualquer coisa contra ela. Que estava feliz por ter me encontrado, e desculpando-se por ter, em determinado momento, desconfiado de minha retidão.

Aquelas palavras me deixaram profundamente emocionado, e era extremamente difícil para mim encontrar um chão. Ela nunca havia me visto. Ela não havia feito nada contra mim. Não havia me criticado. Ela poderia simplesmente deixar a história passar, e seguir feliz pra sua casa, com suas coisas. Mas não. Ela confessou um "pecado" para mim e para Deus!

Eu poderia terminar o meu ano orgulhoso das conquistas e dos aprendizados que tive, de cada batalha à qual a vida me conduziu. Mas todos os motivos, todos os ensinamentos e vitórias pelos quais posso agradecer neste ano dificilmente superam este aprendizado que apareceu de surpresa e cicatrizou o meu cotidiano. Antes de qualquer possível vanglória, Deus dava um tapa na cara do meu orgulho, me conduzindo a reflexões de horas, dias, a respeito daquele momento. Me fazendo pensar onde estavam meus planos, minha postura frente às pessoas e aos acontecimentos. Para onde eu estava destinando o meu caráter e os meus esforços.

Descobri que seu nome era Maria José. E agradeci: "foi um prazer conversar com a senhora, dona Maria José".

Se há algum desejo que eu deva fazer para o ano novo que vem por aí, o faço para ela, bem como para todos vocês, familiares, amigos, leitores: a possibilidade de refletir frequentemente sobre o destino que se deseja assumir para sua própria vida, e no que isto vai implicar. O quanto de vitória, de perdão, de gratidão, de luta, de união, estarão presentes na sua rotina. E olha que o mundo anda realmente carente destas coisas...

Feliz ano novo.

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Sydnei Melo

Contar os dias e celebrar a vida!

É sempre o mesmo sentimento: noutro dia começávamos o ano, ele parecia longo, tanto por fazer, tanto tempo pela frente e, agora, já passou. O tempo passa muito rapidamente, nós voamos com ele. O tempo passou e fizemos muitas coisas das quais nos orgulhamos e, certamente, muitas outras pelas quais nos arrependemos. O fato é que o que passou é imutável, não é possível alterar absolutamente nada. Mas é possível se apropriar desse passado para, como matéria prima, usá-lo para um futuro melhor. É importante olhar para o passado para aprender com ele. Talvez essa seja a única forma de realmente saber apreciar melhor a vida e o ano que começa daqui a pouco.

Aprendi com Ricardo Gondim que o tempo foge, que devo saborear os anos como o menino que saboreia as últimas jabuticabas de uma bacia, uma de cada vez, lentamente, apreciando cada uma. Quanto mais velhos ficamos, mais vamos dando valor ao tempo, porque ele vai escasseando, vai ficando, portanto, mais precioso. Daí porque temos que ter reverência pela vida e pelo tempo.

“Ensina-me a contar os meus dias, de modo que eu alcance um coração sábio”, foi a oração de um poeta bíblico. Contar os dias com sabedoria, não desperdiçá-los de maneira tola, mas, com inteligência, aproveitá-los ao máximo. Seguem alguns palpites para isso. Repito, são apenas palpites.

Não espere que chegue o dia em que finalmente você vai ser feliz. A felicidade é fugidia, são momentos, muitos deles pequenos, em que você a experimenta. Não espere que um emprego, um casamento, uma viagem, uma faculdade, farão você feliz. O que vai determinar se você vai ser feliz mesmo é o modo como você vai trabalhar nesse emprego, a disposição que você vai ter para uma vida compartilhada pelo casamento, o espírito com que você vai curtir a viagem, por exemplo.

Valorize pessoas mais do que coisas. No fim, serão pessoas que estarão ao seu lado quando você precisar. Ou não. Quem sempre valoriza coisas em detrimento de pessoas, corre o sério risco de ficar sozinho com suas coisas.

Seja mais indulgente com as pessoas, elas não são perfeitas. Assim como você, todas são imperfeitas, falhas, incoerentes. Mas é preciso amá-las assim mesmo, porque você precisa ser amado também. Não tenha expectativas mirabolantes, irrealizáveis, você vai acabar frustrado. Não cobre tanto das pessoas, do mundo e de você. Aceite o fato de que você é humano, e, portanto, inacabado e imperfeito. Assuma sua humanidade e seja autêntico.

Não perca a esperança. O amargo que você pode ter provado no tempo que passou não tira a capacidade do seu paladar de sentir o doce novamente. Por mais dolorosas que tenham sido as lágrimas que você derramou no ano que vai embora, há a possibilidade do riso feliz no ano que começa. Por maiores que tenham sido as frustrações, um novo tempo sempre é a possibilidade de novas realizações, novos sentimentos, uma nova postura diante da vida.

Celebre a vida sempre, celebre os pequenos momentos com as pessoas que você ama. Celebre o tempo que passou e o que está por vir.

Celebremos 2012.


Márcio Rosa da Silva

Natal Encarnado

Gosto também de entender que o famoso versículo joanino “e o verbo se fez carne” também pode significar “e os pensamentos de Deus se tornaram agora conhecidos por nós”.

No livro X das Confissões, Agostinho fala de dois tipos de verbo. Um ele chama de verbo interior (ou verbo mental); o outro ele chama de verbo exterior (ou verbo carnal). Com essa distinção, o Bispo de Hipona ensina que nós, seres humanos, obedecemos a uma dinâmica de linguagem, cujas palavras proferidas (verbo exterior ou carnal) são necessárias para compreendermos os pensamentos de nossos semelhantes (verbo interior ou mental).

Deus nos trancou em nós mesmos. Isso significa que tudo o que pensamos e não expressamos jamais pode ser conhecido por outro ser humano também trancado em si mesmo. Ou seja, “pensamentos” para serem conhecidos precisam ser expressos ou — para usar um termo bastante teológico — “pensamentos” precisam ser “encarnados” para serem compreendidos. Uma vez que estamos trancados em nós mesmos não podemos nos dar ao luxo de apenas pensar. É preciso também falar, expressar, jogar para fora o que está dentro, jogar para fora o que se pensa. Caso contrário, o nosso semelhante não saberá o que estamos pensando.

Mas veja que coisa interessante: o que se joga para fora não é o “puro pensamento”, mas o “pensamento encarnado”. Apenas o pensamento encarnado pode ser conhecido pelo semelhante. Já o puro pensamento só pode ser conhecido por uma pessoa. Em outras palavras, só Deus pode conhecer nossos pensamentos enquanto pensamentos. E isso tem muitas implicações, como, por exemplo, o fato de não ser necessário encarnar nosso pensamento para torná-lo conhecível para Deus. Ora, Deus já conhece o que pensamos mesmo quando o que pensamos não chegou ainda a nossa boca (Sl 139.4). Portanto, não precisamos encarnar nossos pensamentos para Deus saber o que pensamos.

