quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Lições que nascem da dor

Eu e João corremos juntos um dia. Como tinha 25 anos de idade e era magro, não precisava esforçar-se para manter o meu ritmo. De repente, falou-me que se sentia deprimido. Perguntei-lhe se identificava uma causa para sua depressão. “Medo de fracassar”, retrucou, sem hesitação. Pelo restante do percurso, procurei mostrar que Deus ama sem cobrar desempenhos e que, mesmo nunca alcançando êxito, continuamos queridos; falei que Deus não desiste dos malsucedidos. Porém, duas semanas depois, chorei: João se suicidou.

Sua morte me abateu. Eu o amava. João temia o futuro e, por mais que se esforçasse, não conseguia reverter seu pessimismo. Meus conselhos, orações e cuidado de outros cristãos não ajudaram. Nada, absolutamente nada, reverteu sua morbidez, e ele se puniu com a mais desastrosa decisão – castigando todos nós.

Angústia e depressão fazem parte da nossa existência. Vários personagens históricos e bíblicos tentaram fugir para cavernas escuras em momentos semelhantes; abatidos, mal cogitavam achar forças que lhes devolvessem esperança. Essa apatia não lhes tirava apenas o sono. Acordados, tinham de conviver com um pessimismo infinitamente triste.

Nessa tragédia, aprendi que a maioria das pessoas não teme morrer, mas se apavora em não saber viver. A inevitabilidade da morte não as assusta; elas só querem evitar a insignificância, que é a noção de que existimos, mas sumiremos sem importância. Milan Kundera afirmou: “Todo mundo tem dificuldade de aceitar o fato de que desaparecerá, desconhecido e despercebido, num universo indiferente”. Isso explica porque algumas pessoas se esforçam tanto para realizar alguma coisa extraordinária – até comete algum crime. Elas querem é ser valorizadas em vida e lembradas depois de mortas.

Meses depois, me contaram que João se angustiava com o desejo de agradar a seu pai, dizendo para si mesmo que nunca conseguiria satisfazê-lo. Ainda criança, jogava tênis olhando para a arquibancada, na esperança de ganhar um sorriso de aprovação. Ele se formou em engenharia, envergonhado por não alcançar nota máxima em todas as matérias. Assim, ao projetar sua vida futura sofria imaginando não galgar os píncaros da glória e riqueza.

Preocupa-me que o mundo religioso venha ressaltando apenas as exigências rigorosas de uma divindade muito complicada de ser agradada. A maioria dos crentes brasileiros não concordaria com Gilberto Gil quando canta: “Se eu quiser falar com Deus/ Tenho que aceitar a dor/Tenho que comer o pão/Que o diabo amassou/Tenho que virar um cão/ Tenho que lamber o chão”. Contudo, o comportamento da maioria confirma o conteúdo dessa música. Existe uma espiritualidade que se difunde e que oprime as pessoas com fardo excessivo. São igrejas que não deixam ninguém esquecer suas dívidas com uma lei duríssima. Nessas religiões, culpam-se as inadequações humanas pelos revezes da vida, e todo contratempo é visto como fruto de pecado u de eventuais “brechas” por onde o diabo entra.

As pessoas lotam essas igrejas com o desejo de agradar a um Deus complicadíssimo. Desse modo, se esperam afetos ou compaixão da parte dele. Se alguém almeja “conquistar” o amor divino, precisará sempre fazer sacrifício.

As pessoas não precisam desse tipo de religião, elas carecem de uma mensagem diferente. Oxalá, mais pregadores anunciem: “Deus não desistirá de amar, mesmo quando seus filhos não merecem Seu amor é leal. Nada diminuirá seu compromisso de oferecer o melhor de si para que seus filhos cresçam”. Na parábola do Pródigo, o pai disse ao filho mais velho: “Tudo o que tenho é seu”. Essa frase precisa ressoar na mente de todos os cristãos, pois, nela está a promessa bíblica de que somos co-herdeiros com Cristo. Ninguém é estimado por cumprir mandamentos ou alcançar níveis excelentes de santidade. Deus ama de graça.

Chorei com a morte do João, mas aprendi a mais linda verdade: Deus quer bem aos seus filhos sem esperar desempenho. Ele não abandona os malogrados. E já que ninguém precisa fazer jus ao seu amor, todos podem festejar seu amor e se colocar no fantástico projeto de ser transformado na imagem de Jesus Cristo.

