quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A revelação e a palavra

Palavra de Deus é a palavra que Deus falou, fala e haverá de falar em meio aos homens, a todos os homens, quer seja ouvido que não o seja. É a palavra de seu agir nos homens, a favor dos homens, com os homens. Este seu agir não nenhum agir mudo; é uma agir que fala por sua própria natureza. Sendo que só Deus é capaz de realizar o que realiza, só ele será capaz de dizer em seu agir o que diz. E, por seu agir não ser dúbio, mas sim, uno e inequívoco (e isso, em suas formas múltiplas, e dentro do seu movimento que parte da origem e visa o alvo), também sua palavra, em toda sua excitante riqueza, é una e inequívoca. Não é dúbia, é evidente. Não é obscura, é clara, portanto compreensível, tanto para o mais sábio quanto o mais estulto. Deus age, e agindo fala. Sua palavra acontece. [...] Falamos do Deus do Evangelho, no seu atuar como tal é sua linguagem, sua palavra. [...]

A Palavra de Deus, portanto, é evangelho, mensagem boa, porque é ação benigna de Deus que nela se expressa e que por ela se transforma em apelo pessoal. [...] É em sua palavra que Deus revela seu agir, no horizonte de sua aliança com o homem; e na historia de sua constituição, da manutenção, da realização e da conclusão dessa aliança é que ele se revela a si mesmo. Revela sua santidade, mas revela também sua misericórdia, misericórdia de pai, de irmão, de amigo. Revela seu poder e sua majestade, como sendo senhor e juiz do homem. Mas em sua palavra revela também o homem como sua criatura, como sendo seu devedor insolvente, criatura perdida sobre seu juízo. Revela-o como criatura mantida por sua graça, como homem salvo por Deus, posto a seu serviço. Revela o homem como sendo seu filho e servo, como sendo seu amado, segundo parceiro na aliança; em síntese: revela o homem como sendo homem de Deus. A aliança, é, portanto: Deus como o Deus do homem e o homem como homem de Deus, esta historia, esta obra tal como é idêntica ao testemunho da palavra de Deus, testemunho que a distingue de qualquer outra palavra. [...]


Karl Barth
Trecho retirado da 2° Preleção do livro "Introdução a Teologia Evangélica"

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