Assim, se encarnamos nossos pensamentos para falar com Deus — e o nome disso é “oração” —, não é para que Deus conheça nossos pensamentos, mas para que nós mesmos conheçamos nossos próprios pensamentos. Enfim, para que sejamos confrontados pelo coração. Com outras palavras, estou dizendo que o fato de sabermos que Deus não precisa da encarnação do verbo para ter ciência do que pensamos deve ser suficiente para nos constranger diante da verdade, deve ser suficiente para fazer com que oremos buscando expressar o que de fato o coração está dizendo. Saber que Deus conhece o coração é o passo mais importante para descobrir que o coração é mais enganoso do que qualquer coisa deste mundo (Jr 17.9). A prova de fogo do coração é a oração.

Bom, tudo isso revela a nossa insuperável inferioridade em relação a Deus. Ele conhece nossos pensamentos muito antes de encarnarmos nossos pensamentos. Em contrapartida, só conhecemos os pensamentos de Deus se ele encarnar seus pensamentos. Acontece que Deus encarnou seus pensamentos, mas de uma maneira muito diferente da nossa. Veja, nosso ser é uma coisa (homem) e o nosso pensamento encarnado é outra bem diferente (verbo, palavra). Em contraste, o verbo, a palavra, o pensamento de Deus é o próprio Deus (Jo 1.1). Isso não é pouca coisa! Isso significa que aquilo que Deus tornou conhecido através da encarnação não foi apenas um pensamento ou um verbo, mas o próprio Deus. E este é o mistério que repousa sobre o menino Jesus, que hoje deve ser celebrado não como um mero pensamento ou uma mera mensagem de paz dada por Deus aos homens, mas, pelo contrário, o menino Jesus deve ser celebrado como Deus dado aos homens (Mt 1.23). Ou seja, o menino Jesus não deve ser apenas lembrado, mas adorado hoje e sempre. Eis o motivo pelo qual gosto de entender que o famoso versículo joanino “e o verbo se fez carne” também pode significar “e os pensamentos de Deus se tornaram agora conhecidos por nós”.


Feliz Natal!
Jonas Madureira

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O Natal das coisas simples

Ouvi uma reportagem pelo rádio, em que a entrevistadora perguntava onde e como as pessoas passariam o Natal. Todas responderam que iam passar com a família. Algumas variações: “vou à igreja depois vou ficar com minha família”, ou “vou para uma festa, mas antes vou ficar com minha família”. Também ouvi um dizer que ia passar sozinho, porque estava longe da família, mas o coração dele estaria com a família. Ainda há os amigos, uma família fraterna, que se escolhe, mas igualmente ligada pelo afeto.

Natal é essa festa em que as pessoas se lembram da família, dos amigos, dos mais necessitados, fazem gestos de solidariedade. E isso é bom, ainda que de modo sazonal, ainda que pequenos, esses gestos são válidos. Bom seria que se repetissem durante todo o ano, mas se acontecem agora, já é alguma coisa. Há sempre uma esperança de que esse sentimento que acontece nessa época do ano se perpetue, ou, pelo menos, seja reavivado em algum momento do ano seguinte.

É claro que, como sempre, muitos de nós cometemos o erro de procurar o “espírito do Natal” nos lugares errados. Ou talvez fique melhor colocar a essência do Natal, o significado dele. Procuramos em shoppings, ou nas ruas comerciais apinhadas de gente aflita por conseguir comprar algo, ou nas celebrações grandiosas e majestosas que o mundo do entretenimento faz. Mas não o encontraremos nesses lugares. Esse foi o erro que os magos do oriente cometeram quando foram procurar Jesus. Foram direto para o palácio de Herodes, mas ele não estava lá. Depois de corrigirem o caminho, encontraram-no envolvido em panos, numa manjedoura (um cocho), numa estrebaria (um curral). Lugar improvável para o Filho de Deus.

Natal é a lembrança de que Deus não somente se fez homem e habitou entre nós, mas de que Ele se fez menino, uma criancinha, frágil, dependente, pequeno. Deus, de tão grande, se fez pequeno. Deus se batizou de humanidade, imergiu em nossa realidade de sangue, suor e lágrimas. E escolheu as coisas simples desse mundo para as quais conferiu importância.

Era desprezível o local onde o menino Jesus nasceu, mas o importante ali era o afeto que recebia de seus pais, afeto que se revelou em cuidado, carinho. Talvez por isso esse clima tão favorável à busca por um lugar cheio de afetos nessa época.

Ali nascia a esperança de dias melhores. Deus não abandonou seus filhos à própria sorte, mas veio até eles, tornou-se um deles, mergulhou no seu cotidiano, foi dependente de uma família, depois, quando adulto, experimentou toda complexidade das relações humanas, do que há de bom e do que há de mais perverso. Da solidariedade à traição.

Mas depois daquela noite, nada mais foi como era antes. Deus está conosco para sempre, imerso em nossa humanidade, presente em nossa caminhada e nos convidando a sermos como ele: humano, simples e pleno de amor e solidariedade.

Na noite de Natal, quando for levantar um brinde, seja em que ambiente for, num palácio ou numa casa simples, celebre a esperança contida no nascimento daquele que é Deus conosco para sempre. Isso é Natal. E é simples.


Márcio Rosa da Silva

Natal

"Glória a Deus nas maiores alturas, paz na Terra e boa vontade entre os homens!"

Essa saudação angélica aos pastores, em Belém da Judéia, na madrugada em que nasceu Jesus de Nazaré, anunciava o cumprimento de várias profecias, e a consecução de uma promessa, o nascimento da criança prometida do jardim: o descendente da mulher, que esmagaria a cabeça do serpente, signo do adversário de nossas almas, fomentador da confusão que inviabiliza qualquer relacionamento, seja com o Deus, seja consigo mesmo, seja com o próximo.

O Deus Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo), através do Filho, de quem a criança da manjedoura, nascida sob a sombra da cruz, e à luz da ressurreição, é a encarnação, oferecia a sua própria vida para que houvesse paz.

Nesse gesto, ao satisfazer o princípio de justiça, que permite o sustento do Universo, a Trindade eterna semeava o princípio da graça, o princípio do favor imerecido, que permite o perdão.

A Trindade eterna pode perdoar-nos por nossas ofensas. Perdoados, nos reencontramos com o Eterno, e, assim, conosco, pois a identidade de cada um de nós estava nos aguardando em Deus, e fica desvendada a razão de nossa existência: comungar com a Divindade Trina. E, conscientes e movidos pela graça, podemos oferecer ao outro o perdão, que é a condição para a paz, e a semeadura da justiça.

É Natal, Jesus nasceu! O Deus veio ao nosso encontro para que possamos nos achar na existência, e, então, encontrar o outro na vida, que, necessariamente, deve ser compartilhada entre todos, para que a dignidade, que impõe a satisfação das condições necessárias para um viver com a melhor qualidade, seja um bem universal.

