segunda-feira, 7 de abril de 2014

Por que sou cristão de tradição reformada calvinista?

Longe de tentar fazer um estudo robusto demonstrando ponto a ponto as razões do porque sou cristão (de tradição calvinista), vou tentar fazer apenas uma leve pontuação das coisas que me são aparentes ao observar os vários sistemas de pensamento dentro do gueto cristão. Ao longo da trajetória cristã tenho observado através dos perfis cristãos, as nuances de vários sistemas ou linhas de pensamento e as implicações dessas visões em suas vidas. Assim, não pretendo aqui elucidar as questões profundas relacionadas ao tema, mas apenas demonstrar minhas impressões após uma série de observações da vida e do cotidiano. 
Uma das profundas questões que me levaram a essa tradição foram as questões relacionadas a vida cotidiana e a reflexão de ordem psicológica. O cristianismo (reformado calvinista) surgiu para mim como um sistema que emerge numa suave vontade que equilibra o fazer e o esperar. Ao longo da vida somos desafiados para um grande número de empreitadas que nos trazem ansiedade, frustação, desconforto, tristeza e grande quantidade de estresse. Dentro desse contexto, o sistemareformado tem em si um potencial terapêutico bastante efetivo mediante a essas questões, visto que a escritura aponta que somos responsáveis por selar o cavalo, se preparar para a guerra e ir ao ponto de confronto, mas a escritura afirma que somente Deus decidirá quem será o vencedor do confronto, ou seja, há uma forte relação que pode aparentar paradoxal, mas que suavemente demonstra a responsabilidade em trabalhar com afinco e atenção no projeto proposto, mas que tem como pano de fundo o Deus soberano regendo todas as coisas do universo, mesmo os menores processos, pois seu governo se estende a todas as áreas da vida humana e do cosmos, e isso inclui nossa incapacidade de decidir quem ganhará a batalha. 
Dessa forma ser cristão reformado implica necessariamente em uma vida de calma, de trabalho, mas de um trabalho não desesperador. A melhor figura para isso é o pecuarista que lidava na antiguidade com ovelhas. Lidar com ovelhas em tempos remotos era uma tarefa bastante peculiar e de total entrega a Deus, visto que o pastor tinha que levar as ovelhas para comer as gramíneas, beber água e cuidar dos animais ferozes e salteadores que existiam naquelas regiões. A tarefa de ser um pastor de ovelhas remetia a uma total atitude de dependência da vontade dos deuses no mundo antigo. Pois não se poderia operar máquinas para arar a terra a fim de cultivar gramíneas, não existiam sistemas de controle de irrigação efetivo, sistema meteorológico ou qualquer controle automotiva para adubar a terra. Assim, o pastor estava sujeito as variações ambientais e a fisiologia das ovelhas para otimizarem a ingestão de alimento, produção de lã, produção de leite e de carne. O trabalho de um pastor remete a uma visão cristã da vida, aonde o trabalho está imerso nesse ambiente de imprevisibilidade e aonde o sossego e conforto só se sustentam quando o indivíduo entende que Deus controla todas as coisas tanto as boas quantos as más e que nada na terra ocorre sem a sua vontade e governo.
Uma outra perspectiva que me fez adentrar ao sistema reformado de pensamento foi o silêncio. Vivemos em um mundo barulhento, aonde se falam muito, cada um cria seu próprio sistema de pensamento ancorado em um padrão global de consumo e exigências. Essas questões são de ordem muito profundas e acabaram desestruturalizando as categorias do pensar a vida e a si mesmo. Com a divisão da reflexão filosófica (filosofia) e da análise racional (ciência), a partir de Descartes, o homem passou a querer analisar tudo por seu prisma lógico separando racionalidade e irracionalidade, criando a autonomia da razão que não é algo novo, mas que remetem a ecos das histórias do aurorescer da consciência humana já descrito dentro do imaginário judaico-cristão no Éden. 

