sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A arte de ser simples

As coisas simples são sempre as mais difíceis.

A arte de ser simples é a mais elevada, e do mesmo modo aceitar-se a si mesmo é a essência do problema moral e o cerne de toda uma visão de mundo. Que eu alimente um mendigo, que perdoe uma ofensa, que ame um inimigo em nome de Cristo, são todas sem dúvida grandes virtudes. Aquilo que faço ao menor de meus irmãos estou fazendo a Cristo.

Mas e se eu acabar descobrindo que o menor de todos, o mais pobre dos mendigos, o mais acusado de todos os ofensores e o próprio grande adversário residem dentro de mim, e que eu mesmo careço de minha própria bondade? Que sou eu mesmo o inimigo que deve ser amado? E então?

Portanto, regra geral, toda a verdade do cristianismo é revertida, e não se aplica qualquer discurso de amor e longanimidade. Dizemos ao irmão dentro de nós: “Raca!” e infligimos condenação e fúria sobre nós mesmos. Escondemos do mundo o irmão interior, negamos ter jamais conhecido esse menor dos menores dentro de nós, e se o próprio Deus se aproximasse de nós nessa forma desprezível – a nossa forma – teríamo-lo negado mil vezes antes que cantasse um único galo.


Carl Jung
em Psicoterapeutas ou o clero

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