Feliz Natal!
Ariovaldo Ramos

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A mensagem subversiva

A mensagem trazida por Jesus tem um caráter subversivo. Ela não tem o propósito de trazer paz, como aquele sentimento que torna as pessoas com ar sereno e insensível ao que acontece ao redor. Ao contrário, tem o propósito de gerar inquietação nas pessoas. Não é uma mensagem de conformismo, mas o oposto. É para deixar as pessoas inconformadas com o atual estado de coisas para que, então, tentem transformar o mundo.

Quem quer paz de espírito, naquele sentido de insensibilização com todo o mal que acontece, tem que buscar outra religião. Em Cristo ficamos inquietos, queremos mudança, não nos conformamos com este mundo. Queremos uma revolução, porque cremos e pregamos uma mensagem que se choca com o sistema do mundo. Que é oposta à lógica mundana, que é oposta ao sistema perverso que impera no mundo.

A primeira subversão é colocar Deus acessível a todos. Aquilo que era monopólio da religião institucionalizada, agora é democrático, está ao alcance de quem quisesse. Deus não está mais distante, mas agora se fez homem como nós e se colocou no nosso nível, para ser um conosco, para ser Deus conosco.

Depois, é necessário compreender que a mensagem pregada por ele tem muito mais a ver com a vida antes da morte do que depois dela. Não é uma receita sobre como conseguir a vida após a morte, mas sobre como viver a vida aqui e agora. Em vez de dirigir nossa atenção para a vida além túmulo, nos céus, fora desta vida e para além da História, é preciso focar nessa vida, porque o Reino de Deus já chegou até nós e é pra ser vivido e experimentado aqui.

A subversão consiste em não nos conformarmos com a maldade deste mundo, com as injustiças, com a intolerância, com a miséria. O Evangelho é um chamado à transformação!

O mandamento de amar os inimigos e fazer o bem a quem nos odeia é absolutamente subversivo, porque se opõe à lógica dominante.

Jesus chocou, e ainda choca, a opinião pública, porque ele falou algumas coisas que não fazem sentido para o homem comum. Parece que nada tem a ver com a realidade. Mas são verdades revolucionárias. Posturas que, se adotadas, vividas, podem mudar, transformar o mundo.

Não mudaremos a realidade ao nosso redor decretando isso em 40 dias de oração, ou 30 dias de jejum, ou dando 7 voltas cidade durante a madrugada, nem amarrando demônios por decretos. Isso não vai mudar nada.

Mas no dia em que alguns, com firme propósito, passarem a viver um pouco do conteúdo da mensagem do Evangelho, uma mudança revolucionária estará a caminho.


Márcio Rosa da Silva

Rapadura é doce mas não é mole não

Mais uma do João.


"Arruma a cangalha na cacunda que a rapadura é doce mas não é mole não"

"Quem foi que te disse que a vida é um mar de rosas?
Rosas têm espinhos, e pedras no caminho
Daqui até a cidade é pra mais de tantas léguas
Firma o passo, segue em frente,
Que essa luta não tem trégua
Fica na beira da estrada quem o fardo não carrega"


A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Infinitude

A legitimação do trabalho do artista advém da humildade em reconhecer aquilo que ele faz. Sabendo ele que a arte não tem limite ou fronteira, o artista nunca pode ou poderá se vangloriar da arte que faz, porque ele entende que sua arte é finita, isto é, sua arte é apenas parte de um todo, todo este que não se acaba e, ao exaltar sua arte, nega a própria arte, ou seja, nega o caráter essencial de infinitude da arte, infinitude esta que advém da capacidade criativa do ser humano, esta emanada do Pai das Luzes, Senhor do real iluminismo da mente e espírito do ser humano.

“Mas sei, que uma dor
Assim pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança...
Dança na corda bamba
De sombrinha
E em cada passo
Dessa linha
Pode se machucar...
Azar!
A esperança equilibrista
Sabe que o show
De todo artista
Tem que continuar...”



Eric Oliveira

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Amizade e Turma da Monica













Sobre discipulado

É muito mais fácil catequizar do que discipular. Catequização é algo rápido, discipulado demanda a vida toda. Catequização é transmissão de conteúdo. Discipulado é compartilhar de vida. Na catequização, dizemos "eu tenho algo que você não tem". No discipulado, falamos "veja, eu sou igual a você". Na catequização o compromisso é pontual. No discipulado, há comprometimento de vida. Catequização é "andar com". Dicipulado é "estar em". Catequização é programa. Discipulado é caminho. Na catequização, ensinamos o outro. No discipulado, habitamos o outro. Jesus de Nazaré, através de Seu Espírito, nos discipula e nos convida ao discipulado de outro.


Fabricio Cunha

sábado, 3 de dezembro de 2011

Faço dessas minhas palavras

"Que se me convençam mediante testemunho das Escrituras e claros argumentos da razão pelos textos da Sagrada Escritura que citei, estou submetido a minha consciência e unido à palavra de Deus. Por isto, não posso nem quero retratar-me de nada, porque fazer algo contra a consciência não é seguro nem saudável."


Martinho Lutero, 1521

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Sofrimento criativo

Algumas pessoas constantemente se preocupam se terão coragem de enfrentar determinadas situações quando envelhecerem: uma doença devastadora, incertezas ou a morte do cônjuge. Procuro sempre orientá-las que, enquanto a provação não está lá, a coragem também não estará.

Diversas vezes fiquei maravilhado com os recursos de coragem que pessoas ansiosas e preocupadas demonstram quando têm que enfrentar a provação real e não o fantasma da provação que habita seu imaginário. Ainda digo mais. Existe uma alegria extraordinária que irradia de muitos que sofrem sérias enfermidades, o que contrasta de forma surpreendente com a morosidade de tantas pessoas saudáveis que encontramos no ônibus. Qual é a explicação? Penso que isso ocorre devido ao fato de que suas vidas demandam coragem permanente, um constante expandir da coragem, e como a coragem pertence à economia espiritual, quanto mais a gastamos, mais a temos.

É como uma corrente que os atravessa e produz alegria, a alegria da vitória sobre seu destino. Esta alegria da vitória é algo que encontramos em todos aqueles que completam grandes tarefas, como quem escala até o topo de uma montanha, como os campeões nos esportes com lágrimas de exaustão no pódio. Além disso, para uma pessoa seriamente comprometida e privada de algo, não é a vitória de um dia e sim a vitória de todo dia. De onde vem o prazer em viver? O prazer tem origem nos desafios mais do que nas conquistas em si.

A primeira vez que falei sobre o tema da privação foi em um encontro voltado para mães solteiras. A audiência consistia de mulheres viúvas, divorciadas, solteiras ou abandonadas por seus maridos, todas responsáveis pela criação de seus filhos sem a presença dos pais. O que eu queria dizer a elas sobre órfãos poderia ser um encorajamento para a vida de cada uma. Mas não precisavam de encorajamento. Fiquei espantado com a alegria que reinava entre elas. Refleti que elas também precisavam ampliar a coragem em cada dia de suas vidas, dias difíceis, e o segredo da sua alegria impressionante era a corrente de energia espiritual que as atravessava. Mas também havia o fenômeno da comunicação desta coragem, passada de uma para outra, cada percepção da coragem na vida da outra e a contribuição da própria coragem para a vida das demais. Era como uma multiplicação de reflexos em uma sala de espelhos.