Assim, o silêncio que a fé reformada proporciona é libertador, ao que o homem se despi de todas as suas elucubrações e passa a simplesmente ouvir a voz de Deus em seu silêncio da vida, na música, na arte, nas flores ou na escura capela. Pois a visão calvinista parte de um referencial Téo-referente, ou seja, a vida e todas as dimensionalidades dela passam pelo prisma desse ser pessoal que cuida a todo momento da sua criação, mesmo que haja terremotos, crises globais, doenças, competição e caça, a vida segue seu pulsar em segurança porque o Deus eterno cuida de todos, a despeito das crises e mortes que fazem parte da condição desse planeta em pecado e de uma humanidade que tomou a decisão de romper com Deus em épocas passadas. Mesmo assim, a bíblia garante que esse mesmo Deus ainda mantem o sistema sobre total controle e cuidado. 

O silêncio é uma parte imprescindível da fé cristã, pois é no silêncio do quarto que as mudanças reais acontecem, é no silêncio da prece que a vida muda, é no silêncio da renúncia que se faz a vontade de Deus, sem holofotes, sem grandes shows, apenas você e Deus, não estou aqui dizendo para se ter uma espiritualidade sem as outras pessoas, até porque isso não é espiritualidade sadia, o que estou realmente dizendo é que o cristianismo (reformado) proporciona ou propõe uma relação em que você abre espaço para Deus falar em meio ao tumulto da vida sem grandes euforismos ou liturgias shows, apenas na tranquilidade da vida, Deus fala e o servo houve e somente os servos ouvirão e somente as ovelhas escutarão a voz do pastor. 

Uma outra característica que me chamou para adentrar ao sistema, foi o realismo que se o sistema está construído. O sistema reformado te coloca consciente no mundo. Ele remove os contos de fadas, ele remove a fantasia, isso não quer dizer que não mais existe beleza no mundo, não estou querendo dizer isso. O que de fato quero dizer é que a perspectiva reformada te coloca consciente de suas responsabilidades como cristão e como ser humano moral no mundo. Assim, não há espaço para preguiça, para letargia, para infantilidade. A fé cristã te amadurece para conseguir ficar dentro da espaçonave igreja, por exemplo, ou para você lidar com você mesmo, que também está dentro da espaçonave. A saber, a igreja sempre será assim, falha, imperfeita, hipócrita, mas essa “merda” parafraseando João Alexandre tem o efeito poderoso no mundo ao ser disperso em doses menores ao redor do globo. Assim, a fé reformada coloca a importância do culto formal, da liturgia formal e da necessidade de se viver em um ambiente eclesiástico que antes de ser divino é humano. E na humanidade que Deus resolveu trabalhar, são com os vasos de barro que Deus resolveu fazer sua obra. 

Os vasos de barro também demonstram claramente como a visão reformada da vida pode lhe fornecer uma atitude de desprendimento e de abertura do seu próprio jeito de pensar e de ser. A saber, o vasos de barros estão nas mãos do oleiro, o vaso está nas mãos do oleiro que modifica, quebra, aquece, esfrega ou o refaz e diz que tipo cada vaso deve ser. Assim, a perspectiva de vaso te reduz, te diminui, te fragiliza, pois como disse um pregador uma vez “Deus gosta de lidar com o frágil e até se tornou um”. A atitude cristã reformada de pensamento nos coloca com situação de total dependência de Deus em todas as áreas da vida, para que sejamos como uma pena, leve, solta, nas mãos do vento que é o Espirito. Aqui não cabe mais infantilidade, crise de insatisfação, rebeldia com a tradição e com os costumes que a escritura apresenta como reflexo do caráter de Deus, a saber a lei moral é o resplendor do caráter de Deus.

Que o desafio cristão entendido por uma perspectiva reformada calvinista da vida possa encontrar espaço em meio a um mundo de apostasia e ateísmo prático cristão dos dias atuais. 

Soli Deo Gloria 

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