Eu e João corremos juntos um dia. Como tinha 25 anos de idade e era magro, não precisava esforçar-se para manter o meu ritmo. De repente, falou-me que se sentia deprimido. Perguntei-lhe se identificava uma causa para sua depressão. “Medo de fracassar”, retrucou, sem hesitação. Pelo restante do percurso, procurei mostrar que Deus ama sem cobrar desempenhos e que, mesmo nunca alcançando êxito, continuamos queridos; falei que Deus não desiste dos malsucedidos. Porém, duas semanas depois, chorei: João se suicidou.

Sua morte me abateu. Eu o amava. João temia o futuro e, por mais que se esforçasse, não conseguia reverter seu pessimismo. Meus conselhos, orações e cuidado de outros cristãos não ajudaram. Nada, absolutamente nada, reverteu sua morbidez, e ele se puniu com a mais desastrosa decisão – castigando todos nós.

Angústia e depressão fazem parte da nossa existência. Vários personagens históricos e bíblicos tentaram fugir para cavernas escuras em momentos semelhantes; abatidos, mal cogitavam achar forças que lhes devolvessem esperança. Essa apatia não lhes tirava apenas o sono. Acordados, tinham de conviver com um pessimismo infinitamente triste.

Nessa tragédia, aprendi que a maioria das pessoas não teme morrer, mas se apavora em não saber viver. A inevitabilidade da morte não as assusta; elas só querem evitar a insignificância, que é a noção de que existimos, mas sumiremos sem importância. Milan Kundera afirmou: “Todo mundo tem dificuldade de aceitar o fato de que desaparecerá, desconhecido e despercebido, num universo indiferente”. Isso explica porque algumas pessoas se esforçam tanto para realizar alguma coisa extraordinária – até comete algum crime. Elas querem é ser valorizadas em vida e lembradas depois de mortas.

Meses depois, me contaram que João se angustiava com o desejo de agradar a seu pai, dizendo para si mesmo que nunca conseguiria satisfazê-lo. Ainda criança, jogava tênis olhando para a arquibancada, na esperança de ganhar um sorriso de aprovação. Ele se formou em engenharia, envergonhado por não alcançar nota máxima em todas as matérias. Assim, ao projetar sua vida futura sofria imaginando não galgar os píncaros da glória e riqueza.

Preocupa-me que o mundo religioso venha ressaltando apenas as exigências rigorosas de uma divindade muito complicada de ser agradada. A maioria dos crentes brasileiros não concordaria com Gilberto Gil quando canta: “Se eu quiser falar com Deus/ Tenho que aceitar a dor/Tenho que comer o pão/Que o diabo amassou/Tenho que virar um cão/ Tenho que lamber o chão”. Contudo, o comportamento da maioria confirma o conteúdo dessa música. Existe uma espiritualidade que se difunde e que oprime as pessoas com fardo excessivo. São igrejas que não deixam ninguém esquecer suas dívidas com uma lei duríssima. Nessas religiões, culpam-se as inadequações humanas pelos revezes da vida, e todo contratempo é visto como fruto de pecado u de eventuais “brechas” por onde o diabo entra.

As pessoas lotam essas igrejas com o desejo de agradar a um Deus complicadíssimo. Desse modo, se esperam afetos ou compaixão da parte dele. Se alguém almeja “conquistar” o amor divino, precisará sempre fazer sacrifício.

As pessoas não precisam desse tipo de religião, elas carecem de uma mensagem diferente. Oxalá, mais pregadores anunciem: “Deus não desistirá de amar, mesmo quando seus filhos não merecem Seu amor é leal. Nada diminuirá seu compromisso de oferecer o melhor de si para que seus filhos cresçam”. Na parábola do Pródigo, o pai disse ao filho mais velho: “Tudo o que tenho é seu”. Essa frase precisa ressoar na mente de todos os cristãos, pois, nela está a promessa bíblica de que somos co-herdeiros com Cristo. Ninguém é estimado por cumprir mandamentos ou alcançar níveis excelentes de santidade. Deus ama de graça.

Chorei com a morte do João, mas aprendi a mais linda verdade: Deus quer bem aos seus filhos sem esperar desempenho. Ele não abandona os malogrados. E já que ninguém precisa fazer jus ao seu amor, todos podem festejar seu amor e se colocar no fantástico projeto de ser transformado na imagem de Jesus Cristo.


Ricardo Gondim

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...