A pessoa mais encorajada fui eu. Saí daquele encontro cheio de alegria. Quando a organizadora do evento entregou flores para meu jardim eu senti que ela merecia mais do que eu. Era claro que nada nos inunda de coragem mais do que um homem, mulher ou criança que demonstra coragem exemplar na adversidade. É bem mais efetivo que uma exortação. Parece-me que o mais importante a enfatizar é esta contagiante qualidade de coragem. Vejo tantas pessoas boas que genuinamente tentam resistir a todos os tipos de tentação através da fé em seus ideais, mas que se sentem frágeis perante o contagiante medo do mal, da violência, da injustiça e das mentiras que atacam o mundo. O que podem fazer a respeito disto? Sua obediência diária é valiosa, mas não parece mais do que uma gota perdida em um oceano em meio à tempestade. A bondade contagiante não é tão óbvia. No entanto, uma coisa que não pode ser negligenciada é o efeito contagiante de uma obediência excepcionalmente corajosa.

Na realidade, não penso que devemos exortar pessoas para que sejam corajosas. Para ser frutífera, a coragem deve vir espontaneamente, em resposta a um chamado interior. Consigo enumerar diversas mulheres que tiveram a coragem de desistir da idéia do divórcio em circunstâncias em que o divórcio seria até justificável. Eu não teria o papel de encorajá-las porque eram elas e não eu, que enfrentavam o sofrimento imposto por sua decisão. Jesus nos exorta quanto a colocar sobre os outros, fardos que nós mesmos não carregaríamos (Lucas 11.46). Sempre observei que, quando é Deus quem nos chama para tomar este tipo de decisão, Ele também nos fortalece para suportar as conseqüências.


Paul Turnier

Eu mudo para continuar o mesmo

A palavra mudança incomoda a muitos, principalmente aos líderes de igreja.

Acredito que isso acontece por um erro de conceito na base do pensamento. Os líderes pensam que a igreja, a teologia e principalmente a vida estão em terra firme. Acreditam que essa terra é seca e quando encontram um oásis fixam sua vida toda em torno daquela fonte, construindo casas e cercas para não serem incomodados.

Mas vendo a dinâmica da vida, da sociedade, dos nossos tempos e o amadurecimento que uma pessoa tem com o evangelho, tenho percebido que a vida não está sobre terra firme e sim em um rio agitado.

Aquele que fica parado é levado pela correnteza do sistema, do comodismo e da religiosidade que nos anestesia da vida.

Aquele que experimentou o evangelho nunca mais pode parar de remar, pois sabe que parar é retroceder.

Como diria o filósofo Leonardo Boff: eu mudo para continuar o mesmo.

Mudar não é necessariamente sair do lugar, mudar, muitas vezes, é continuar na mesma fé e convicções. Na correnteza da vida quem não se mexe cai na grande cachoeira.

Percebo que nas igrejas e ministérios, os líderes recusam mudanças, não necessariamente porque estão receosos do que está mudando, mas simplesmente porque acreditam que mudar deve ser um ato raro e de “times que estão perdendo”.

Pensam que a vida está parada em terra firme, mas não. Igrejas e ministérios que não estão pensando e repensando o seu jeito de agir podem estar condenados a serem levados pela correnteza.

Talvez a primeira grande mudança que você pode tentar fazer com a sua igreja e ministério é ensiná-la que mudar é bom, que mudar sempre é preciso. Precisamos estar sempre reformando.

Mudamos para continuar sempre os mesmos!


Marcos Botelho

terça-feira, 15 de novembro de 2011

O Palhaço

"O gato bebe leite, o rato como queijo e eu sou Palhaço".



A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Beija-Flor

Mais uma do Jorge.



"Nunca menospreze uma semente
Não despreze o impulso criador
Olhe, prove, ouça, cheire, tente
Como um curioso beija-flor

Não rejeite os tímidos começos
Eles também rumam aos finais
A deselegância dos tropeços
Move a contradança dos casais.."


A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva

Um novo paradigma

Muitos de nós temos dificuldade de lidar com o novo, porque o novo é também o desconhecido. Um pensamento antigo por transmitir mais segurança, afinal, pensa-se, já serviu por tanto tempo e a tantas gerações, poderá servir para a nossa também. Será?

Imagine se nunca tivessem questionado o paradigma de a terra ser o centro do universo? Mas alguém questionou. Ainda bem. Agora tudo girava em torno do Sol. Mudou-se de novo, foram descobertos outros sóis, e outras galáxias e, mais uma vez, mudamos nossa forma de ver o universo. Mas muita gente foi pra fogueira por conta disso. É o medo do novo.

A novidade quebra as sólidas plataformas do “status quo”. E se nunca tivessem questionado as monarquias absolutistas? O paradigma da democracia substituiu o da tirania, o da ditadura. É claro que para desgosto dos que usufruíam das benesses do poder tirânico.

Quando se vai quebrar um paradigma, substituir um modelo, lançar outra plataforma, há sempre uma revolução, por assim dizer. E os donos do poder, seja ele político, científico, econômico ou religioso, nunca ficarão satisfeitos com a mudança.

No caso de Jesus, o que parecia só uma suspeita, agora fica mais evidente. Aquele pregador, vindo de Nazaré, queria estabelecer algo novo. Ele já vinha dando pistas. Em Caná, transformou água em vinho, e o vinho novo era melhor. Um tempo depois, ele abriu o jogo. A partir de um questionamento acerca do jejum, que ele e seus discípulos não faziam, ele contou uma parábola: não se coloca vinho novo em odres velhos, senão estas vasilhas de couro estourarão após a fermentação do vinho.

Ele estava falando de uma mudança paradigmática. Ele veio estabelecer uma nova aliança, trazer uma boa nova, uma nova forma de enxergar Deus, de ver a vida, de se relacionar com Deus e com as pessoas.

O antigo sistema era de observância rígida de leis religiosas, de uma multidão de regras, de um emaranhado de ritos, que tendiam a escravizar as pessoas. A novidade trazida por Cristo caracteriza-se pela liberdade, por um relacionamento íntegro com Deus e com as pessoas, baseado no amor.

Nessa nova ordem, o verdadeiro jejum consiste em soltar as correntes da injustiça, partilhar a comida com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu e não recusar ajuda ao próximo, confirmando a máxima de que Deus quer misericórdia e não sacrifício.

O novo fundamento foi lançado por Jesus quando disse que o maior mandamento era o amor a Deus e ao próximo. E só se ama a Deus através do amor ao próximo, com ações práticas de solidariedade, generosidade, elegância, carinho, integridade, compaixão e não com ritos religiosos vazios.

