terça-feira, 15 de junho de 2010

Igreja boa não é a que ajunta, mas a que espalha

Nós temos uma vontade muito grande de que as pessoas nos sigam, de que possamos ser influentes. O Twitter é um exemplo claro disso. Tem prestígio quem tem muitos followers (seguidores). Assim também no Orkut, Facebook e outras redes sociais na internet, quem tem muitos amigos adicionados no seu perfil tem prestígio.

Da mesma forma, uma grande organização comercial sempre vai alardear quantas filiais possui, quantos empregados trabalham nela, quantos clientes tem, qual o faturamento da empresa, etc. Isso traz prestígio, se os números foram grandes, claro.

No mundo religioso, em especial no Ocidente, não parece ser diferente. Já virou motivo de piada os números “evangelásticos” de alguns movimentos. O evento reuniu 200 mil pessoas, mas a organização diz que foram um milhão de pessoas. E assim sempre.

Já se perdeu a conta de quantos livros já foram escritos para ensinar como fazer a igreja crescer. São livros que vendem como água, porque pretensamente “ensinam”, em poucos passos, como fazer a igreja local crescer e como tornar os membros da igreja fiéis. Em outras palavras, como fidelizá-los para que eles não saiam daquela igreja e ainda estejam sempre dispostos a fazer o que líder mandar.

Depois se diz que tal movimento realmente é de Deus porque cresce muito e as pessoas aderem a ele fervorosamente. É preciso ter cuidado ao dizer que o fato de muitas pessoas aderirem a um movimento o torna legítimo. O Nazismo contava com a adesão fervorosa de milhões e pessoas. E era o Nazismo.

O tamanho não legitima nada. Apenas dá poder ao movimento, à organização, seja lá o que for. Igreja, partido político, organizações comerciais, ou mesmo organizações criminosas, o que for, sempre que houver muita gente, esse grupo será poderoso, mas isso não quer dizer que as ações dessa organização sejam legítimas.

É evidente que eu sou um fervoroso defensor de que a igreja tem mesmo que crescer e ser frequentada. Ela é a comunidade dos seguidores de Jesus, e nas suas reuniões há, ou deveria haver, estímulo, oração comunitária, louvor comunitário, ajuda mútua e isso é muito bom. Aprendemos juntos sobre a palavra de Deus e aprendemos uns com os outros a viver essa palavra. Isso é muito desejável.

Mas ter uma igreja com muitas pessoas não é um fim em si mesmo. É uma oportunidade para dizer às pessoas que, ao saírem das reuniões da igreja, elas devem ser verdadeiros discípulos de Jesus indo pelo mundo, não apenas ficando na igreja, mas saindo dela e sendo realmente sal e luz num mundo que carece de um reflexo de Jesus.

Por diversas vezes, Jesus disse vem. Assim foi com seus discípulos, que depois formaram o grupo de apóstolos e para tantos outros. Mas, mais do que dizer “vem”, Jesus disse “vai”. Sim, há mais ordens de Jesus dizendo “vai”, do que dizendo “vem”. Ele não estava tão interessado em ter muitos seguidores, mas sim em que as pessoas que tivessem se encontrado com ele fossem embora, agora vivendo suas vidas de modo diferente, amando a Deus e às pessoas.

Penso que, em vez de querermos que a igreja seja composta de uma multidão que apenas se reúne, temos que desejar que a igreja seja uma multidão que se espalha e, por onde passa, reflete a pessoa de Jesus Cristo.


Marcio Rosa

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