Oportunidades não faltam para manifestar esse amor. Hoje, no mundo, há quase dois bilhões de pessoas na pobreza extrema, e ainda tem gente que fica exigindo de Deus um carro importado em oração. É muito cinismo, muito egoísmo e muita insensibilidade com os que passam necessidade. Alguns desses necessitados estão em nossa cidade. Façamos algo!


Márcio Rosa da Silva

domingo, 13 de novembro de 2011

Amor Incondicional

Ontem ao som de Jorge Camargo, não me sobrou outra alternativa senão publicar uma dele aqui.



A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva

Outros

"Ainda bem que sempre existe outro dia. E outros sonhos. E outros risos. E outras pessoas. E outras coisas."


Clarice Lispector

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Olhando ao longe

Foto de Diego Formiga / Modelo Clara Figueiredo


Olhar distante. Um gato passando pelo canto da casa. O sol se pondo lentamente. A vida passando com a leveza do respirar tranquilo. Realização e completude. Tudo perfeito, mas muito diferente de algum tempo atrás.
Naquela mesma cadeira confortável, ela chorava. Não conseguia entender porquê, mais uma vez, teve que abrir mão da companhia próxima de seus amigos e ir para longe. O mundo estava cinza. Um vazio tomava conta de sua alma. Não havia revolta nem protesto. Apenas a pergunta: Por quê?
Hoje, olhando ao longe, ela entende. O mundo não é mais tão assustador quanto antes. Os amigos são outros. Ela é outra. Uma brisa fria entra pela janela e a toca levemente. Já é noite. Antes de fechar a janela, ela olha a lua – ela sempre esteve lá. Lembrou-se de quando era criança e olhava para o céu com aquela curiosidade imensa – a lua nunca mudou.
Um dia, a menina que hoje sonha, será grande. Sentará na mesma cadeira e, pela mesma janela, verá a mesma lua. Muita coisa terá mudado, mas a lua ainda estará lá lembrando-a de que certas coisas nunca mudam, e isso nos conforta.

Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e para sempre. (Hebreus 13:8)

Wellington da Silva Gomes

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Ainda no clima do Pearl Jam, Alive

Boa musica e boa a fala antes. Afinal assim é a vida sendo constantemente re-significada, aquilo que antes tratávamos como uma maldição agora ganha novo sentido, isso não devido nos mesmos, mas gracas aqueles que nos cercam.




A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva

domingo, 6 de novembro de 2011

Vivemos esperando


"Vivemos esperando
Dias melhores
Dias de paz, dias a mais
Dias que não deixaremos
Para trás"


A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Orando pela Justiça 2011

Pai nosso, que estás no céu, santificado seja o teu nome; venha a nós o teu Reino...”

Prezados irmãos e irmãs,

saudações cristãs!

O mundo clama e está com sede de justiça. Somam milhões os sem teto, os que não tem terra, as crianças vítimas da fome, da miséria, da violência de toda sorte, os que são submetidos a trabalho escravo ou até mesmo a subempregos, os que sofrem preconceito, seja racial, de gênero, credo ou de outras ordens, os desabrigados do clima e a própria Terra se junta à estes. E estes clamores se unem tornando-se uma única prece a Deus.

Ao ascender aos céus,  Jesus deixou à Igreja a responsabilidade de seguir com seu ministério de reconciliação e proclamação do Reino de Deus. Assim, cabe à Igreja se opor às estruturas de injustiça e opressão. Pois Jesus chamou de felizes os que tem fome e sede de justiça (Mt 5.6).

A Igreja pode lutar de muitas formas e maneiras – social, política, ideológica – mas se não houver oração não haverá missão. Sem oração, a igreja que milita se tornará um partido, um sindicato, uma ONG ou qualquer outra instituição, mas deixará de ser Igreja.

Foi pensando e orando por isso que a Rede FALE e Renas Jovem começaram a promover “Orando Pela Justiça”, que é um culto de oração temático (por justiça) que se propõe a realizar em parceria com igrejas locais convidando-as a unir seu clamor ao daqueles que sofrem injustiças. O "Orando pela justiça" começou inicialmente no Rio, mas agora queremos incentivar que outros grupos FALE desenvolvam nas igrejas locais momentos de oração/intercessão.

No dia 29 de outubro haverá o "1° Orando pela Justiça" em São Paulo, na Igreja Cristã da Família da Vila Mariana. Em Vitória acontecerá no  dia 6 de novembro, na Escola de Missão Avalanche. O mês de novembro foi escolhido pela coordenação de Liturgia e Intercessão para convocar todos os grupos e parceiros para na busca de uma espiritualidade engajada.

O boletim de oração de outubro/novembro foi confeccionado especialmente para o “Orando pela Justiça”.  Para baixá-lo,clique aqui. Nele, além da  devocional “Porque orar”, existem os pedidos para inteceder. Porém, o seu grupo pode levantar outros motivos de oração.

Além do Boletim de oração, você pode usar o recurso de vídeo:

 

Orando pela Justiça 2011– Pedidos de oração
Chamada “Orando pela Justiça 2011”

 

Mobilize seu grupo! Caso você queira mais informações,  escreva para: mobilizacao@fale.org.br

Em Cristo,

Coordeenação de Liturgia e Intercessão da Rede FALE

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Assim me vejo

"Porém, temos este tesouro em vasos de barro, para que transpareça claramente que este poder extraordinário provém de Deus e não de nós.

Em tudo somos oprimidos, mas não sucumbimos. Vivemos em completa penúria, mas não desesperamos. Somos perseguidos, mas não ficamos desamparados. Somos abatidos, mas não somos destruídos.

Trazemos sempre em nosso corpo os traços da morte de Jesus para que também a vida de Jesus se manifeste em nosso corpo. Estando embora vivos, somos a toda hora entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus apareça em nossa carne mortal. Assim em nós opera a morte, e em vós a vida.

Animados deste espírito de fé, conforme está escrito: Eu cri, por isto falei, também nós cremos, e por isso falamos. Pois sabemos que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus, nos ressuscitará também a nós com Jesus e nos fará comparecer diante dele convosco.

E tudo isso se faz por vossa causa, para que a graça se torne copiosa entre muitos e redunde o sentimento de gratidão, para glória de Deus. É por isso que não desfalecemos. Ainda que exteriormente se desconjunte nosso homem exterior, nosso interior renova-se de dia para dia.

A nossa presente tribulação, momentânea e ligeira, nos proporciona um peso eterno de glória incomensurável. Porque não miramos as coisas que se vêem, mas sim as que não se vêem . Pois as coisas que se vêem são temporais e as que não se vêem são eternas. "

2 Coríntios 4:7-18


"Mas em todas as coisas nos apresentamos como ministros de Deus, por uma grande constância nas tribulações, nas misérias, nas angústias,nos açoites, nos cárceres, nos tumultos populares, nos trabalhos, nas vigílias, nas privações; pela pureza, pela ciência, pela longanimidade, pela bondade, pelo Espírito Santo, por uma caridade sincera,pela palavra da verdade, pelo poder de Deus; pelas armas da justiça ofensivas e defensivas,através da honra e da desonra, da boa e da má fama.

Tidos por impostores, somos, no entanto, sinceros; por desconhecidos, somos bem conhecidos; por agonizantes, estamos com vida; por condenados e, no entanto, estamos livres da morte. Somos julgados tristes, nós que estamos sempre contentes; indigentes, porém enriquecendo a muitos; sem posses, nós que tudo possuímos! "

2 Coríntios 6:4-10


A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Porque não há dois evangelhos

Segue.

Ricardo Agreste - 22/10/2011 - Porque não há dois evangelhos from Ariovaldo Ramos on Vimeo.



A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva

Antes de ser grande, é preciso ser pequeno

Na ultima década tive o privilégio de conhecer centenas de trabalhos com jovens por esse Brasil. Encontrei líderes dedicados e jovens comprometidos, mas também ouvi muitas reclamações de grupos que não conseguiam “engrenar” um ministério com juventude forte e relevante na igreja.

Quando passava o fim de semana com eles percebia que, aparentemente, o problema, na maioria das vezes, era simples, um problema de identidade.

Todos eles queriam ser um grupo de jovens relevante, forte e grande, mas não percebiam a coisa mais básica do crescimento: para ser grande, é preciso ser pequeno antes.

Nada pior para um ministério, ou uma reunião de jovens, agir como grande sendo pequeno.

Estes dias vi um novo modelo de “moto”, ela tem todo o formato de moto, mas com 2 rodas na frente. Logo pensei, este veículo de 3 rodas, mesmo sendo muito bonito, conseguiu juntar o “pior” dos dois mundos, a insegurança e a desproteção da moto, com a falta de mobilidade do carro. Em um dia chuvoso ou engarrafado o dono dessa “moto” vai pensar: por que eu não comprei um carro ou uma moto?

Se pensarmos como grandes, sendo pequenos, conseguiremos juntar o pior dos dois mundos e emperraremos o potencial do ministério e dos jovens.

Um dos erros mais comuns dos ministérios com jovens é se reunir no salão (templo) principal da igreja. Os jovens estão todos lá, mas parece que não estão.

Por exemplo: 30 jovens em um salão onde cabem 200 eles “somem”. Por natureza eles já não sentam juntos e também costumam sentar bem atrás. Com isso a reunião fica fria e impessoal, dando a sensação de que ninguém veio.

Aproveite que vocês “ainda” são pequenos e vão para uma sala ou uma casa, sentem em roda, coloquem menos cadeiras do que o número de pessoas que vocês estão esperando. Assim, quando alguém chegar atrasado, todos abrem a roda para colocar mais uma cadeira, criando o sentimento de assimilação e crescimento.

Muitos líderes não fazem isso por preguiça, pois o palco do salão já esta pronto com os instrumentos e tudo mais. Mas vale a pena o trabalho, sem contar com a “liberdade” de fazer um culto contemporâneo, coisa que às vezes não é permitido por estarem no “templo” da igreja.

Conheci uma igreja nos EUA que se reunia em uma escola diferente todo fim de semana, todo sábado eles passavam 4 horas montando tudo e no domingo mais 3 horas desmontando. Conversando com o pastor sobre o trabalho que dava para fazer isso, vi que valia apena tudo, pois não tinham despesas com templo próprio, conseguiram levar a igreja até os jovens, nas suas escolas e, além disso, geravam a consciência de que o trabalho para Deus não podia ter preguiça, tinha que ser com excelência.

Outra vantagem é no formato e na liturgia. Quantas vezes vi um culto de jovens começar com mais gente tocando no louvor do que nas cadeiras para louvar. Pra que tantos instrumentos? Pra que tanta gente no palco? Pra que palco?

Se quem vai conduzir o louvor sentar na roda juntamente com todos, tiver um ou dois violões e quem sabe um cajón, todos vão se sentir parte do grupo que está louvando ao Senhor, as vozes vão se destacar, e o propósito de cantar em comunidade para Deus será enfatizado.

E o melhor de tudo, da para fazer grupos de 3 a 5 pessoas para orar uns pelos outros, discutir os assuntos, ouvir a opinião desses pequenos grupos, fazer dinâmicas para assimilar melhor o que foi pregado, etc.

Essas são algumas dicas de como humanizar (no melhor sentido da palavra) e focar mais o seu grupo de jovens. Tenho experimentado isso na minha igreja e tem feito a diferença.

Mas para acabar quero dar uma notícia boa e ruim:

A noticia boa é que se você desfrutar das coisas boas de ser um grupo pequeno você vai fortalecer o grupo de jovens e vai crescer, mas a noticia ruim é que logo você vai ter que repensar tudo de novo, porque você vai deixar de ser pequeno.


Marcos Botelho

Ter fé é também correr riscos

O que é fé, senão uma aposta? Para aquilo se tem certeza a fé não é necessária. Fé é para aquilo que não se vê, que não se pode tanger, pode-se tão somente esperar. Ter fé é arriscar-se. Acreditar num futuro diferente e melhor é ter fé. Por isso que em Deus temos fé. Não o vemos, não o tocamos, mas cremos. É uma aposta que fazemos.

Isso acontece também nos relacionamentos. O casamento, por exemplo, é uma aposta. Não há certeza que vai dar certo, não se consegue prever o futuro. Mas quem se casa, o faz apostando que vai dar certo.

Em tudo na vida é assim. Por mais planejamento que se tenha, por mais que se tenha calculado todas as probabilidades, há sempre uma dose de imprevisão.

Quem não quer correr riscos não pode empreender coisa alguma, nem se relacionar com ninguém, porque relacionar-se é correr riscos, inclusive de se decepcionar muito e gravemente. Mas se não arriscar como saber?

Se não quer correr o risco de se decepcionar com pessoas, nunca se envolva, não faça amigos, se isole completamente, assim você não corre o risco de se machucar e também não machucará ninguém. Mas isso não é vida. É preciso arriscar-se.

Se você só vai participar de uma igreja quando encontrar uma em que as pessoas sejam perfeitas, cheias de fé, plenas de amor, retas em justiça, prontas para o céu, então se isole, fique só em sua casa, nunca entre em uma igreja. Mas se você aceita se arriscar para caminhar ao lado de gente capenga, falha, finita, pecadora, com todos os vícios e todas as virtudes que qualquer ser humano tem, então arrisque-se, envolva-se, comprometa-se com uma comunidade de fé.

Se você acha que o mundo não tem jeito, que nada nunca vai mudar, que os injustos sempre vão se dar bem e que os bons sempre vão sofrer, que não há nada que você possa fazer para alterar o mundo em sua volta para melhor, então não faça nada, fique olhando as coisas acontecerem e seja absorvido pelo seu cinismo. Mas se acredita que alguma coisa pode ser diferente e que você pode colaborar para isso; se você aposta que alguma coisa pode ser alterada se você deixar o imobilismo e o comodismo, então arrisque-se. Dê um salto de fé.

Se você acha que a vida é uma droga. Se não consegue ver nada de belo na vida, se não é agradecido por nada, então tem mesmo que ficar sentado num “trono de um apartamento, com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar”, como já cantou Raul Seixas. Mas você pode se arriscar e fazer algo.

Se você acha que as palavras de Jesus são uma balela e que a proposta de amor ao próximo como lei maior não vale nada e não muda nada, então tudo bem, continue como está, vivendo uma religiosidade fria, sem vida e irrelevante. Se você vê a Deus como um Papai Noel bíblico que está pronto a dar a você os brinquedinhos que você tanto pede, se sua relação com o sagrado é infantil e baseada na troca, então continue se infantilizando.

Mas se você vê algo de transformador na mensagem de Cristo, algo revolucionário na proposta dos Evangelhos, então arrisque-se e comece a agir de modo a alterar para melhor o atual estado de coisas. Isso é fé.


Márcio Rosa da Silva

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Recomendo

Segue o vídeo do Paul Freston falando sobre o desafio da formação de novos lideres na igreja Cristã do brasil.

Paul Freston - 20-08-2011 from Ariovaldo Ramos on Vimeo.


A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Credo Apostólico

Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do Céu e da terra.

Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; ressurgiu dos mortos ao terceiro dia; subiu ao Céu; está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.

Creio no Espírito Santo; na Santa Igreja Universal; na comunhão dos santos; na remissão dos pecados; na ressurreição do corpo; na vida eterna.

Amém.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

História em construção

Disseram-me que à medida que envelhecemos, melhor nos lembramos do passado. Não é verdade! Embora não esteja nem próximo da terceira idade, já posso constatar: muitos eventos se perderam irremediavelmente sob os escombros de um vento corrosivo chamado tempo.

Gostaria de lembrar o dia exato em que eu e meu pai saímos para colher cajus num matagal. Se eu cravasse essa data, seria meu feriado nacional. Elegeria como uma data mais importante que o natal ou a páscoa. Esse dia faz parte de minha memória mais remota. Não consigo registrar data mais antiga; e nela conquistei uma selva. Vivíamos em um bairro muito ermo com um nome peculiar: Cocorote. Só depois de adulto, numa conversa informal, aprendi seu significado; quando um brigadeiro da Força Aérea Brasileira nos divertia em um jantar em sua homenagem, contando peculiaridades do mundo da aeronáutica. Sei que ele nem percebeu a minha felicidade quando jocosamente explicou o nome do meu primeiro bairro. Inicialmente nos informou que os americanos usaram Fortaleza como pista de apoio e reabastecimento para poderem alcançar a costa da África na II Guerra Mundial. Como na cabeceira da pista de decolagem, corria o imponente rio Cocó, os aviões subiam na rota do Cocó – “The Coco Route”, em inglês. Anos depois, construíram algumas casas, entre cajueiros e denominaram aquelas redondezas de Cocorote – obviamente em “cearensês”. Foi ali, antes de nascer o bairro da Aerolândia, que armado de um bambu, derrubei infinitos cajus. Minha primeira bravura em um mundo selvagem.

Gostaria de lembrar uma história que ouvi da vovó Maria Cristina quando me punha para dormir. Ela embalava uma rede e me embriagava de sono com as travessuras de Pedro Malazarte, figura do folclore nordestino. Há pouco, bisbilhotando uma livraria, achei um Pequeno Dicionário de Lendas, Fábulas e Contos Populares Nordestinos. Havia uma seção todinha para o tal Pedro Malazarte, peralta imaginário, aprontador de estripulias e que sempre se safa com uma lição de moral. Li o livro inteiro e não consegui associar nenhum dos relatos aos resíduos que ainda guardo dessas histórias fabulosas de minha infância. Se me lembrasse, emolduraria em minha sala. Com elas, iniciei-me pelo mundo da ficção, do romance. Com a voz doce de minha avó, viajei por mundo imaginários onde os gatos falavam, as botas papavam léguas e o final sempre era feliz.

Gostaria muito de lembrar da primeira música que ouvi em um ambiente evangélico, nos corredores da Liga Evangélica de Assistência – que abriga pessoas idosas e é mantido pela igreja presbiteriana. A família que me evangelizou, visitava esse abrigo todas as tardes de domingo, realizando culto entre os velhinhos. Logo ouvi cantando acompanhado por uma sanfona um homem cego, negro e com uma deformidade na pele horrível. Horrorizei-me com sua aparência: as pontas do seu nariz e orelhas cresciam como cogumelos gigantes. Mas sua música me marcou profundamente.

Narrava a vida dos personagens bíblicos que muito padeceram; depois afirmava que mesmo não possuindo nada nesse mundo, tinham o amor de Deus: “E por isso eram mais que milionários”. Se pudesse me lembrar dessa música, pediria para nunca mais cantarem “Parabéns para você” no meu aniversário. Esse seria o hino de minha vida. Para nunca esquecer que comecei a minha carreira cristã num asilo de velhos; ouvindo um cego negro e doente cantar que era mais que milionário.

Gostaria muito de me lembrar dessas coisas para ser grato, ser para sempre grato; ser com o meu coração, com o espírito grato a Deus, ele que me traz em seu regaço desde as minhas origens e com mãos de joalheiro escreve a minha história.


Ricardo Gondim

Da superficialidade à maturidade

Vivemos a era da superficialidade. Tanto é assim, que um dos maiores fenômenos da atualidade é o Twitter, microblog no qual as postagens não podem exceder 140 caracteres. Um amigo, editor de um blog muito acessado, disse-me que quando ele posta textos com mais de quatro parágrafos, quase ninguém lê. Se a pessoa não lê algo que tenha mais de quatro parágrafos, como vai ler Guerra e Paz, Os miseráveis, ou Os Sertões?

Nos relacionamentos há muita superficialidade. “Ficar” tornou-se uma modalidade de relacionamento amoroso, lembrando que esse ficar é dar uns beijos ou algo mais, por apenas um evento. Nem precisa ligar no dia seguinte. Tempos rasos.

Essa cultura da superficialidade foi levada para o campo religioso. Hoje se vive muito claramente uma religião de mercado. Aquela que oferecer o melhor “produto” terá mais “clientes”, ou melhor, fiéis. Fiéis é modo de dizer, porque só serão fiéis enquanto houver conveniência. No dia em que aquela religião não mais lhe servir, muda pra outra mais adequada aos estímulos de consumo.

O “ficar” migrou para a experiência religiosa. A pessoa “fica” com Deus. Vai a uma igreja, sente um friozinho na espinha, tem uns êxtases, é gostoso, mas depois que sai daquele ambiente não “assume” Deus na vida diária.

Pode ser também a superficialidade baseada na necessidade de algo. A pessoa está numa enrascada, quer passar num concurso, quer arrumar alguém para casar, então vai à igreja pra ver se Deus arruma isso pra ela. Enxergam a igreja como uma fornecedora com grandes prateleiras onde produtos são oferecidos. Ora, isso não é espiritualidade, é consumismo.

Então Jesus morreu na cruz pra isso? Para que as pessoas fiquem olhando para o próprio umbigo e fazendo “campanhas” de oração pra arrumar marido, conseguir um carro novo e coisa e tal? Não, definitivamente, não. Isso é ser superficial demais!

O convite de Jesus é para rompermos a superficialidade e explorarmos águas mais profundas.

Quantos cristãos ainda são imaturos na fé? Eternamente perguntando se pode fazer isso ou aquilo, melindrados e magoados por qualquer coisa, incomodados com qualquer cisco no olho do outro, mas sem enxergar as traves no próprio.

Quantos não conseguem fazer qualquer abstração e levam tudo ao pé da letra? Se não há capacidade de abstração, como entender que Jesus é a porta, a água, o pão, o vinho, o caminho? Quem leva a bíblia ao pé da letra é um imaturo na fé. Como vai entender, por exemplo, as parábolas de Jesus?

Há um convite à maturidade, para deixar essa relação utilitária com Deus, do toma lá, dá cá: “toma lá minhas orações, meus jejuns, minhas vindas à igreja, minhas ofertas… dá cá a minha benção, minha vida blindada, meus livramentos”.

A maturidade nos leva a uma relação de cooperação com Deus. Não ficar esperando Deus fazer as coisas por si e pelo mundo, mas se colocar como cooperador para realizar transformações junto com Deus, ser um agente de transformação. Mas isso exige um abandono do superficial para uma relação madura com Deus e com a vida.


Márcio Rosa da Silva

Cadeiras

Mas uma do Rob Bell depois de um bom tempo sem nenhuma postagem dele no blog.




A Deus Somente A Glória,
Ricardo A. da Silva

O nome da História

A eremita trouxe as xícaras de chá e sentou-se de frente para o adolescente na mesa de madeira debaixo da pérgula, junto de onde ele tinha deixado a bicicleta. Tomaram um gole em sincronia e resvalaram numa página de silêncio enquanto observavam o ocre sem limites de Val d’Orcia.

– Em que você está pensando? – ela disse.

– Que talvez Deus não exista.

Ele tomou mais um gole, mas ela franziu um pouco a testa e não soube preservar o silêncio que ele talvez esperasse.

– Eu às vezes oro para que Deus não exista – ela disse de repente, a xícara junto ao peito como uma vela numa procissão.

– Como assim?

– Não sei. Às vezes penso que seria belíssimo se Deus fosse uma invenção dos homens.

– Não sei – ele coçou a barba rala. – Eu preferia que Deus fosse mais importante do que uma boa alucinação.

– É que – ela gastou um instante juntando palavras para descrever o irromper de sangue que trazia dentro do peito – isso se ajustaria perfeitamente ao Deus que eu gostaria de adorar e servir. Um Deus que se permitisse criar. Que se permitisse aperfeiçoar.

– Mas, que se fosse assim, seria para sempre subalterno aos homens.

– Não vejo porquê – ela foi sincera. – Talvez tudo no universo seja subalterno aos homens, menos esse Deus.

– Você está de novo entrando em terreno de excomunhão.

– E você veio buscar companhia num eremitério – ela explicou, vagamente irritada.

E voltaram a habitar o silêncio. Ele arriscou olhá-la por um instante, depois fechou os olhos e meneou a cabeça para capturar o dia no cheiro do vento.

– Acho que tudo está ligado – ela não resistiu – a essa coisa humana de contar histórias. Histórias que tenham começo, meio e fim. O desejo de ouvir e contar histórias é parte da nossa própria estrutura. O homem é maior que os anjos, mas interrompe o que estiver fazendo para dobrar-se à superioridade da narrativa. O universo inteiro é menor que a menor parábola.

– Você está querendo dizer que Deus é uma ficção.

– Não, estou dizendo que as histórias podem ser indicação de Deus – ela corrigiu, e apertava a xícara entre os dedos como se o calor da tarde não bastasse para aquecê-la. – E que nós, seres humanos, somos feitos de tal forma que o universo é regido de acordo com as histórias que contamos. Quando as ficções mudam, o mundo muda em conformidade.

– Isso é porque contamos histórias para inventar um sentido para o mundo – ele conformou-se ao papel de antagonista que no rumo da conversa ela havia destinado para ele. – A ficção dá a ordenação que o mundo por si mesmo não tem. Para ouvir histórias é preciso contribuir com uma espécie de “submissão experimental”, uma ingenuidade assumida de caso pensado. Fazemos isso na esperança de encontrar um sentido para a coisa toda. O que você está dizendo é que Deus não passa do resultado mais elevado desse tipo de experimentação. A maior história jamais contada, por assim dizer.

– Quero dizer que acho que Deus existe mesmo, mas que só se manifesta na ficção.

– O que é absurdo – ele disse, e imediatamente lamentou não ter um argumento melhor para interpor.

Ele mudou de posição no banco e uma perna roçou por um instante a meia preta dela. Ela recuou imediatamente, mas mais por coordenação fraternal do que por verdadeiro constrangimento. Nunca falariam a respeito disso, mas sabiam que não fosse a diferença abismal de idade teriam juntos explorado em redemoinho as camas do verão. Nem os votos dela nem o constrangimento dele teriam se colocado no caminho.

– E há algo sobre Deus que não seja absurdo? A ortodoxia, que é conservadora, insiste nisso. A liturgia. Nossa amizade é absurda.

Ele tomou o último gole e afastou a xícara para o centro da mesa. Depois alçou uma perna para cima do banco, apertou-a junto do corpo e apoiou o queixo no joelho. Ela olhava com um vago sorriso para um ponto no ar.

– Estou aqui tentando lembrar o nome de uma história de Jorge Luis Borges sobre um agente secreto num país estrangeiro que mata um homem só por causa do nome dele. Eles conversam um pouco sobre destino, vida e morte e depois o sujeito mata esse civil desconhecido só porque o nome dele, quando a notícia do assassinato saísse no jornal, serviria de senha para que a organização do agente deslanchasse alguma mobilização de guerra.

– E por que você quer lembrar o nome da história?

– Não sei. É que a ideia do conto se tornou de imediato uma obsessão para mim, essa de matar uma pessoa só para passar uma mensagem – ela finalmente olhou diretamente para ele. – Você me mataria para passar uma mensagem? Como posso saber se você não tem um revólver nessa mochila?

– Você não tem o nome certo – ele disse, e procurou o horizonte. – Não é a mensagem que eu quero passar.

Ela baixou a cabeça e sorriu, imediatamente irritada por ter se permitido irritar tão facilmente. Ela às vezes esquecia que ele era homem, mas isso só até que ele a fizesse lembrar do jeito mais inequívoco. Que os homens cedessem tão facilmente ao seu próprio arquétipo era, por si mesmo, o grande arquétipo masculino.

– A pergunta que você na verdade quer me fazer – ele adivinhou, – é se eu mataria Deus para passar uma mensagem.

E olhou para ela.

– A pergunta que eu quero fazer – ela exigiu, muito empertigada, – é se Deus se deixaria matar para passar uma mensagem.


Paulo Brabo
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